No seu habitual espaço de comentário televisivo, Luís Marques Mendes falou das culpas dos países ricos sobre a nova variante da covid-19 e dos resultados das eleições directas no PSD.
Apesar da divisão entre os especialistas, a recomendação da vacina para as crianças entre os 5 e os 11 anos por parte da Comissão Técnica de Vacinação (CTV) para a covid-19 deve mesmo avançar, segundo Marques Mendes.
No seu habitual espaço televisivo na SIC, o comentador afirmou que apesar do grupo de trabalho que apoia a Direcção-Geral da Saúde (DGS) na vacinação de menores não aprovar a medida, esta deve avançar e que a CTV e a DGS “vão seguir a recomendação internacional da EMA”, já que “os benefícios” superam “os riscos”.
“Claro que há divergências, como já houve na vacinação dos 12 aos 18 anos. As crianças não são as mais afetadas pelo vírus, sobretudo em doença severa, mas são transmissoras e o vírus está cada vez a incidir mais sobre as crianças“, afirmou Marques Mendes, que sublinha que a morte de uma criança é “sempre mais traumática e dramática” do que a de um idoso.
Ainda sobre a vacinação, o comentador diz que é “muito provável” que os menores de 65 anos venham a receber uma terceira dose “a partir dos 40 ou 50 anos”. Para esta decisão, falta o parecer da CTV, que só deve ser anunciado após a decisão sobre as crianças e que só deve arrancar depois de se dar a dose de reforço aos maiores de 65 anos e a quem tomou a vacina da Janssen.
Marques Mendes considera também confusa a decisão da DGS de ainda não ter dado a terceira dose às pessoas com factores de risco abaixo dos 65 anos. “A DGS deu prioridade ao factor idade. É o que mais pesa nas hospitalizações e mortes. Mesmo assim, a DGS está a fazer uma reavaliação desta situação. Difícil de compreender que tenha tido prioridade antes e não agora”, refere.
Ainda sobre a vacinação, há motivos para estarmos optimistas, já que a “terceira dose está a acelerar” e que o “objectivo de 1,6 milhões em 19 de Dezembro está ao alcance” e porque a “vacinação de jovens entre os 12 e os 18 anos está em valores especialmente elevados”, estando 89% já completamente imunizados.
Já sobre as novas medidas anunciadas pelo governo, o ex-ministro considera que são “equilibradas, sensatas e razoáveis” e que o executivo esteve bem na decisão e nas explicações. No entanto, há ainda uma grande dúvida sobre o futuro devido à nova variante Omicron.
“É uma variante ainda pouco conhecida dos especialistas, mas está a suscitar um pânico generalizado: nas bolsas, nos governantes, nos responsáveis da saúde. Em toda a gente e em todo o lado. Pode não ser uma variante mais letal que todas as outras. Mas há o risco de ser mais contagiosa e transmissível”, refere.
Marques Mendes também não pouca críticas aos países mais ricos, que têm açambarcado as vacinas. “Há meses que digo que, em termos pandémicos, África é uma bomba-relógio“, começa, lembrando que a nova variante nasceu neste continente, que é o que tem a menor cobertura vacinal, estando apenas 7,2% da população totalmente imunizada, o que leva a um risco de novas variantes “enorme”.
“Os países ricos e desenvolvidos andam a brincar aos egoísmos nacionais. Se abrissem os cordões à bolsa e fizessem aos países mais pobres e subdesenvolvidos as doações de vacinas que se impõem, nada disto acontecia. Os países ricos estão a falhar duplamente: na solidariedade e na saúde pública”, critica.
A grande vitória de Rui Rio
Sobre as eleições no PSD, o conselheiro de Estado saúda a “grande vitória política e pessoal de Rui Rio”, que ganhou ao “aparelho partidário”. “Pode haver muitas explicações para esta vitória, mas a principal é esta: venceu a lógica do poder. O PSD é um partido pragmático e de poder. Vota naquele que em cada momento considera que lhe dá mais garantias de chegar ao poder”, considera.
Esta “lógica do poder” favorecia Rui Rio, já que as sondagens diziam que era o preferido dos portugueses para ser candidato a primeiro-ministro e o melhor posicionado para vencer António Costa.
A colagem de Rangel “ao aparelho”, que “não é popular nem nas bases do partido nem no país”, também ajudou Rio, que se mostrou como o candidato que “representava o país”.
“As sondagens, nestes momentos, têm muita força. Os militantes tendem a seguir o sinal que vem dos portugueses. Já foi assim em 2014, na disputa no PS entre Seguro e António Costa. Seguro tinha o aparelho. Costa tinha as sondagens. Ganhou“, lembra Marques Mendes.
Rio foi também “mais eficaz” que Rangel ao enquadrar a eleição no “ponto que mais lhe convinha”, que era a escolha do “melhor candidato a primeiro-ministro” e não do “melhor líder da oposição”.
“Goste-se ou não, teve uma mensagem clara. Desde logo, na questão da governabilidade. Se ganhar, governa; se perder viabiliza quem governa. A clareza ajuda. Ou seja: Se não houvesse eleições legislativas à porta, provavelmente Rangel ganharia. É mais visto como líder da oposição. Só que o tempo era outro. As eleições antecipadas favoreceram Rui Rio”, remata.
O líder do PSD vai agora para as legislativas com uma “posição reforçada” com a ideia de que ganha “contra tudo e contra todos”. “Ironia das ironias: se estas directas tivessem sido adiadas, como queria Rui Rio, a sua posição perante António Costa estaria diminuída. Mesmo que perca as legislativas, evidentemente não tem que sair nem ninguém vai exigir a sua saída ou demissão“, comenta.
Já as legislativas de 30 de janeiro continuam “muito em aberto” e “não são favas contadas” para o PS. Marques Mendes acha também que o primeiro-ministro estará agora “arrependido” por não ter feito uma remodelação a seguir à presidência portuguesa da União Europeia.
Sobre a questão interna do Chega com o governo dos Açores, Marques Mendes compara a “chico-espertice” de André Ventura à de António Costa quando se trata de “dar a volta a situações difíceis”. “Primeiro, Ventura queria derrubar o Governo; depois, foi desautorizado pelo seu deputado regional; agora, promove o deputado a Vice Presidente para tentar mostrar que está tudo no melhor dos mundos”, afirma.
Finalmente, sobre as eleições alemãs, o comentador lembra as bandeiras deste novo governo, como o aumento do salário mínimo, a redução da idade para votar para oa 16 anos, a legalização da cannabis ou a aposta nas energias renováveis.
“Há também um dado estatístico com significado político: na Alemanha a estabilidade é mesmo levada a sério. Só 3 líderes – Konrad Adenauer, Helmut Kohl e Angela Merkel – são responsáveis por 46 anos de governação. Adenauer, 14 anos no poder; Kohl, 16 ; Merkel, outros 16. Que diferença em relação a Portugal. Aqui, nos últimos 46 anos, tivemos 14 PM”, remata.
Como é costume, daqui a pouco, baixinho está a dizer o contrário disto com a maior naturalidade do mundo!…
Como é que um advogadozeco que faz de comentador (e que só diz disparates) tem tanto destaque é que ainda não consegui perceber…