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Biografia de ex-diretor da PIDE ignora assassinato de Humberto Delgado

(dr) RTP

O general Humberto Delgado.

O assassinato de Humberto Delgado é deixado fora de uma nova fotobiografia sobre o último diretor da PIDE, Fernando Silva Pais.

Uma nova fotobiografia do último diretor da PIDE/DGS, Fernando Silva Pais, vai ser lançada na próxima quinta-feira, dia 24 de novembro. O livro intitulado “Silva Pais. Fotobiografia” é da autoria de João Pedro Teixeira e conta com quase 300 páginas.

Segundo o Expresso, a apresentação do livro vai decorrer no Palácio dos Marqueses de Lavradio, no Campo de Santa Clara, em Lisboa. Este local já foi casa do Tribunal Militar, onde Silva Pais foi julgado pelo seu envolvimento no assassínio de Humberto Delgado.

Na altura, o Tribunal Militar considerou que Silva Pais ordenou o assassinato do general Humberto Delgado e da sua secretária Arajaryr Moreira Campos.

Apesar de este acontecimento marcar inevitavelmente a vida de Fernando Silva Pais, o assassinato de Humberto Delgado é deixado fora da fotobiografia.

O nome de Delgado não é mencionado, assim como o crime que o vitimou, em 1965. O general morreu às mãos de uma brigada da PIDE, no âmbito da chamada Operação Outono, orquestrada por Silva Pais.

A brigada da PIDE foi chefiada pelo inspetor Rosa Casaco e um homem de mão, Casimiro Monteiro, que assassinaram em Espanha o general e a sua secretária, Arajaryr Moreira Campos.

Silva Pais reunira-se com Casaco para discutir a operação, mas a ditadura negou depois qualquer responsabilidade no crime, nota a RTP.

Na altura, e de conluio com a polícia espanhola, a versão oficial de Lisboa fora a de um homicídio cometido pela própria oposição, devido a divergências internas.

Já depois do 25 de Abril, a defesa de Rosa Casaco argumento que, afinal, tinha-se tratado de um homicídio involuntário. A PIDE pretenderia apenas deter Delgado, que teria resistido à detenção e obrigado Casimiro Monteiro a disparar.

Mais tarde, o relatório da autópsia do general refere que a morte foi provocada por um objeto contundente e não por um disparo, sugerindo que houve o cuidado de não usar uma arma de fogo para não alertar os vizinhos com o ruído de tiros.

A apresentação do novo livro está a cargo do historiador Humberto Nuno de Oliveira, que se diz “um incondicional admirador do Estado Novo inicial”. De acordo com o Expresso, o antigo professor da Universidade Lusíada considera que “a antiga censura era mais clara que a difusa censura do politicamente correto hoje vigente”.

A principal fonte da fotobiografia é o espólio que pertencia à viúva do ex-diretor da PIDE/DGS, Armanda Palhota da Silva Pais, sublinha o semanário.

Conhecido como o “General Sem Medo”, Humberto Delgado foi um dos militares que apoiou o golpe de 1926. Nas eleições presidenciais de 1958 surgiu como o candidato que reuniu todas as oposições ao Estado Novo. Acabaria por perder as eleições, com a oposição a acusar o regime de fraude na contagem dos votos.

Daniel Costa, ZAP //

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