Ter um cone extra nos olhos permite ver 10 vezes mais tonalidades do que as restantes pessoas, mas nem sempre é vantajoso. Até ir ao supermercado pode ser “um pesadelo”.
Se o daltonismo, que afeta um em cada 12 homens e uma em cada 200 mulheres em todo o mundo, limita o espetro de cores visíveis, uma condição conhecida como tetracromacia tem o efeito contrário.
As vítimas da rara doença genética, apelidadas de tetracromatas, podem percecionar até 100 milhões de tonalidades — 10 vezes mais do que o resto das pessoas.
A maioria dos humanos tem três tipos de cones nos olhos, o que lhes permite detetar cerca de um milhão de variações de cor. Em contrapartida, as pessoas daltónicas possuem apenas dois cones. Já os tetracromatas têm quatro.
Este cone adicional aumenta significativamente a sua sensibilidade às cores, especialmente na gama laranja.
A artista Concetta Antico, uma tetracromata confirmada, descreveu a sua perceção vívida das cores à BBC Future, em 2014.
“As cores das pedras saltam em tudo que é direção, com laranjas, amarelos, verdes, azuis e rosas. Eu fico espantada quando descubro que os outros não veem isso”, diz a artista ao jornal britânico.
“Ir ao supermercado é um pesadelo. É como uma lata de lixo de cores a saltar de tudo que é lado”, conta a artista, que diz que a sua cor preferida é o branco por essa mesma razão.
Estima-se que até 12% dos indivíduos com dois cromossomas X possam ter a mutação genética para a tetracromacia. No entanto, o grau em que experimentam esta visão de cores aumentada varia.
Alguns tetracromatas podem ver apenas uma ligeira melhoria, enquanto outros podem ver uma gama extraordinária de cores. A diferença depende do facto de o quarto cone funcionar numa frequência única e de o cérebro conseguir processar a informação adicional sobre as cores.
Um estudo de 2010 publicado no Journal of Vision testou 24 participantes com a variante genética para a tetracromacia, mas só um demonstrou a capacidade de diferenciar entre todas as tonalidades no teste.
Infelizmente, não existe atualmente nenhum teste fiável para detetar a tetracromacia. Os testes de ADN podem identificar mutações associadas à doença, mas é necessário equipamento especializado para as confirmar e, mesmo assim, pode não ser definitivo.
A perceção das cores, mesmo para quem tem uma visão normal, pode ser subjetiva, como demonstrado por casos como o fenómeno viral do “vestido azul e preto, branco e dourado” de 2015.