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Mais um dia de greve no Teatro Nacional de São Carlos. Governo mantém-se em silêncio

Janko Hoener / Wikimedia

Teatro Nacional de São Carlos

Os trabalhadores do Organismo de Produção Artística (Opart) estão desde sexta-feira em greve contra os recuos na negociação do novo regulamento interno de pessoal e os sucessivos adiamentos do compromisso. Graça Fonseca mantém-se em silêncio.

A terceira e antepenúltima récita da ópera La Bohème, marcada para a noite desta terça-feira, foi cancelada, tal como as duas anteriores apresentações desta produção do Teatro Nacional de São Carlos, devido à greve dos funcionários do Opart.

Ao Observador, Irina Oliveira, bailarina da CNB e representante do CENA-STE, Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, que convocou a paralisação (sindicato afeto à CGTP), afirmou que “o que mais custa neste momento é o silêncio absoluto da parte do Governo, não há nenhum sinal”.

As próximas apresentações estão marcadas para sexta-feira e domingo, mas também não deverão realizar-se. Há também pré-avisos de greve para o bailado Dom Quixote, de 11 a 13 de julho no Teatro Rivoli, no Porto, e para o Festival ao Largo, cuja 11ª edição está prevista para 5 a 27 de julho, precisamente no Largo de São Carlos.

A greve iniciou-se no dia 7 deste mês, após o Ministério da Cultura e o Ministério das Finanças se terem recusado a assinar um compromisso que garantiria a equiparação de salários entre os técnicos de São Carlos e os da CNB – duas estruturas tuteladas pelo Opart, uma empresa pública na dependência do Ministério da Cultura.

Os técnicos da CNB, na categoria profissional mais baixa, ganham mais 180 euros do que os colegas, uma situação que se mantém desde setembro de 2017, quando ambas as estruturas adotaram as 35 horas semanais e a discrepância começou a causar incómodo.

Ninguém está a pedir aumentos, estamos a pedir equiparação salarial, que é aliás um princípio legal: trabalho igual, salário igual”, explicou Irina Oliveira ao jornal. “O valor total em causa é de cerca de 70 mil euros, é esse dinheiro que o Ministério das Finanças não quer desbloquear, apesar de sabermos que a verba consta do orçamento do Opart para 2019.”

“O problema pode ser resolvido, só depende do Governo, depende de uma assinatura, mais nada. Queremos apenas que o Governo diga que se compromete com a equiparação salarial a partir de setembro. Porque é que o senhor ministro das Finanças não assina? É a questão que todos temos. Será que a informação não lhe chega? Será que está a fazer finca-pé? Não sabemos”, acrescentou.

O ministério da Cultura remete eventuais esclarecimentos para o Opart, e a administração do Opart recusa fazer declarações. Esta quarta-feira, a ministra Graça Fonseca termina uma visita oficial à China, no âmbito do Festival de Cultura Portuguesa na China, e Carlos Vargas, presidente do Opart, é um dos membros da comitiva.

Segundo o Observador, os bailarinos e técnicos da CNB que acompanham a visita têm alegadamente recusado participar em atos oficiais ao lado da ministra, em sinal de protesto.

A greve dos trabalhadores a todas as récitas de La Bohème foi decidida em plenário na  quinta-feira, véspera da estreia desta ópera de Giacomo Puccini que teria direção musical a cargo de Diego Matheuz e encenação de Arnaud Bernard. Segundo números fornecidos ao Público pelo São Carlos, estarão envolvidos nesta produção 180 funcionários, dos quais 117 fizeram greve na sexta-feira e 71 fizeram greve no sábado.

Face à paralisação, a administração do Opart declarou suspensas as negociações em curso, num comunicado em que lembrava “os prejuízos que a greve causará ao público”.

Este domingo, num comunicado publicado no site, os trabalhadores representados pelo CENA-STE disseram-se indignados “ao saberem que, num dos momentos mais complexos para o normal funcionamento do único teatro de ópera do país e da única companhia nacional de bailado”, o presidente da administração do Opart “tenha optado” por acompanhar a comitiva oficial de visita à China.

Além disso, recordaram que “o valor de bilheteira perdido pelo Opart” nas duas récitas até então canceladas “corresponde a cerca do dobro do valor necessário” para viabilizar a harmonização salarial que reivindicam “e para sanar uma situação ilegal”.

ZAP //

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