Depois de dois debates televisivos, Liz Truss e Rishi Sunak, candidatos à sucessão de Boris Johnson à frente do Partido Conservador e primeiro-ministro britânico, iniciaram na noite de quinta-feira uma série de doze debates em todo o país.
O palco do primeiro embate com público foi a cidade de Leeds, no norte da Inglaterra, um dos poucos redutos trabalhistas que resistiram à onda conservadora de dezembro de 2019, que levou Boris Johnson a uma maioria e à chefia do Governo.
Sunak, acusado de traição pelos fiéis de Johnson por ter precipitado a queda deste ao demitir-se do cargo de ministro das Finanças, invocou as suas origens humildes e “valores conservadores”, enquanto a sua rival aproveitou estar em Leeds para jogar a ‘cartada’ local, lembrando ter sido ali, onde os seus pais ainda moram, que “cresceu”.
De origem indiana, Sunak brincou com o seu “bronzeado”, que disse ter resultado do clima da região (normalmente nublado).
Destacando-se de Boris Johnson, cujos três anos à frente do governo foram marcados por uma sucessão de escândalos, Sunak voltou a insistir na necessidade de “recuperar a confiança” do partido e do eleitorado britânico.
Enquanto o antigo ministro das Finanças se mostrou mais à-vontade com os temas económicos — nomeando a inflação como “o inimigo que empobrece a todos” — Truss, que se manteve como ministra dos Negócios Estrangeiros, arrancou aplausos com intervenções sobre os transportes, o apoio britânico à Ucrânia ou medidas de estímulo aos agricultores locais.
Os impostos voltaram a ser um ponto de divisão entre ambos, com Sunak a insistir na necessidade de esperar por uma acalmia na subida de preços para reduzir a carga fiscal, enquanto Truss prometeu aliviar taxas “desde o primeiro dia”.
Cabe aos membros do partido maioritário na Câmara dos Comuns — estimados em quase 200 mil — votar por correspondência durante o mês de agosto para escolher o sucessor de Boris Johnson.
Os dois finalistas de uma lista inicial de oito candidatos estão a concorrer para a liderança do partido Conservador, da qual Johnson se demitiu a 7 de julho após uma série de escândalos que desencadearam dezenas de demissões de membros do governo em dois dias.
A escolha vai ser feita por cerca de 180.000 militantes ‘tories’ num voto postal, sendo o anúncio da decisão esperado a 5 de setembro, no regresso dos trabalhos do parlamento após as férias de verão.
No dia seguinte, Boris Johnson deverá apresentar a demissão de primeiro-ministro à rainha Isabel II, a qual, segundo a tradição, pedirá ao novo líder do partido com a maioria parlamentar para formar governo.
Um debate televisivo entre os dois candidatos teve esta semana de ser abandonado após o apresentadora ter desmaiado enquanto estava a decorrer.
Rishi Sunak e a ministra dos Negócios Estrangeiros Liz Truss estavam a debater no canal Talk TV quando se ouviu um som estrondoso, levando Truss, que estava a responder, a mostrar uma cara assustada e a dizer “Oh meu Deus” antes de a emissão ser cortada.
A TalkTV explicou mais tarde num comunicado que a moderadora Kate McCann “desmaiou em direto esta noite e embora esteja bem, o conselho médico foi que não devíamos continuar com o debate”.
O incidente aconteceu cerca de meia hora depois do início do debate programado para durar uma hora, quando Truss e Sunak discutiam sobre impostos, como ajudar as famílias que lutam com o aumento do custo de vida e a melhor forma de financiar o Serviço Nacional de Saúde.
No único debate televisivo entre ambos a chegar ao fim, na segunda-feira, a economia foi ponto central, com Truss a considerar “contracionista” a decisão de aumentar impostos tomada pelo governo antes de Sunak se demitir.
“Este ministro das Finanças aumentou impostos ao ritmo mais alto dos últimos 70 anos”, acusou no debate organizado pela BBC, propondo reverter um aumento de 1,25% nas contribuições para a Segurança Social e aplicar uma “moratória temporária” sobre a taxa de energia verde para reduzir o custo da eletricidade, gás e combustíveis.
Mas Sunak, que justificou o aumento do imposto com a necessidade de financiar o sistema de saúde público e proteger a economia durante a pandemia, avisou que adiar o pagamento da dívida pública “vai passar a conta aos nossos filhos e netos para a pagarem” e que arrisca fazer disparar as taxas de juro.
Os dois também trocaram críticas sobre política externa, com a chefe da diplomacia britânica a acusar o antigo ministro das Finanças de ter ter feito pressão dentro do governo para relações económicas mais próximas com a China.
Apesar da determinação em defender a Ucrânia, Truss disse não estar “preparada para o Reino Unido ser envolvido diretamente no conflito”, tendo ambos referido o apoio financeiro e militar dado pelo Reino Unido a Kiev.
Embora este tenha sido o primeiro debate a dois, os candidatos finalistas e respetivos apoiantes têm trocado farpas que fizeram algumas figuras do partido Conservador avisarem para o perigo de prejudicar a imagem dos ‘tories’.
Um outro debate televisivo terá lugar na Sky News a 04 de agosto.
Embora a maioria dos deputados tenha apoiado Sunak na primeira fase do escrutínio, Truss é vista como a candidato da ala direita e a favorita das bases.
De acordo com a sondagem mais recente da empresa YouGov, que deu 62% das preferências a Truss e 38% para Sunak após excluídos aqueles que estão indecisos ou que não vão votar.
// Lusa