Travão no desconfinamento em todo o país. Porto à beira do alerta e Lisboa pode recuar 2 meses

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José Sena Goulão / Lusa

covid, Lisboa

Os números da pandemia de covid-19 “continuam a aumentar”, reconhece Marta Temido numa altura em que o Governo deverá anunciar o travão no desconfinamento em todo o país. Mas a situação em Lisboa é mais grave e pode haver um recuo de dois meses, enquanto o Porto está perto do alerta.

Apesar de a vacinação estar a decorrer a bom ritmo, a pandemia de covid-19 está longe de estar controlada e Portugal volta a viver uma fase de aumento dos números de infecções.

Há especialistas que já vaticinaram que estamos perante a quarta vaga e, por isso, espera-se que o Governo anuncie, nesta quinta-feira, um travão no desconfinamento a nível nacional.

Portugal devia entrar numa nova fase de abertura da economia a partir de 28 de Junho. Mas a evolução da pandemia deverá obrigar a um congelamento no desconfinamento.

Nesse caso, não devem avançar as medidas que estavam previstas, como a abertura dos eventos desportivos ao público, os transportes públicos sem restrições de lotação e as Lojas de Cidadão sem marcação prévia.

Já esta tarde, o governo anunciou que “não haver condições para avançar”, pelo que a Situação de Calamidade vai ser prorrogada, e Portugal recua no desconfinamento.

Cerco a Lisboa deverá manter-se

Mas em Lisboa, onde a situação da pandemia é mais grave, deve até verificar-se um recuo no desconfinamento, com o regresso de algumas das restrições que estiverem em vigor há cerca de dois meses.

“Os números continuam a aumentar” e “levam a sugerir que a situação de Lisboa ainda não esteja ultrapassada”, reconhece a ministra da Saúde, Marta Temido. Por isso, é preciso manter as “medidas específicas” que também foram aplicadas “em outros pontos do país quando estavam em situação de risco especial”.

Temido dá, assim, a entender que o cerco à Área Metropolitana de Lisboa (AML) vai continuar, com as restrições de circulação para fora e para dentro dessa área geográfica aos fins-de-semana.

Essa proibição de circulação deverá, assim, aplicar-se das 15:30 horas de sexta-feira, 25 de Junho, até às 6 da manhã de segunda-feira, 28 de Junho, abrangendo os seguintes concelhos: Lisboa, Amadora, Loures, Odivelas, Oeiras, Cascais, Sintra e Vila Franca de Xira. E, na margem sul, os de Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Setúbal, Sesimbra e Alcochete.

A decisão deverá sair da reunião do Conselho de Ministros desta quinta-feira, mas as medidas para Lisboa podem ser ainda mais restritivas.

O Diário de Notícias (DN) avança que a AML deverá “recuar para os níveis de confinamento que vigoraram a partir de 19 de Abril (e até 3 de Maio)“.

A confirmar-se esse recuo, os restaurantes voltarão a ter que fechar depois do almoço aos fins de semana, os hipermercados só poderão funcionar até às 21 horas durante a semana e até às 19 horas ao fim de semana e feriados. Já o restante comércio só poderá abrir até às 15:30 horas ao fim de semana e feriados.

Além disso, deixará de ser possível haver público em actividades desportivas e as lojas do cidadão só voltarão a ter atendimento presencial por marcação.

Medina quer reavaliação dos critérios de risco

O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, já reconheceu que o recuo no desconfinamento é “o cenário mais provável”, com base na evolução presente da pandemia e nos critérios de risco definidos.

Contudo, Medina considera que esses critérios “devem ser avaliados”, pois diz que a actual matriz de risco “foi definida quando o estado da vacinação era muito mais atrasado do que é hoje”, conforme declarações em entrevista à Rádio Renascença.

“Não podemos ter um nível de condicionamento da vida económica e social exactamente nos mesmos termos quando temos 5% da população vacinada ou quando ultrapassamos os 30% da população vacinada“, aponta o autarca.

Contágio a todo o país e o Porto perto do alerta

Entretanto,  os números revelam que Lisboa já está a contagiar o resto do país, conforme explica à TSF o matemático Óscar Felgueiras que tem participado na definição da estratégia de desconfinamento do Governo.

Esse alegado efeito do contágio de Lisboa ao resto do país está a sentir-se, sobretudo, nas regiões do Algarve, do Alentejo e do Centro, mas também no Norte.

“Tem-se notado um maior aumento recente, principalmente na região do Algarve, onde se duplicou o número de casos na última semana, provavelmente consequência da ponte no feriado de 10 de Junho”, salienta Óscar Felgueiras nesta Rádio.

Mas, “mesmo as outras regiões do país, têm tido crescimentos, nomeadamente o Alentejo de uma forma acentuada e de forma mais ligeira o Centro e o Norte que têm patamares de incidências menores que as regiões do Sul”, destaca Óscar Felgueiras.

No Algarve, o número de casos duplicou em apenas uma semana e registou-se um “aumento acima dos 60% no Alentejo”, conforme aponta o matemático à TSF.

A Rádio realça ainda o caso do Porto que já ultrapassou, no início da semana, a barreira dos 120 novos casos por 100 mil habitantes. A tendência é, portanto, de subida nos números da pandemia, com a segunda maior cidade do país perto de entrar em situação de alerta.

Na semana passada, entraram em situação de alerta 20 concelhos – Alcochete, Águeda, Almada, Amadora, Barreiro, Grândola, Lagos, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Sardoal, Seixal, Setúbal, Sines, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira.

Susana Valente, ZAP //

3 Comments

  1. “Lisboa já está a contagiar o resto do país” Não, não e não!!! São os portugueses (e alguns estrangeiros que entraram em Portugal sem as devidas percauções – testes e quarentena) que estão a contagiar o páis! Ou… Continuam contagiar o país!!! Mas… O Marcelo… Comigo, não há volta atrás!

    “Medina considera que esses critérios “devem ser avaliados”, pois diz que a actual matriz de risco “foi definida quando o estado da vacinação era muito mais atrasado do que é hoje”” Hmmm… Não é o único/a a dizer isso… Dizer esses disparate! Porque… O vírus mudou? O vírus deixou de ser contagiosos? As pessoas vacinadas não têm alguma possibilidade de serem contagiadas? Não! A matriz deveria ser avaliada?… Só se fôr para ser mais rígida! E ainda dizem que se aprendeu muito neste, pouco mais de um ano de pandemia. Ainda se faz pior! Pois… O dinheiro continua a falar mais alto que a saúde de todos.

    • O virus (covid-19) não deixou de ser contagioso, assim como a gripe não passou a benéfica.

      O que aconteceu com a vacina foi que o risco de morte por covid deixou de ser preocupante, assim com os internamentos que aumentaram mas não em flecha e descontrolados.
      Nunca deixamos de conduzir porque temos 2 mortos por dia nas estradas, ou confinamos porque morreu gente por pneumonia.

      O covid não deixou de ser perigoso, mas já não cria o risco que tinha em fevereiro, logo a matriz e os seus critérios devem de ser actualizados.

  2. Estranho… Por um lado dizem que vão recuar, mas a legislação que vai sendo publicada, da autoria do governo, diz exatamente o contrário. Ainda recentemente o governo revogou um conjunto de medidas que tinham sido criadas precisamente para conter a pandemia. Em que ficamos? Há alguém a governar o país ou estamos por nossa conta?

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