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Segunda vaga de covid-19 na Europa está a alastrar-se dos jovens para idosos

Sebastião Moreira / Lusa

Cortina permite às famílias abraçar novamente os idosos num lar de São Paulo

Desde o verão, a segunda vaga do coronavírus na Europa tem afetado principalmente os jovens, que apresentam, na maioria dos casos, sintomas leves. Dados recentes do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças mostram que, devido ao contexto familiar, as infeções entre pessoas com mais de 65 anos estão a aumentar.

Segundo noticiou o Wall Street Journal, esse aumento tem originado uma subida no número de hospitalizações e mortes. Muitos países europeus registam agora mais casos do que na primavera, o que se deve, em parte, a uma melhor testagem.

Ainda assim, no Reino Unido, as infeções entre grupos de idade mais avançada aumentaram acentuadamente no final de setembro e as hospitalizações de pacientes com covid-19 duplicaram no mesmo mês, de acordo com pesquisa do Imperial College London. Até 28 de setembro, morreram 588 pessoas, mais do dobro que em agosto.

Em Espanha – país que tenta conter um dos piores surtos da Europa -, 547 pessoas morreram na primeira semana de outubro.

Entrevistados pelo Wall Street Journal, Carmen Pallarolas e o marido contaram que culparam o filho, de 26 anos, por testaram positivo para coronavírus em agosto. O jovem, que vive com o casal, tem uma vida social ativa e também testou positivo.

“Geralmente, os jovens saem mais do que nós, os mais velhos, e são menos cuidadosos”, afirmou Pallarolas, de 60 anos, que vive em Argentona, Espanha, a quem a infeção causou sintomas leves, como febre e tosse.

Mesmo na Alemanha, onde o aumento das infeções é relativamente baixo, a subida dos internamentos nos cuidados intensivos levou o Instituto Robert Koch – centro alemão de controle de doenças -, a alertar que o vírus está a espalhar-se para uma população com idade mais avançada.

As autoridades de saúde têm aconselhando os idosos a protegerem-se mais, limitando as interações sociais, evitando multidões e usando máscaras. Têm também pedido que estes sejam vacinados contra a gripe para evitar a superlotação nos hospitais durante o inverno e que os membros das suas famílias evitem o contacto.

Em Itália, a idade média dos infetados está a aumentar, com pessoas com mais de 50 anos a representarem mais de um terço dos casos recentemente detetados, avançou o Instituto Nacional de Saúde do país. A maioria das novas infeções ocorre dentro de casa.

Como lembrou o Wall Street Journal, após meses de distanciamento social, muitos europeus não querem ou não podem mais ficar longe dos familiares, principalmente em países do sul da Europa, como Itália e Espanha.

 

Devi Sridhar, professora de saúde pública da Universidade de Edimburgo, indicou que os países europeus deveriam se esforçar mais para suprimir o vírus na população em geral ao invés de aceitar a sua disseminação enquanto tentam isolar os idosos.

Na Coreia do Sul, em Taiwan e noutras zonas do Leste Asiático, o uso generalizado de máscaras, combinado com testes eficazes, rastreamento e isolamento de infetados, reduziu o contágio a um nível baixo, tornando o dia-a-dia mais seguro para todos, incluindo para os idosos, referiu a especialista.

“Concentramo-nos nas coisas erradas. A Ásia está a concentrar-se na forma como pode suprimir o vírus de forma mais eficaz. Nós estamos a concentrar-nos em isolar uma parte da sociedade”, explicou.

Os lares de idosos europeus – muitos devastados pelo vírus na primavera -, esforçam-se para proteger os idosos, isolando-os, o que acaba por causar um grande impacto psicológico em muitos deles.

Em algumas cidades italianas, os residentes de lares não têm permissão para sair há meses. Aqueles que têm consulta médica ficam isolados durante duas semanas quando retornam e o contato físico com familiares é estritamente proibido.

“É claro que precisamos ter cuidado”, disse Silvio Ferrato, que administra uma casa de repouso em Sanfront, no norte da Itália. “Mas ver os nossos convidados a tentar acariciar os seus parentes através de barreiras ou tablets é de partir o coração”, frisou.

Muitos dos hóspedes da casa de repouso não entendem por que não podem passar mais tempo com seus entes queridos. Teresa Gerbaudo, de 85 anos, que se mudou para o local durante o verão, foi perdendo o apetite. Atualmente, come tão pouco que está a ser alimentada por via intravenosa e está a entrar e a sair do hospital.

“É devastador. Estou em casa com o coração partido porque sei que ela está sozinha”, contou a filha, Franca Buffa. Pessoas como a sua mãe “estão a deixar-se levar, como se não quisessem mais lutar. A covid também pode matar indiretamente”, lamentou.

ZAP //

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