O vírus “Rapunzel” tem uma cauda gigante. Finalmente sabemos como

Leonora Martinez-Nunez

Ilustração do P74-26

O vírus “Rapunzel” tem a cauda mais longa de qualquer vírus conhecido e, estranhamente, a mais estável também.

Um recente estudo publicado no Journal of Biological Chemistry revelou o segredo por trás de uma maravilha evolutiva: um bacteriófago com uma cauda extremamente longa. Um bacteriófago, mais conhecido por apenas fago, é um ser acelular pertencente ao grupo dos vírus, que infeta apenas bactérias.

O vírus em questão é chamado de P74-26, embora seja mais coloquialmente conhecido como o vírus “Rapunzel”. O nome é referente à história vida da jovem de longos cabelos dourados, aprisionada no alto de uma torre por uma bruxa. A história foi adaptada para os cinemas pela Disney, em 2010, no filme “Entrelaçados”.

Tal como a personagem dos contos, o P74-26 tem uma cauda que se destaca dos demais. Com quase um micrómetro de comprimento, a cauda é dez vezes mais longa que a maioria dos outros fagos, escreve o ScienceAlert. Tem a cauda mais longa de qualquer vírus conhecido e, estranhamente, a mais estável também.

Comparação da cauda de P74-26 com a de outro fago.

O vírus vive em fontes termais inóspitas e alimenta-se de algumas das bactérias mais resistentes do planeta, como a Thermus thermophilus. As caudas destes vírus são importantes para perfurar as bactérias. É precisamente a cauda do vírus “Rapunzel” que permite que invada e infete os microrganismos mais resistentes.

Os cientistas desvendaram agora a estrutura única da cauda de P74-26. As simulações de computador revelaram uma “rede altamente entrelaçada de interações” que se coordenam para construir a cauda.

“Ao tirar muitas fotos dos tubos da cauda do fago e compilá-las, conseguimos descobrir exatamente como é que os blocos de construção se encaixam”, explica a microbióloga, Emily Agnello, autora principal do novo estudo.

Agnello e os seus colegas queriam perceber como é que o vírus conseguia sobreviver a ambientes tão extremos. As águas termais conseguem atingir temperaturas de mais de 77º C.

“A cada cauda de fago é composta por muitos blocos de construção pequenos que se juntam para formar um tubo longo. O nosso estudo descobriu que esses blocos de construção podem mudar de forma conforme se juntam”, disse a investigadora, em comunicado citado pela ScienceDaily.

O bioquímico Brian Kelch, coautor do estudo, diz que a equipa de investigadores acha que o que aconteceu em P74-26 é que algum vírus antigo fundiu os seus blocos de construção numa proteína.

“Imagine dois pequenos blocos de Lego fundidos num grande tijolo sem costuras. Esta cauda longa é construída com blocos de construção maiores e mais resistentes. Achamos que isso poderia estabilizar a cauda em altas temperaturas”, explicou o cientista.

Embora o tamanho da cauda do vírus “Rapunzel” lhe dê um grande poder para penetrar nas bactérias, também leva a que haja mais chances de a montagem da cauda dê errado. Os cientistas acreditam que o vírus tenha mecanismos internos que mantêm a cauda em desenvolvimento no caminho certo.

Daniel Costa, ZAP //

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