Desde o início de Agosto que o sensor ROSINA – Rosetta Orbiter Sensor for Ion and Neutral Analysis – está a “cheirar” o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko com os seus dois espectrómetros de massa. E cheira muito mal.
Apesar de o cometa estar ainda a mais de 400 milhões de quilómetros do Sol, a mistura de moléculas detectadas na cabeleira do cometa é já surpreendentemente rica.
Antes de o cometa 67P/C-G ser alcançado, a equipa do ROSINA pensava que a estas grandes distâncias do Sol, a sua relativamente baixa intensidade libertaria apenas as suas moléculas mais voláteis através de sublimação, especificamente dióxido de carbono e monóxido de carbono.
No entanto, o ROSINA detectou muito mais moléculas. No relatório da equipa Rosetta de 11 de Setembro, o inventário de gases detectados no cometa continha os seguintes:
– Água (H2O);
– Monóxido de carbono (CO);
– Dióxido de carbono (CO2);
– Amónia (NH3);
– Metano (CH4);
– Metanol (CH3OH).
A equipa anunciou agora também a detecção dos seguintes compostos:
– Formaldeído (CH2O);
– Sulfeto de hidrogénio (H2S);
– Cianeto de hidrogénio (HCN);
– Dióxido de enxofre (SO2);
– Dissulfeto de carbono (CS2).
Se pudéssemos cheirar o cometa, provavelmente gostaríamos de não o ter feito.
Segundo Kahrin Altwegg, investigadora principal do ROSINA, “o perfume de 67P/Churyumov-Gerasimenko é bastante forte, com odor a ovos podres (sulfeto de hidrogénio), a estábulos de cavalos (amónia), e ao pungente e sufocante odor de formaldeído. Isto tudo misturado com o ténue e amargo aroma semelhante a amêndoa do cianeto de hidrogénio”.
“Adicione um pouco de álcool (metanol) à mistura, junte o aroma avinagrado do dióxido de enxofre e uma pitada do doce e aromático sulfeto de carbono, e chegamos ao ‘perfume’ do nosso cometa”, acrescenta a investigadora.
Embora este perfume seja provavelmente pouco atraente, há que lembrar que a densidade destas moléculas é muito baixa, e que a parte principal da cabeleira é composta de água e dióxido de carbono, misturados com monóxido de carbono.
No entanto, o ponto-chave é que uma análise detalhada desta mistura e do modo como varia à medida que o cometa 67P/C-G se torna mais activo permitirá aos cientistas determinar a composição do cometa.
Os trabalhos vão mostrar como este cometa se compara com outros, por exemplo, ao revelar diferenças entre os cometas originários da Cintura de Kuiper (como 67P/C-G) e cometas oriundos da distante nuvem de Oort (como o Cometa Siding Spring, que passou recentemente por Marte).
O objectivo é obter mais informações sobre a composição química da nebulosa solar a partir do qual o nosso Sistema Solar, e em última análise a própria vida, surgiram.
Viagem da Rosetta
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