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Vacinação de crianças divide peritos. Mas sem a inoculação dos mais novos a imunidade pode não chegar

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Na sexta-feira, a Direção-Geral de Saúde anunciou que recomenda que a vacinação contra a covid-19 de jovens dos 12 aos 15 anos com comorbilidades. No entanto, o tema está a gerar controvérsia e divide opiniões de especialistas.

De acordo com o anúncio feito por Graças Freitas, diretora-geral da Saúde, no dia de ontem, só as crianças que têm doenças de risco para a covid-19 – as chamadas comorbilidades – é que passam a ser prioritárias na vacinação.

No que diz respeito aos restantes jovens entre os 12 e os 15 anos, a DGS referiu que precisa de mais informação para decidir, principalmente no que toca aos casos de inflamação cardíaca (miocardite e pericardite) detetados em adolescentes após a toma da vacina da Pfizer e da Moderna.

Segundo Graça Freitas “ainda não há tempo para saber se há miocardites e pericardites na União Europeia”, sustentou depois de anunciar a decisão.

Contudo, este argumento não é válido na perspetiva de Nuno Vale.

O investigador de farmacologia explicou ao Expresso que os casos de inflamações cardíacas foram muito raros, destacando ainda que tanto a vacina da Pfizer como a da Moderna foram aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA).

Neste sentido, o especialista considera que dizer que faltam mais da UE contradiz as duas aprovações da agência europeia. “Temos indicação da EMA de que as crianças entre os 12 e os 15 podem ser vacinadas, não é que devem, mas que podem ser vacinadas. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças [CDC] dos EUA também foi claro no comunicado que fez”, realça.

De recordar que o fármaco da Pfizer para menores dos 12 aos 15 já foi aprovado no final de maio pela Agência Europeia de Medicamentos. Os resultados dos testes clínicos mostram que a vacina é eficaz nesta faixa etária e não levanta “grandes preocupações” quanto a possíveis efeitos secundários.

Na última sexta-feira, a EMA também aprovou o imunizante da Moderna para jovens dos 12 aos 17 anos, depois de concluir que a resposta de anticorpos produzida nesta faixa etária é comparável à do grupo imediatamente a seguir, dos 18 aos 25 anos.

Por exemplo, nos Estados Unidos, “o CDC recomenda que todas as pessoas com 12 anos ou mais devem receber uma vacina para ajudar a proteger contra a covid-19”, pode ler-se na página oficial da agência de saúde.

Por existirem vários dados que provam que as vacinas são seguras, Nuno Vale diz que o parecer da Direção-Geral da Saúde “custa a aceitar, não é sensato”.

Para o matemático Carlos Antunes, a decisão da DGS de não vacinar uma grande percentagem da população abaixo dos 16 anos coloca em causa a possibilidade do país atingir a imunidade de grupo.

“Com a impossibilidade de vacinar 100% das pessoas com 16 anos ou mais e com apenas a franja dos jovens dos 12 aos 15 com comorbilidades (cerca de 1%), não será possível chegar aos 85% de cobertura vacinal”, a meta fixada para que Portugal atinja supostamente a imunidade de grupo.

Esta visão é partilhada por Nuno Vale que avisa que estar a fragmentar a população para que uma parte não seja vacinada pode ser um erro. “Sabemos até de experiências anteriores que com a covid-19 é melhor não arriscar e ver o que acontece, principalmente nas crianças.”

Por outro lado, aguardar por mais dados científicos na União Europeia é uma decisão “prudente”, considera Paulo Paixão, presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia.

O especialista destaca que desta forma se “ganha mais tempo e vamos sabendo mais dados”, afirma. Por isso, apesar de ser a favor da vacinação universal dos 12 aos 15, não acha que a decisão seja errada nesse sentido.

Ainda assim, o virologista pede uma maior transparência, sugerindo a publicação de um relatório detalhado que pudesse ser consultado, com os dados em que foi baseada a decisão, para saber como é que se chegou a esta conclusão.

Apesar da posição tomada pela DGS, a Madeira começa este sábado a vacinar contra a covid-19 jovens a partir dos 12 anos, numa altura em que mais de metade da população adulta residente no arquipélago já está inoculada com a segunda dose. Os Açores ainda não têm previsão.

ZAP //

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2 Comments

  1. Cada cabeça sua sentença, que está tudo cada vez mais uma trapalhada lá isso é verdade, que o número de casos aumenta todos os dias também!

    • Aumentar o número de casos, não significa doença, tentar vacinar as crianças com o objectivo de proteger os adultos ou tentar atingir a imunidade de grupo para satisfazer os matemáticos vai contra os princípios básicos dos direitos da criança.

      O princípio 7 diz claramente:
      “ O interesse superior da criança deve ser o princípio directivo de quem tem a responsabilidade da sua educação”

      Uma vacina que tem um risco de criar problemas cardíacos em crianças deve ter uma decisão mais ponderada tendo em conta o interesse superior da criança e não do resto da sociedade.
      Nos adultos o risco mínimo de problemas cardíacos é um mal menor sendo que o risco de morte por doença resultante da infeção é bastante superior.

      No entanto o risco de morte ou doença prolongada em crianças sem comorbilidades é praticamente nulo, na realidade existem mais casos de problemas cardíacos por vacina do que óbitos nas crianças, e tendo em atenção que houve mais crianças com infeção do que crianças vacinadas, pode-se esperar ainda mais casos a serem detectados now próximos meses.

      Ter ainda em conta que o certificado verde obtido através de vacinação, ao ser obrigatório leva a discriminação.
      Uns vão poder entrar em restaurantes e outros estabelecimentos com um passe verde enquanto outros por decisão dos pais em respeitar o princípio 7 dos direitos da criança vão acabar sendo descriminados ao não poderem entrar sem um teste a cada 2 dias.
      Isto acaba por ir contra o princípio 10:
      “ A criança deve ser protegida contra as práticas que possam fomentar a discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza.”

      Mas enfim, a sociedade parece estar preparada para perder todos os direitos adquiridos ao longo das últimas décadas por medo de um vírus.

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