As atividades estão suspensas em todas as escolas sudanesas desde esta quarta-feira, e por tempo indeterminado, na sequência de protestos por causa da morte de estudantes durante uma manifestação no início da semana.
Cinco pessoas morreram na segunda-feira no estado do Cordofão do Norte, incluindo quatro estudantes, e dezenas ficaram feridas depois de franco-atiradores terem aberto fogo sobre um protesto devido à escassez de combustível e pão na capital estadual, El-Obeid, noticiou o Expresso na quarta-feira.
No dia seguinte, centenas de crianças, muitas com uniformes escolares e agitando bandeiras do Sudão, saíram para as ruas da capital do país, Cartum, e de outras cidades em protesto.
A junta militar, que governa o país desde a deposição do Presidente Omar al-Bashir, ordenou na terça-feira a suspensão das atividades nas escolas de todos os níveis de ensino. “Foram dadas ordens aos governadores de todos os estados para encerrarem creches, escolas primárias e liceus até novo aviso”, informou a agência Suna.
Os manifestantes responsabilizam os paramilitares das Forças de Apoio Rápido pelos disparos em El-Obeid. As autoridades declararam estado de emergência naquela localidade e decretaram recolher obrigatório.
Segundo o Expresso, a UNICEF pediu uma investigação às mortes, dizendo que “nenhuma criança deve ser enterrada no seu uniforme escolar”. A agência das Nações Unidas para a infância revelou ainda que os estudantes mortos tinham entre 15 e 17 anos.
O general Abdel Fattah al-Burhane, que lidera o conselho militar de transição, disse que “o que aconteceu em El-Obeid é triste”, acrescentando que “matar civis pacíficos é um crime inaceitável que necessita de responsabilização imediata”.
Diálogo interrompido entre manifestantes e generais
Os líderes dos protestos e os generais no poder deveriam retomar o diálogo na terça-feira depois da assinatura, há duas semanas, de um acordo de partilha de poder. No entanto, após os disparos fatais, o encontro foi cancelado. Na agenda estava a discussão de assuntos como os poderes do órgão de poder civil e militar, a atuação das forças de segurança e a imunidade dos generais relativamente à violência nos protestos.
No sábado, foram publicadas as conclusões de uma investigação militar à dispersão do protesto na capital sudanesa a 03 de junho. Segundo o relatório, nesse dia, foram mortas 17 pessoas e mais 87 em confrontos entre 03 e 10 de junho. Médicos ligados às manifestações rejeitam as conclusões e falam em 127 mortos e dezenas de feridos.
Os militares depuseram o autocrata Omar Al-Bashir em abril, após três décadas no poder e meses de protestos. Contudo, os manifestantes continuaram nas ruas, apelando a uma transição rápida para um Governo civil.