“Para mim chega!”. Sérgio Figueiredo desiste de cargo de consultor nas Finanças

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Mário Cruz / Lusa

Sérgio Figueiredo

“Para mim chega! Sou a partir deste momento o ex-futuro consultor do ministro das Finanças”, escreveu o antigo jornalista e ex-administrador da Fundação EDP Sérgio Figueiredo, anunciando assim que não aceitará o cargo de consultor estratégico de Fernando Medina.

“É lixado desistir. É a forma mais definitiva de dizermos que não vale a pena – e não vale a pena, porque não vale tudo”, indicou o antigo diretor de informação da TVI, num texto publicado no Jornal de Negócios, acrescentando: “ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos insultos e insinuações”.

A 09 de agosto, foi divulgada a contratação de Sérgio Figueiredo. Segundo uma minuta divulgada pelo Ministério das Finanças, este receberia um total de 139.990 euros brutos em 24 meses (dois anos), o que equivale a 5832 euros mensais, valor que foi comparado aos 4767 euros que recebe Medina.

“O valor da minha avença era cerca de 77% daquilo que o Estado paga ao ministro que gere as suas Finanças”, explicou Sérgio Figueiredo, garantindo que não chegou “a receber um cêntimo” ou a formalizar “o contrato que desde a semana passada esperava” pela sua assinatura.

E continuou: “assim continuará a ser daqui para a frente e escrevo-o com toda a convicção, não por se tratar especificamente de mim, mas pelo que o meu caso representa: é mais um problema do Estado do que meu”.

“O que mais me espantou foi ver pessoas de ar respeitável considerarem que a minha contratação foi o ato governativo que mais desqualificou a Função Pública desde a fundação da República!”, explicou, frisando: “ou que a minha contratação ofendia todos os técnicos que trabalham no Estado! Assim, coisas tão definitivas, sem tentarem sequer saber exatamente quais eram as funções que me esperavam”.

“Fui atacado pela prática de quatro pecados capitais: não ter competências para as funções; o valor do ‘salário’; não ter exclusividade; e a troca de favores entre o contratado e o contratante”, referiu, considerando que alguns “ataques” deviam “pagar imposto contra a ignorância e estupidez”.

Sérgio Figueiredo lembrou, a propósito do salário, que os governantes têm “naturalmente direito a subsídios e despesas de representação permanentes. Algo que um consultor externo não tem”. Considera ainda que o problema é os ministros serem mal pagos e não o que ele iria ganhar – muito menos do que recebeu em média nos últimos anos, no sector privado, acrescentou.

Apesar das críticas, acredita que tinha competência e experiência para o cargo. “Os decisores políticos, ministros e secretários de Estado, são alimentados com conclusões tiradas das folhas de Excel”, disse, defendendo que podia ter ajudado a incorporar “boas práticas que inspiram a definição de políticas públicas”.

Quanto a uma suposta troca de favores, o antigo jornalista disse que se trata “apenas e só de processos de intenções e julgamentos de carácter” e que “o raciocínio é tão primário como insultuoso”.

Quanto ao facto de não ir trabalhar exclusivamente para o Ministério das Finanças, reconheceu que “é assim com os consultores, com as agências de comunicação ou com os escritórios de advogados, só para dar três exemplos que todos os dias prestam serviços especializados a instituições públicas”. Além disso, os contratos têm cláusulas de confidencialidade e de proteção do sigilo, esclareceu.

“Os paladinos da moral da nação atiraram-se a mim, não baseados em conflitos que resultem da minha situação profissional concreta e presente, mas simplesmente na presunção do que poderá acontecer no futuro”, acusou.

“O argumento é inacreditável e impossível de rebater. Por uma simples razão: como é que se prova o contrário de algo que não existe?”, questionou, concluindo: “não vai acontecer qualquer conflito. Perdi o interesse”.

Já Medina lamentou a decisão. “Lamento profundamente a decisão anunciada por Sérgio Figueiredo, mas compreendo muito bem as razões que a motivaram”, reagiu Medina, numa declaração escrita enviada às redações.

ZAP //

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19 Comments

  1. Uma postura inteligente, pois houve de facto uma ação quase persecutória por quem não o queria no cargo. Nada de novo neste país à beira mar plantado. A coscuvilhice e o denegrir para afastar aqueles que não queremos. Não conheço a mão que está por detrás, mas com certeza que será alguém sedento em ocupar o cargo. Stay tuned, the riddle will be solved within days.

    • Arranjar um subordinado e dar-lhe um ordenado superior ao seu, tem algo de hilariante. Ou então a história não está ainda totalmente contada. Os lisboetas já correram com este mediocre Medina e Costa para o tentar salvar, sentou-o neste Ministério, mas a porcaria veio logo ao de cima.

