Uma “traição” da Alemanha pode entregar a vitória a Putin

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Giuseppe Lami/EPA

Olaf Scholz, chanceler da Alemanha

Numa altura em que as forças ucranianas têm registado vitórias contra as tropas russas, um relatório da Alemanha que sugere uma redução drástica da ajuda militar à Ucrânia.

De acordo com o influente Frankfurter Allgemeine Zeitung, a Alemanha planeia reduzir o seu apoio à Ucrânia em 94% nos próximos três anos, passando de 8 mil milhões de euros para apenas 500 milhões de euros até 2027.

Esta revelação provocou acusações de traição em Berlim e suscitou preocupações em toda a Europa.

Apesar da controvérsia, não houve qualquer desmentido oficial por parte do chanceler Olaf Scholz ou da coligação de centro-esquerda no poder. A realidade é que a Alemanha já planeava reduzir para metade o seu financiamento no próximo ano.

A Alemanha tem sido o maior apoiante europeu da Ucrânia, ficando apenas atrás dos Estados Unidos a nível mundial.

Na cimeira do G7, em junho, chegou-se provisoriamente a um acordo para utilizar 300 mil milhões de dólares em ativos russos congelados como garantia para um empréstimo de 50 mil milhões de euros à Ucrânia. No entanto, na perspetiva de Kiev, este esquema de empréstimo parece irrealista e oferece pouca segurança.

O sucesso da recente contraofensiva da Ucrânia parece ter apanhado Berlim desprevenida.

As tropas ucranianas têm galgado terreno russo, perturbando a Alemanha, onde as associações históricas com a “ofensiva de Kursk” – a maior batalha de tanques da história durante a Segunda Guerra Mundial – ressoam profundamente. Além disso, a propaganda de Putin tem pintado o governo de Zelenskyy como “nazi”, complicando ainda mais o envolvimento da Alemanha.

Em Moscovo, esta medida pode ser vista como um sinal para Putin esperar até que a Ucrânia esgote os seus recursos.

Dado o poder económico da Alemanha, este país poderia facilmente aumentar o seu apoio à Ucrânia, sublinha o jornal inglês The Telegraph. Os cortes previstos representam menos de 0,2% do PIB alemão de 5 biliões de dólares.

O potencial afastamento da Alemanha do apoio à Ucrânia surge numa altura crítica para a Europa. Os restantes países europeus parecem hesitantes em preencher o vazio deixado pela Alemanha.

Face à diminuição do apoio ocidental, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy poderá ser forçado a continuar a luta sozinho. No entanto, as ações da Alemanha podem pressionar a Ucrânia a negociar a paz nos termos de Putin. Uma vitória que, tendo em conta o atual panorama, cai que nem ginjas para o Presidente russo.

ZAP //

4 Comments

  1. O Povo Alemão foi 100% clarificado sobre a situação e votou sobre apoios á continuação da guerra na Ucrânia?
    Ou são apenas as elites a tomarem decisões por si próprios e a controlar a opinião publica com informação filtrada?

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  2. Informação filtrada é o pão nosso de cada dia na Rússia e países afins. Na Alemanha, como no Ocidente em geral, há umas coisas chamadas Liberdade de Expressão e Liberdade de Imprensa. Toda a gente pode dizer, ouvir e acreditar ou não nas maiores patacoadas das redes sociais ou das reportagens e investigações dos media, mais ou menos livres. E as elites, seja em que lugar deste mundo for, têm sempre mais peso do que os zé-ninguem. Não tenha ilusões de que na Rússia, na Coreia do Norte ou na Venezuela é o povo que manda.

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  3. «Na Alemanha, como no Ocidente em geral, há umas coisas chamadas Liberdade de Expressão e Liberdade de Imprensa.» Talvez isto fosse, em parte, verdade num passado recente, mas já deixou de o ser, pelo menos nesta década e com tendência a piorar! De resto, neste particular, a Alemanha é, seguramente, um dos países europeus mais repressivos no que se refere à liberdade de expressão e liberdade de imprensa, como é bem ilustrado pelo recente caso da revista mensal alemã “Compact”, fundada em 2010 e cuja publicação foi suspensa há um par de meses, por ordem do Ministério do Interior, aguardando-se ainda uma decisão final do Tribunal Administrativo Federal. Em suma: não sei em que países o povo manda, mas NÃO é, comprovadamente, na República Federal da Alemanha!

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