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Uma dose de vacina pode ser o suficiente para quem já esteve infetado com covid-19

Sanofi Pasteur / Flickr

Novos dados indicam que quem esteve infetado com covid-19 responde à primeira toma da vacina com níveis de anticorpos comparáveis às quantidades observadas após a segunda dose em pessoas que não estiveram doentes.

O caso da americana Shannon Romano mostra bem o que relatam os muito estudos conhecidos esta semana – que ainda aguardam avaliação pelos pares.

A norte-americana foi diagnosticada com covid-19 em março do ano passado e revela ao jornal New York Times que teve sintomas bastantes fortes.

No início deste mês, quando se tornou elegível para receber a vacina contra a covid-19 – uma vez que é profissional de saúde – compareceu. Contudo, dois dias após a injeção, estava com sintomas muito semelhantes aos que teve quando esteve infetada, mas recuperou rapidamente.

Shannon assume que ficou surpreendida pela intensa reação do seu corpo – porque gerou uma resposta do sistema imunitário semelhante a quem já tomou as duas doses sem nunca ter estado doente.

Essa é a principal conclusão de um dos estudos divulgados no início da semana, no qual se detalha que pessoas anteriormente infetadas com covid-19 relataram mais sintomas como fadiga, dores de cabeça e musculares após a toma da primeira dose da vacina do que aquelas que nunca tinham sido infetadas.

Com base nestes resultados, os autores dos estudos estão agora a defender que as pessoas que já tiveram covid-19 podem precisar apenas de uma dose da vacina.

“Estamos absolutamente convencidos de que uma dose é suficiente”, comentou Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina de Icahn, no Monte Sinai, e autor do estudo, citado pelo diário americano, antes de sublinhar que “a confirmar, isto não só pouparia as pessoas de dores evitáveis como permitia uma poupança de doses que podem ser destinadas as outras”.

No entanto, esta opinião não é unânime. John Wherry, diretor do Instituto de Imunologia da Universidade da Pensilvânia, salienta um aspeto importante: é que as pessoas com casos mais ligeiros de covid-19 poderão ter níveis de anticorpos mais baixos e assim ficar sem proteção contra variantes mais contagiosas do vírus. Além disso, dado o enorme volume de assintomáticos, “poderá ser difícil identificar todas as pessoas anteriormente infetadas”.

A comunidade científica garante que os efeitos secundários após a vacinação são relativamente esperados e não surpreendentes. São a prova de que o sistema imunitário está a preparar uma resposta e que assim estará melhor preparado para combater uma infeção se o corpo entrar em contacto com o vírus.

Das vacinas aprovadas, é consensual que tanto a da Pfizer/BioNtech com a da Moderna são particularmente boas a provocar uma resposta forte, pois uma grande percentagem de participantes nos ensaios das duas farmacêuticas relatou dores no local da injeção e alguma fadiga e dores de cabeça.

Agora, os resultados conhecidos também sugerem que a maioria das pessoas experimenta os piores efeitos secundários após a segunda injeção.

É o caso de Susan Malinowski que também esteve infetada com o SARS CoV-2 em março passado e que sentiu igualmente o corpo sob ataque depois de ter recebido a vacina da moderna.

Pablo J. Sánchez, do Instituto de Investigação do Hospital Infantil Nationwide em Columbus, no estado americano do Ohio, é outra voz a assumir que também já lhe chegaram relatos semelhantes – o que o leva a sugerir que isso passe a ser tido em conta quando se determina quem é elegível para vacina.

No twitter, Akiko Iwasaki, uma imunologista da Escola de Medicina de Yale, está a dizer o mesmo: “as pessoas que tiveram covid parecem estar a reagir à primeira dose como se fosse uma segunda dose”. Portanto, uma dose é “provavelmente mais do que suficiente”.

A questão está já a ser avaliada pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) americano, segundo confirmou já Tom Shimabukuro, do comité que, naquele organismo acompanha as vacinações. “Estamos a reunir mais informações”, rematou.

ZAP //

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