Segunda vaga pode matar menos (mesmo com novos casos a disparar)

Mário Cruz / Lusa

Os especialistas acreditam que a segunda vaga de covid-19 em Portugal vai ser menos letal, embora o número de novos casos diários possa vir a ser “muito elevado”. Isto porque temos a lição mais bem estudada e porque os novos infectados são mais jovens.

“A letalidade será inferior, em consequência das idades das pessoas infectadas e do que os médicos aprenderam sobre a doença e os tratamentos”, considera no Expresso o professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes.

Este especialista repara que “a maior lentidão no avanço deste ressurgimento deve-se ao facto de grande parte da população já ter interiorizado a utilização de recomendações de higiene, distanciamento e uso de máscaras, e também por haver uma pequena fracção de pessoas que já contactou com o vírus e terá desenvolvido imunidade“.

A média de novos casos diários anda, agora, entre os 600 e os 800, valores muito próximos dos de Março. Contudo, agora, os internamentos e as mortes estão mais baixos.

Proporcionalmente teremos menos mortos“, repara também no Expresso o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia.

A taxa de letalidade é de momento de 2,7% quando em Junho rondava os 4,4%, situando-se abaixo da verificada em países como Espanha (4,5%), França (6,7%) e Alemanha (3,6%).

“A principal explicação para a redução da mortalidade é termos menos doentes com mais idade, doença crónica cardíaca, obesidade ou diabetes”, explica ao Expresso a infecciologista do Hospital de São João, no Porto, Margarida Tavares.

“Temos mais experiência, conseguimos actuar mais cedo e conhecemos melhor a doença, as complicações cardíacas, o aumento da coagulação do sangue e do risco de enfarte cerebral, cardíaco ou de outros órgãos”, acrescenta a infecciologista.

“Este Inverno vai ser difícil”

O especialista em Saúde Pública Internacional no Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) Tiago Correia também nota, no mesmo semanário, que “temos mais respostas sobre o vírus, mais camas e ventiladores, além de um maior conhecimento dos medicamentos para controlar as vertentes mais agudas da doença”.

Estamos mais bem preparados para garantir que os internamentos não resultam em mortes”, afiança ainda Tiago Correia que diz que não está “muito preocupado com o SNS [Serviço Nacional de Saúde] nem com os casos graves de doença”.

Todavia, “haverá um número de infecções muito elevado, que exigirá enorme intervenção dos decisores políticos”, acredita o especialista em Saúde Pública.

Também Ricardo Mexia é da mesma opinião. “Este Inverno vai ser difícil. Receio que seja uma questão de tempo até a situação se degradar, em parte porque vamos deixar de conseguir proteger os mais vulneráveis como até agora”, aponta.

Há uma preocupação também por causa da gripe, pelo facto de este vírus circular em simultâneo com o vírus da covid-19. Na época de gripe 2018/2019, morreram cerca de 3 mil pessoas em Portugal por complicações relacionadas com esta doença.

Contudo, também há quem acredite que as medidas de distanciamento e de higienização implementadas por causa da covid-19 podem ajudar a reduzir a propagação da gripe.

Manuel Carmo Gomes acredita que se deve considerar o pico de 1200 internamentos verificado em Abril como uma linha vermelha do SNS que não pode ser ultrapassada.

“É possível irmos além disso sem o sistema colapsar, mas esse nível sabemos que aguentamos”, atira o professor de Epidemiologia, reparando que “a situação é mais séria” se “80% dos internamentos estiverem concentrados numa região”.

A Direcção Geral de Saúde (DGS) já anunciou que está a definir linhas vermelhas locais, com a realização de mapas regionais com o risco da infecção. Estes mapas terão em conta o número de casos nos últimos 14 dias, o Rt (o número médio de pessoas que cada infectado contagia), a capacidade hospitalar local e o tipo de surtos, como explica ao Expresso Carmo Gomes.

ZAP //

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