Trump foi baleado e continuou exposto. Como pôde isto acontecer?

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David Maxwell / EPA

Donald Trump depois de ter sido atingido a tiro em comício

Lapso na segurança “reforçada” do ex-presidente e candidato republicano está a provocar reações contra os Serviços Secretos. “Prestaram um mau serviço, é impensável não ter dois ou três drones no ar para vigiar tudo o que se passa”.

O FBI está a investigar em conjunto com os serviços secretos e com a ATF a tentativa de homicídio do ex-presidente Donald Trump num comício este sábado na Pensilvânia. E ainda há muito por explicar.

‘Como é que isto pôde acontecer?‘ é a pergunta que tem vindo a ser mais colocada pelos vários comentadores e analistas dos órgãos de comunicação.

“Soube imediatamente que algo estava errado (…) ouvi um zumbido, tiros e senti imediatamente a bala a rasgar a pele“, confessou Trump, que foi atingido por uma bala que perfurou a parte superior da sua orelha direita.

Com sangue a escorrer da orelha direita, Trump baixou-se rapidamente depois de ouvir uma voz dizer “baixa-te, baixa-te, baixa-te!”.

O candidato “está bem”, garantiu a sua campanha, mas por pouco.

Depois de se levantar, ainda ergueu o punho após os disparos, mostrando força enquanto era aplaudido pela multidão. “Lutem! Lutem! Lutem!”, gritava Trump enquanto os seguranças tentavam com que fosse rapidamente com eles para o carro.

A verdade é que as medidas de segurança dos Serviços Secretos estão a ser questionadas. O ato do ex-presidente — que lhe deverá trazer, nos próximos dias, muitos votos — fez com que a sua cabeça e peito ficassem expostos durante largos segundos, numa altura em que ainda ninguém sabia se o atirador já tinha sido abatido ou se havia ou não um segundo atirador.

Os seus guarda-costas dos serviços secretos levaram-no do palco até ao carro para ser levado para longe do local, num processo que demorou uns longos dois minutos em que Trump esteve exposto, muito mal coberto pelos elementos da sua segurança.

Trump até pediu mais um tempo para poder calçar os sapatos antes de sair do local.

Serviços Secretos sob fogo

“Os Serviços Secretos prestaram um mau serviço”, resume o general Isidro de Morais Pereira na CNN.

Trump, que tem segurança reforçada, uma vez que é ex-presidente e não só candidato, tinha a proteção adicional exigida pelo protocolo de comícios de campanha, garantiram este domingo os Serviços Secretos.

“Há uma alegação falsa de que um membro da equipa do ex-Presidente solicitou recursos de segurança adicionais e que nós os rejeitamos. É absolutamente falso”, assegurou o porta-voz do Serviços Secretos, Anthony Guglielmi.

“Tenho fontes muito confiáveis que me dizem que houve repetidos pedidos de aumento da proteção dos Serviços Secretos para o [anterior] presidente Trump, que foram negados pelo secretário Mayorkas”, escreveu horas antes o congressista republicano Mike Waltz na rede social X.

O bilionário Elon Musk — que até então não se tinha pronunciado sobre quem apoiava na corrida à Casa Branca — recorreu à sua rede social para mostrar o seu “apoio completo” a Trump, mas não só. O fundador da Tesla foi um dos cidadãos norte-americanos que pediu a demissão do líder dos serviços secretos dos EUA.

Vários analistas criticam a ação dos protetores de Trump, especialmente em relação às medidas de segurança no perímetro que permitiram que Thomas Matthew Crookso atirador responsável pelos tiros que atingiram Trump e mataram um participante no comício —subisse a um telhado a cerca de 135 a 150 metros do local do discurso de Trump.

Para o general Isidro de Morais Pereira, “é impensável não ter dois ou três drones no ar para vigiar tudo o que se passa“.

Nestas situações, “é preferível manter a entidade agachada com proteção policial e, até termos a certeza que não há mais nenhum atirador ou ameaça nas redondezas, aí sim fazemos a deslocação”, explica o Intendente Alexandre Vieira na CNN.

“Surpreende-me o facto de não haver equipamento de apoio para a deslocação”, confessa, referindo-se às malas balísticas — mala aparentemente normal que, quando aberta, é capaz de cobrir o alvo na totalidade.

Atirador visto a subir a telhado de prédio próximo

Testemunhas no local dizem ter-se apercebido da presença do atirador no local, a rondar os prédios e a subir aos telhados das proximidades. Dizem ter alertado as autoridades, que não fizeram caso.

Uma testemunha no local disse à BBC que ele e outros participantes “repararam num homem a subir ao telhado de um edifício a 50 metros de distância” com aquilo que era “claramente uma espingarda”. A polícia foi avisada e “não sabia o que se passava”, relatou.

Num vídeo divulgado pela TMZ, em que se vê o momento em que Crooks efetua os disparos, deitado de barriga para baixo no telhado de um prédio, ouvem-se gritos reveladores.

Crooks, o que estás a fazer!?“, diz uma pessoa no local segundos antes dos disparos, o que indica que conhecem o atirador, que foi abatido pouco depois no mesmo local por snipers dos Serviços Secretos dos EUA.

No início de domingo, as autoridades tinham isolado a área em redor da casa de Crooks.

Os veículos dos bombeiros locais bloquearam o acesso durante vários quarteirões, permitindo apenas a entrada de residentes e investigadores. Nas ruas fora dessa área, a vizinhança parecia notavelmente apolítica, sem placas de políticos ou sinais de qualquer candidato político em nenhum dos quintais, descreve o The Washington Post.

A investigação poderá durar meses. Se concluir que o prédio deveria estar a ser vigiado ou que a polícia ignorou avisos dos participantes do comício, alguém poderá “levar com as balas” e ser demitido.

“Neste momento, é mais importante do que nunca que nos mantenhamos unidos e mostremos o nosso verdadeiro caráter como americanos, permanecendo fortes e determinados, e não permitindo que o mal vença”, disse Trump na sua plataforma Truth Social.

Tomás Guimarães, ZAP //

3 Comments

  1. Ainda não sabemos, aparentemente, quanto tempo decorreu entre a subida ao telhado e o disparo. Pelos vistos, foi o suficiente para o atirador disparar, o que põe em causa os serviços de segurança e autoridades. Estranhamente, parece que não teve tempo de fazer um novo disparo, quando Trump ainda estava exposto.

  2. Não disparou mais porque já estava com “UM” no miolo, MAS os serviços secretos “Deixaram” ele disparar uns tiros primeiro e só depois atiraram a matar..
    se intencional ou não.. na altura que todos avistaram o atirador já deviam logo ir ladear trump para o proteger, mas como toda a gente pode ver, só DEPOIS dos disparos é que o fazem.. até em Portugal isso seria condenável quanto mais no EUA onde se treina propriamente para isso

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