As viagens espaciais podem prejudicar o funcionamento da robusta barreira celular que reveste o nosso intestino para impedir que bactérias, fungos e vírus invadam o resto do corpo.
As células epiteliais que revestem o nosso intestino são uma espécie de barreira que impede bactérias, fungos e vírus de invadir o nosso corpo.
Uma equipa de cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, descobriu recentemente que a microgravidade simulada interrompe o funcionamento da barreira epitelial, mesmo depois de o corpo já não estar inserido num ambiente de microgravidade. Esta descoberta não é propriamente feliz para os astronautas.
Estas descobertas influenciam o entendimento que os cientistas têm acerca dos efeitos das viagens espaciais na função intestinal dos astronautas, assim como “a sua capacidade de suportar os efeitos de agentes que comprometem a função da barreira epitelial intestinal depois de retornarem à Terra”, explica Declan McCole, que liderou o estudo.
As desvantagens do ambiente de microgravidade são já conhecidas – estudos anteriores revelaram que as estadias no Espaço enfraquecem o sistema imunológico humano. Contudo, este é o primeiro estudo a provar que “um ambiente de microgravidade torna as células epiteliais menos capazes de resistir a efeitos de um agente que enfraquece as propriedades dessas mesmas células”.
Segundo os investigadores, citados pelo Phys.org, este efeito manteve-se até 14 dias após a remoção do ambiente de microgravidade simulado para o efeito.
A equipa de cientistas da universidade norte-americana estudou em particular o agente indutor de permeabilidade acetaldeído, um metabólito do álcool. McCole explicou que o álcool compromete a função de barreira e aumenta a permeabilidade gastrointestinal em indivíduos normais e em pacientes com doença hepática alcoólica.
A ausência desta função de barreira é preocupante segundo o investigador, uma vez que compromete o intestino, levando ao aumento da permeabilidade ou ao vazamento – que, por sua vez, pode aumentar o risco de infeções e condições inflamatórias crónicas, como doença celíaca ou diabetes tipo 1.
Os cientistas usaram um biorreator que manteve as células num ambiente de rotação controlada, capaz de simular a ausência de gravidade.
A equipa descobriu que, 18 dias após o início da experiência as células epiteliais cultivadas apresentaram uma formação retardada de “junções estreitas“, um complexo proteico que conecta as células epiteliais individuais, necessário para manter a impermeabilidade. As conclusões da investigação foram publicadas no dia 26 de novembro na Scientific Reports.
“As nossas descobertas têm importantes implicações na nossa compreensão dos efeitos das viagens espaciais na função intestinal dos astronautas no Espaço. Além disso, elucida-nos sobre a sua capacidade de resistir aos efeitos de agentes que comprometem a função da barreira epitelial intestinal após o seu retorno à Terra”, concluiu o professor McCole.