O que une Ventura e Sócrates. A nova “teia” do Chega

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José Coelho, António Cotrim / Lusa

André Ventura a fazer lembrar a frase “Manso é a tua tia” de José Sócrates. Chega tenta aproximar-se de eleitores de esquerda e direita.

O Chega deverá ser o partido com maior subida no número de votos, em pontos percentuais, comparando as eleições legislativas de 2022 e as próximas, de Março de 2024.

Esse “salto” já foi óbvio nas últimas legislativas: 7,18% dos votos e 12 deputados, quando em 2019 o Chega tinha conseguido 1,29% dos votos e somente um deputado.

Em números absolutos, o partido passou de quase 68 mil votos para praticamente 400 mil votos.

Mas André Ventura quer mais. O líder mostra ambição para o dia 10 de Março e quer ter mais votos do que a Aliança Democrática, que junta PSD, CDS e PPM.

Para isso, a “teia” do Chega está a tentar chegar aos dois lados: direita e esquerda.

Reforços de PSD e IL

Começando pela direita. O caso António Maló de Abreu marcou os últimos dias. O deputado anunciou a saída do PSD e, horas depois, surgiu a possibilidade de rumar ao Chega. Já negou esse cenário, entretanto.

Ventura, não comentando directamente esse processo, admitiu que o Chega vai ter antigos (ou actuais) militantes de PSD.

E a “pesca” à direita não se deve ficar por aí, já que o seu partido também deverá contar com reforços provenientes da Iniciativa Liberal – algo que deve ficar esclarecido na convenção nacional do partido, que começa hoje, sexta-feira, em Viana do Castelo.

É por aqui – e não só – que o Chega tenta convencer e atrair eleitores habitualmente de direita, mas que estão insatisfeitos com PSD, IL ou CDS. Ou com todos.

Aproximar-se do PS

A aproximação à esquerda surge mais no discurso. Pode parecer surpreendente, mas a moderação no discurso de André Ventura desde o dia 7 de Novembro é uma forma de se aproximar, não só de eleitores do PSD, mas também de habituais apoiantes do PS.

Se repararmos, o líder do Chega deixou de falar sobre ciganos, por exemplo. Agora foca-se, e vai continuar a focar-se nos pensionistas e nos funcionários públicos.

Em parte, o eleitorado do Chega pode ser o eleitorado do PS – e há sondagens que mostram que o Chega está a tirar votos ao PS.

Isto num contexto em que o Chega e André Ventura agradecem estas eleições antecipadas: o Governo caiu por causa de suspeitas de corrupção, um dos temas preferidos do partido.

Aproximar-se de Sócrates

Filipe Luís, editor executivo da revista Visão, acrescenta mesmo que, além da aproximação ao PS, é visível uma aproximação a José Sócrates. Também no discurso.

No geral, a postura parlamentar mais “quente” já costuma ligar Ventura a Sócrates, mas aqui há um contexto novo.

Nesta quinta-feira, durante um debate sobre a situaçao na Global Media, o Bloco de Esquerda chamou “mentiroso” a André Ventura; o líder do Chega reagiu com: “Mentirosa é a tua tia, pá!”.

Recordemos 2010, quando Francisco Louçã – também do Bloco de Esquerda – disse no Parlamento que o então primeiro-ministro José Sócrates estava a ter um discurso “mais manso” nos últimos tempos (tal como agora, com Ventura) e Sócrates afirmou “Manso é a tua tia, pá!” (tal como agora, com Ventura).

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

7 Comments

  1. Porque ousou falar do problema de uma comunidade ou do descontrolo da imigração foi rotulado como extrema direita e neonazismo. Agora porque utilizou uma expressão com alguma semântica com a proferida por um ex-lider do PS, o chega tem uma teia montada e tal como um bicho papão vai caçar os inocentes da direita a esquerda. A teia existe de facto e há muitas décadas dominando os média, institutos, policias etc… é tão grande e velha que mesmo quando limpa sobra sempre grandes áreas.

  2. Ventura patriota? – Patriota sou, que andei no guerra colonial, a defender o quê? . Um Portugal que está formado e continua a ser formatado, para covil de comentadores desportivos, populistas e outros que tais. Estamos entregues á bicharada. Chega de demagogia barata e “cantada” em voz alta, vulgo, gritos! -..chega pra lá!!!

  3. Concordo plenamente com o Joe, só quem é cego é que não vê ou não quer ver. Não vejo como é que o Partido é de extrema-direita, mas, claro, é mais fácil para os outros partidos e jornalistas o rotularem assim quando não têm mais argumentos, não é? Os media e os políticos só querem assustar o povo e os politicamente corretos que não querem ser apelidados de apoiantes de extrema-direita, mas na verdade não vejo esse tipo de radicalismo no Chega. O que vejo é, o Partido a enfrentar e dar o nome a problemas que de facto existem, mas que os outros partidos preferem varrer para debaixo do tapete porque ou são assuntos “delicados” ou difíceis de resolver, não vá também afetar a hipócrita sensibilidade de algumas pessoas.

  4. Não há dúvida que a família de Mariana Mortágua virou vedeta, nesta campanha. Só faltava mesmo aparecer a tia! Não é que ela defenda aquela trilogia tão famosa de : ” Deus, Pátria e Família”! Seria muito mais lógico que outro tipo de candidatos o fizessem. O que é um facto é que, no ano em que se celebra o 50º aniversário do casamento da democracia com o povo português, se está à beira de assistir a um divórcio e parece-me que, neste caso, a culpa é dela! O povo, cansado dos deslizes “dela,” está à beira de cometer uma loucura, partindo para uma nova relação que nada de bom augura! Cuidado Zé! Não queiras ir de mal para pior! Já passaste muito para aqui chegar! Esta frase faz-me lembrar -te um verso de Zeca Afonso: ” O que eu andei pr`aqui chegar”!! Lembremos os nossos cantores de Abril e o esforço que todos fizeram para nos ajudarem a livrarmo-nos do jugo da ditadura.

  5. Peço muita desculpa ao José Mário Branco por ter atribuído a autoria dos seus versos : ” Eu vim de longe, de muito longe, o que eu andei para aqui chegar! ” a Zeca Afonso. O seu a seu dono! Aqui fica a minha homenagem a estes dois saudosos cantores de Abril!
    Estes versos ficariam bem na boca de qualquer deles. Que seja sempre lembrada a sua obra!

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