    • Para começar, informo que não quero nem conheço quem queira ocupar o lugar. Em seguida, direi que criticar quem ganha 30 mil euros por dois dias de trabalho, e 150 mil euros por ano para fazer um trabalho que já outros fazem, pago por alguém que já foi pago por si com o dinheiro dos contribuintes não é coscuvilhice, é cidadania, e só tenho pena que ainda exista gente que pensa como a senhora, porque são esses que mantêm e alimentam a corrupção e o compadrio de alguns poucos e a miséria de muitos outros.

    • Este caso é prova provada que estes políticos julgam-se senhores disto tudo e que podem fazer o que querem, implementando o amiguismo, a cunha, a corrupção e não terem que dar satisfações aos Portugueses.

  2. Boa notícia que prova que às vezes vale a pena denunciar o compadrio e da corrupção. O que é que este senhor quer? Uma medalha por ter sido obrigado a tomar uma atitude honesta? Já que é tão íntegro, pode também devolver os milhares de euros que recebeu em troca de nenhum trabalho

  3. Foi obrigado a tomar uma atitude honesta, num caso que, mais uma vez, é uma vergonha de amiguismo e que dá todos os sinais errados aos portugueses.

    Devia ter exigido ao seu amigo Medina que o processo fosse transparente, meteu-se no camisa de sete varas porque foi incauto. e como se dizia antigamente, estulto Ou se acha tão bom que pensa ganhar quase seis mil euros por mês sem ter o cuidado de ver como é pago, concursos e afins? Esta é uma pergunta ocisosa e irónica.

    Tenham juízo, ele e o homem que ‘foi à lua’, um facto importantíssimo para a humanidade, a ciência e o ambiente Mais um caso edificante da turminha do agora-que-fui-descoberto-desisto

  4. Ainda bem que há quem denuncie estes escândalos, estes abusos de poder. Deveria ser proibido maiorias absolutas.
    Como foi feito este “concurso”? Se é que houve! Quais os critérios de seleção? E receber um ordenado maior do que o Ministro das Finanças e que os membros do Governo, seria um desgoverno. Que fosse ele para Ministro das Finanças e receber o ordenado deste. Há que copiar os exemplos de países como a Suécia ou a Suíça.

  5. São contratações como esta, onde pagam fortunas a amigos e familiares, que levam a que este país nunca saia da cepa torta e o dinheiro dos contribuintes nunca chegue para o que é realmente necessário.

  6. “Tantos insultos e insinuações”. Claro. O que é que tu querias? Tu meteste-lo lá e agora para pagar ele meteu-te cá. Lá e cá não são locais de troca de favores e de ousadias sem vergonha. Segue o teu caminho e abandona o estilo parasítico. Parabéns à voz do povo.

  7. Finalmente alguém honesto, coerente e corajoso, só é pena o Ministro das Finanças e o Primeiro Ministro terem ficado muito mal nesta fotografia.

  8. Lamentavelmente as atitudes (ou a falta delas) do governo, ultimamente, deixam muito a desejar. Não tarda, infelizmente, teremos de novo Passos Coelho no governo através da sua marionete Montenegro, e a culpa tem um nome, António Costa!

    • Costa desistiu de ter mão no governo. Já cada um faz o que quer. Oxalá não estejamos a caminhar para novo pântano. Isto ou bancarrotas são as fatalidades do PS.

  9. Nao sou de grandes elogios, mas desta vez o Chega do André Ventura esteve muito bem ao desmascarar este esquema e pedir a investigação no Ministério das Finanças a este contrato! Isto sim é trabalhar a favor do interesse nacional! E este Sr. Figueredo teve o comportamento típico do malandro ou carteirista que é apanhado: desiste do assalto e acusa o assaltado de o estar a maltratar!
    Votaram neles agora aguentem o compadrio dos sanguessugas maçons!
    Bon Voyage!

    • O Chega é fundamental nesta altura algo negra da nossa democracia. O Santos Silva aproveita-se da cadeira alta do Parlamento para insistentemente o atacar, porque André Ventura não tem papas na língua e desmascara de forma ousada certa tralha que anda por aí. Depois esses energúmenos chamam-lhe o piorio porque não gostam de ouvir as verdades. Ventura é enorme na representação da voz do povo.

  10. «É lixado desistir.» – Ficámos esclarecidos quanto à elegância da criatura. Não admira. Hoje em dia qualquer jornalista ou órgão de informação utiliza o calão com a maior naturalidade. Já ninguém fica “incomodado” ou “aborrecido”, mas sim “chateado”. Um projecto-lei não é “rejeitado” ou “reprovado”, mas é infalivelmente “chumbado”. Até admira que o ‘Diário da República’ ainda não tenha adoptado a gíria, mas é uma questão de tempo. Realmente, é “lixado”. Ou “patético”, como se diria noutros tempos.

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