“Trapalhadas” de Pedro Nuno e o “tabu” de Montenegro: o duelo dos grandes à lupa

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ZAP // Miguel A. Lopes, António Cotrim / Lusa

75 minutos tensos com habitação, saúde, educação, salários e dois “fantasmas” à mistura. Próximas duas semanas de campanha serão fundamentais para desempatar.

Debate nervoso e marcado por várias interrupções com um Pedro Nuno Santos mais solto e confiante perante um Montenegro mais tenso e fervoroso.

No frente a frente mais antecipado antes das legislativas antecipadas de 10 de março, com lugar no cineteatro Capitólio, em Lisboa, todos os grandes temas — e até dois “fantasmas” — estiveram em cima da mesa.

Logo no arranque, o líder do PSD perdeu muito tempo e, ao longo do debate, a mostrou-se incapaz de oferecer respostas claras e concisas — como ao “tabu” da maioria governativa. “Ferveu em pouca água” ao ceder às provocações de Pedro Nuno, que lhe “apanhou” uma mentira e o atingiu com referências à sua inexperiência governativa.

Numa noite incontornavelmente marcada pelo enorme protesto da PSP e GNR à porta do Capitólio, onde debateram os dois líderes, Montenegro arrancou logo de pé esquerdo ao não ser concreto relativamente à autoridade do Estado, ficando-se pela crítica à “injustiça que foi criada por este governo” socialista e pela promessa de negociações como prioridade.

Já Pedro Nuno assumiu o papel autoritário: “Não se negoceia sob coação”, avisou, lembrando que que há “disponibilidade total para chegar a acordo”, mas “com respeito pela ordem e pela segurança do povo português”.

Montenegro alimenta tabu

Pedro Nuno admitiu viabilizar um governo minoritário da AD, apesar de ficar de pé atrás sobre a possibilidade de votar a favor de um Orçamento do Estado.

“O PS, se não ganhar, não apresentará uma moção de rejeição nem viabilizará nenhuma moção de rejeição se houver vitória da AD”, garantiu o líder do PS

Luís Montenegro, mais uma vez, não esclareceu se viabiliza um governo minoritário socialista. Fugiu da pergunta para uma “muito alcançável” maioria com a IL. “Mantém o tabu”, acusou Pedro Nuno Santos.

“Queremos deputados suficientes para garantir a estabilidade. Sei que é difícil a AD ter a maioria dos deputados”, disse Montenegro, após expor a ideia de implementar três Conselhos de Ministros por mês, com três temas transversais à governação em Portugal: assuntos económicos, transição energética e transição digital e burocracia.

O novo aeroporto

Quando o tema do novo aeroporto veio à baila, Montenegro afirmou que foi ele próprio e o PSD que “salvaram o PS e Pedro Nuno Santos da trapalhada em que se envolveram”, referindo-se ao despacho do então ministro das Infraestruturas que dizia que o Governo tinha decidido avançar com a solução Montijo e Alcochete, encerrando o Aeroporto Humberto Delgado — despacho esse que foi revogado por ordem do primeiro-ministro, António Costa.

“Não teve respeito pelo funcionamento do Governo, agiu à revelia do primeiro-ministro, não sei se é com este espírito que se propõe liderar o Governo”, chutou Montenegro: o PS “teve oito anos para decidir, decidiu mal e contra a vontade do primeiro-ministro”.

Pedro Nuno manteve a opinião que tem vindo a manifestar: queremos isto feito.

“Nós queremos tentar um consenso com o PSD, e com os todos outros partidos, mas com certeza que se não existir não vamos ficar à espera, vamos avançar”, afirmou.

Nessa altura, acusou Montenegro de “não querer decidir, mas adiar” a decisão da localização. O líder do PSD “não sabe o que é governar”, disse (mais do que uma vez) em ataque à inexperiência governativa de Montenegro.

“Nunca teve experiência governativa, não sabe a dificuldade que é decidir e governar. Em Portugal é muito difícil tomar decisões. Eu gosto de decidir e quero que o meu país avance”.

Salários

Quando veio à baila a ambiciosa proposta salarial da AD, o líder do PSD “enterrou-se” por completo.

Montenegro afirmou que o partido propõe atingir os 1.750 euros de salário médio “no final da legislatura” (que seria em 2028), quando o programa da AD aponta a meta para 2030, como esclareceu Pedro Nuno Santos.

“Aumentar o salário mínimo nacional para 1.000 euros, em 2028, e aumentar o salário médio para 1.750 euros, em 2030, com base em ganhos de produtividade e diálogo social”, é o objetivo que consta no documento do programa da coligação.

Luís Montenegro prometeu atualizar os salários dos funcionários públicos de acordo com a inflação, valorizar carreiras específicas e oferecer prémios de produtividade.

Impostos

O “choque fiscal” de um “impreparado” Montenegro volta, aos olhos de Pedro Nuno, a deixar pontas soltas: é “uma aventura” e uma “irresponsabilidade social”.

“O PSD promete coisas que não pode cumprir. Temos de ter credibilidade quando apresentamos as nossas contas”.

Luís Montenegro voltou a explicar: “baixar as taxas de IRS até ao oitavo escalão, com maior incidência na classe média, ter um IRS dirigido aos jovens até aos 35 anos e isentar de IRS os prémios de produtividade até ao valor de um vencimento mensal”.

Habitação

Este foi um dos temas em que se evidenciaram mais divergências entre os rivais.

