A invasão da Ucrânia pela Rússia deixou as ilhas Åland particularmente vulneráveis. Outrora considerado um “farol de paz”, o arquipélago no Mar Báltico está agora a debater a possibilidade de reverter o seu estatuto desmilitarizado.
Rodeadas de mar e cheias floresta, as idílicas ilhas Åland, na Finlândia, são um cenário de paz profunda e tranquilidade.
Essa tranquilidade está agora sob ameaça. Perante a invasão russa da Ucrânia, as “ilhas mais cooperantes da Europa” tornaram-se o ponto fraco da NATO no conflito latente contra Vladimir Putin, conta a The Week.
O arquipélago autónomo, com 6700 ilhas, “que se estende no meio do Mar Báltico”, pertence oficialmente à Finlândia, mas os seus habitantes falam sueco.
O local está “coberto de cabanas de pesca de madeira e de barracas de sauna”, e até há pouco tempo era frequentemente elogiado pela sua serenidade, que oferece uma existência “sem pressas” aos ilhéus.
Mas a invasão da Ucrânia pela Rússia complicou esta “existência sem pressa” dos ilhéus, que têm agora “preocupações crescentes” com a sua posição geo-estratégica como “porta marítima crucial” e com potenciais ameaças às rotas marítimas, que valem 160 mil milhões de dólares por ano.
A Finlândia tornou-se recentemente membro da NATO. Segundo alguns analistas, a “configuração invulgar” do arquipélago torna-o a “maior vulnerabilidade” do país nórdico, oferecendo à Rússia, que reclama direitos na região, um “campo aberto”, caso decida avançar com uma invasão.
Estes receios já transformaram a vida dos guardas costeiros do arquipélago, cujo papel passava essencialmente por “inspecionar barcos de recreio e talvez pescar um turista bêbado”.
Agora, estão em alerta permanente para potenciais espiões ou sabotadores russos. “Tudo se tornou mais intenso“, conta um deles ao The Telegraph.
Responsáveis militares suecos acreditam que Putin “tem os dois olhos na ilha sueca de Gotland, e provavelmente também nas ilhas Åland”. E, numa declaração conjunta recente, diplomatas britânicos e bálticos afirmam que a Rússia pode, em de alguns anos, “passar da guerra na Ucrânia para uma invasão existencial do Mar Báltico“.
Este conjunto de circunstâncias abriu um debate sobre se as ilhas devem mudar o seu estatuto de espaço desmilitarizado.
Vulnerabilidade peculiar
As ilhas Åland estão desmilitarizadas desde 1856. Sem defesas, o arquipélago, que controla o acesso ao Golfo da Finlândia e ao Golfo de Bótnia, representa uma “vulnerabilidade peculiar” no Báltico, diz o The Times.
Há quem peça que as ilhas sejam remilitarizadas, como a Suécia fez com Gotland em 2014: reintroduziu um destacamento permanente de tropas, mobilizou uma unidade de blindados e reativou sistemas de defesa aérea.
“O estatuto desmilitarizado só beneficia a Rússia“, diz Pekka Toveri, eurodeputado finlandês do Partido da Coligação Nacional, no poder, e antigo major-general das Forças de Defesa Finlandesas. “Por que razão faríamos algo que beneficia a Rússia nos dias de hoje?”
Há quem descreva as ilhas Åland como o “calcanhar de Aquiles” dos países bálticos, salientando que quem as controlar pode bloquear o acesso marítimo ao Golfo da Bótnia e ao Golfo da Finlândia.
Mas o desmantelamento de camadas de acordos internacionais de desmilitarização seria complexo. As sondagens sugerem que a mudança seria impopular entre a maioria dos 30.000 residentes e é “improvável por agora”.
Segundo o The Telegraph, há pouca vontade de manchar as falésias vermelhas, as estâncias de sauna e as florestas de pinheiros com bases militares ou baterias de defesa aérea.
Os habitantes das ilhas “não precisam de ter medo“, diz Jörgen Pettersson, o presidente do parlamento das Ilhas Åland. “Não vemos razão para estarmos nervosos: até agora conseguimos gerir as tempestades e os imprevistos que aconteceram ao longo dos anos.
Por outro lado, a Finlândia tem histórico de resistência a invasões russas, como aconteceu em 1939-40 e em 1941-44, e particular experiência em dominar “algumas das águas mais difíceis de navegar na Europa”.
Assim, um ataque russo às ilhas Åland “dificilmente acabaria bem“, considera Jyri Lavikainen, investigador do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais e reservista do exército. “Teríamos todo o gosto em ajudá-los a suicidarem-se“.
A solução será: Deixar a Ucrania tomar a enclave russa como moeda de troca
A Rússia invadiu a Ucrânia? Se o fez teve razões para isso.
Não foi invasão gratuita como os EUA e seus vassalos fizeram no Iraque e noutros países. As bombas atómicas deitadas pelos americanos na segunda guerra mundial quando até já decorria o processo de paz mostra bem quem é quem.