A 2.ª Guerra Mundial nunca acabou. Duas potências ainda lutam por um território

U.S. Signal Corps / Wikimedia

Estaline, Roosevelt e Churchill durante a Conferência de Teerão, em 1943

O Japão e a União Soviética nunca chegaram a assinar um Tratado de Paz e continuam até hoje a disputar o controlo das Ilhas Curilas.

Um dia dizem-nos que Coimbra é que é a capital oficial de Portugal, no outro dizem-nos que, afinal, a Segunda Guerra Mundial nunca acabou. Será que o ZAP perdeu a cabeça?

A resposta é não, pelo menos por enquanto. É verdade que, tecnicamente, a Segunda Guerra Mundial nunca chegou ao fim. Para que um conflito seja dado como terminado, tem de ser assinado um Tratado de Paz — algo que o Japão e a União Soviética nunca fizeram.

Este confronto deve-se às Ilhas Curilas, um arquipélago vulcânico com 56 ilhas localizado entre o Mar de Okhotsk e o Oceano Pacífico, cuja posse sempre tem sido disputada entre russos e japoneses.

O primeiro acordo assinado entre as duas nações data de 1855, o Tratado de Shimoda, que determinou que algumas ilhas ficariam sob a esfera de influência russa e as restantes sob a alçada japonesa.

Mais tarde, em 1875, o Tratado de São Petersburgo definiu que o Japão abdicaria de todos os direitos sobre a ilha de Sacalina, que também era disputada entre os dois territórios, em troca do controlo total das Ilhas Curilas. Mesmo assim, este acordo não resolveu a disputa devido às diferenças na tradução, já que estava em francês.

Durante a guerra entre a Rússia e o Japão, em 1904 e 1905, que foi desastrosa para os russos, o Japão conseguiu conquistar as Ilhas Curilas, Sacalina e até algumas partes do leste da Rússia continental.

Já durante a Segunda Guerra Mundial, os países assinaram o Pacto da Neutralidade Soviético-Japonês, em 1941, que teria uma duração de cinco anos, mas previa que qualquer um dos países o pudesse revogar quatro anos após entrar em vigor. E foi precisamente isso que aconteceu — em 1945, a União Soviética usou esta brecha para declarar guerra ao Japão.

Os japoneses foram notoriamente o último país do Eixo a render-se, mas acabaram por ceder a 14 de Agosto de 1945, poucos dias depois da explosão das duas bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki. Entre 18 de Agosto e 3 de Setembro, os soviéticos avançaram com uma ofensiva para reconquistar as Ilhas Curilas, com o apoio dos Estados Unidos, relata o History of Yesterday.

A coisa complicou-se na hora de formalizar o fim da guerra com tratados. Uma das disputas ficou clara na preparação do Tratado de São Francisco, em 1951, que definia os termos da paz entre o Japão e os Aliados. O documento obrigava o Japão a renunciar à reivindicação de Sacalina e das Ilhas Curilas, mas não explicitava que Tóquio teria de reconhecer a soberania de Moscovo sobre os territórios.

Os EUA e o Japão também discordavam dos soviéticos sobre quais ilhas faziam parte do arquipélago. O Tratado definia que as ilhas Habomai e Shikotan, que geograficamente fazem parte das Ilhas Curilas, continuariam sob controlo japonês. Isto fez com que a União Soviética não assinasse o acordo.

Em 1956, as duas nações assinaram uma declaração onde concordaram em cessar os combates. No entanto, o documento era apenas um armísticio, e não um tratado de paz. Por esta razão, a Segunda Guerra Mundial nunca terminou formalmente.

Actualmente, o arquipélago é administrado pela Rússia, mas o Japão continua a reivindicar as ilhas Habomai e Shikotan.

Adriana Peixoto, ZAP //

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