Do lado da oferta, Montenegro puxou pela amizade com os investidores, prometendo uma redução de burocracia, sem esquecer o investimento público, que vem ser colmatado pelo privado devido aos “fracassos” de Pedro Nuno.

“Pedro Nuno Santos falhou. Diz que faz mas não faz”, acusou.

O líder do PS acusou ainda Montenegro de querer contornar as normas do Banco de Portugal em relação à concessão de crédito à habitação.

Um dos objetivos do PS é trazer uma nova fórmula de cálculo para as rendas, que tenha em conta não só a inflação mas também o rendimento. A AD acredita que “não faz sentido” mudar a taxa de atualização e que o caminho é “estimular a oferta e ajudar na procura”.

Saúde

Pedro Nuno aceitou que o SNS enfrenta problemas, mas voltou a reforçar que a solução não é abandoná-lo, mas sim melhorá-lo, explicando que os seus problemas se prendem ao envelhecimento da população. “O SNS não está preparado” para atender a uma população tão envelhecida — mas mesmo assim produz mais hoje do que em 2015.

O SNS está sob tensão. Defendemos que devemos apostar nos cuidados de saúde primários para dar resposta a mais utentes, dar mais meios aos centros de saúde e dar incentivos às administrações hospitalares. Temos de conseguir olhar de uma forma diferente para o envelhecimento”.

O líder da AD prometeu “reorganizar a rede de urgências, garantir uma consulta para doença aguda num prazo de cinco dias nos centros de saúde, criar o gestor do doente crónico, assegurar o cumprimento dos tempos máximos de espera para cirurgias e consultas e no momento em que o tempo for ultrapassado, dar automaticamente um voucher para dar oportunidade de ir à procura de uma resposta” — resposta que, de acordo com Montenegro, vai chegar nos primeiros 60 dias de governação.

Pedro Nuno acusa Montenegro de querer “descapitalizar” e desistir do serviço, enquanto Montenegro questiona o adversário sobre porque é que foram inaugurados 32 hospitais privados e zero públicos no espaço de oito anos de governação socialista.

Educação

Descongelar as carreiras dos professores é um dos grandes objetivos de Pedro Nuno e do PS, algo que já pretendia “antes das eleições”, ao contrário do que diz Luís Montenegro, que frisou que a AD propôs o descongelamento “quando não havia eleições marcadas”.

Pedro Nuno quer ainda garantir a gratuitidade e tornar obrigatório o ensino pré-escolar a partir dos quatro anos e defende o aumento dos escalões de entrada na carreira, lamentando a saída de 28 mil profissionais do ensino público na altura da Troika, “convidados a sair” — e foi aqui que apareceram dois “fantasmas” no debate.´

Com Montenegro a vangloriar o ensino da última governação do PSD, Pedro Nuno aproveitou.

“Foi uma coisa extraordinária para a educação. Não há-de ser por acaso que não traz Pedro Passos Coelho à campanha nem o convidou para a convenção da AD”, afirmou, com direito a resposta de Montenegro.

“O engenheiro Sócrates virá da Ericeira” para apoiar o PS, rematou.

“Não tenho vergonha da história do PS”, ripostou Pedro Nuno.

Tomás Guimarães, ZAP //

4 Comments

  1. Sem epítetos tendencialmente jocosos, refiro a postura coerente, educada e até tolerante de Pedro Nuno Santos que, sem dúvida, ganhou o debate.
    Em contraste, a postura trauliteira e deselegante de Luís Montenegro que, pelo seu fraco desempenho, desrespeito à condução dos trabalhos e ao seu oponente, perdeu o debate.
    Assim sendo, e por oposição à máxina de Bernard Shaw, Pedro Nuno saiu limpo, e Luís Montenegro não gostou.

  2. Notou-se nitidamente a semelhança entre o barbas de S. João da Madeira e José Sócrates, que chega descaradamente ao auto-elogio. Este artolas chegou ao desplante de dizer que tem experiência governativa! Um indivíduo que foi protagonista de trapalhadas, amnésia e do episódio burlesco de criar dois aeroportos por 24 horas e que originou um puxão de orelhas do primeiro ministro e anulação imediata da respetiva Portaria! Tem tanta experiência que acabou por fugir do governo. Relativamente ao debate, ficou clara a postura de um trauliteiro de bazófia e oratória tipo Sócrates e a postura serena e responsável de Montenegro, cujo programa tem o propósito de alterar a grave situação do país, sobretudo em áreas-chave. O “cantador” do PS, ficou claro que quer continuar a mesma receita de Costa. É mais do mesmo.

  3. João soares, é tal e qual, não poderia arranjar adjetivo melhor para qualificar o netinho, de o “artolas”, armado de Ego até ao limite, cujo objetivo , é apenas ser 1º ministro para assim alimentar ainda mais o tal ego e não resolver problemas, os quais, muitos deles, teve o seu cunho…

    O que me faz mais impressão, é haver pessoas que o defendem com unhas e dentes, isso é que eu não entendo…

    Espero que ganhe o melhor preparado, que pode nem ser nenhum destes …

  4. João Soares
    Pela sua conversa, percebe-se que durante o governo de Sócrates ainda andava de calções.
    O mal que lhe desejo, é que se o aspirante a pacóvio, Luís Montenegro chegar ao pote, não deseje e desespere por um governo de Sócrates. Acredite que estou a querer o seu bem.

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