O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, disse hoje que um referendo na Grécia pode ser uma boa oportunidade para os gregos se pronunciarem sobre o que querem.
“Se o governo grego acha que deve fazer um referendo, então deve fazê-lo. Talvez seja a medida acertada para deixar o povo grego decidir sobre está disposto a aceitar as condições ou se quer outro caminho”, afirmou Wolfgang Schäuble aos jornalistas, à chegada à reunião dos ministros das Finanças da zona euro, em Bruxelas.
O responsável pelo tesouro alemão lembrou que já em 2011 essa ideia foi discutida com o executivo grego. Na altura, o primeiro-ministro socialista George Papandreou quis fazer um referendo sobre as condições do programa de resgate, mas a pressão interna e da Europa levou-o a desistir da ideia.
O atual primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, tem dito que, se nas negociações para aceder a financiamento for obrigado a ceder face às promessas que fez aos eleitores, então o certo seria avançar para um referendo de modo a que o povo grego se possa pronunciar.
Até agora, a ideia de uma consulta popular não é bem-vinda quer em Bruxelas quer para muitos parceiros europeus, e o próprio presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselboem, disse há alguns dias que não havia tempo para realizar uma consulta popular até um acordo final.
Voltado a ser questionado sobre esse tema, Dijsselboem disse hoje aos jornalistas apenas que a decisão sobre uma eventual consulta popular “pertence em absoluto às autoridades nacionais”.
Também o comissário europeu Pierre Moscovici, responsável pelos Assuntes Económicos e Financeiros, foi questionado sobre o referendo, mas evitou responder.
À entrada para o Eurogrupo, Moscovici repetiu a ideia de que a reunião de hoje não será “conclusiva”, mas disse esperar que as autoridades gregas mostrem aos seus parceiros o seu empenho em chegar a um acordo alargado sobre as reformas e medidas orçamentais a executar no país.
Desde fevereiro que o chamado Grupo de Bruxelas – que junta a Grécia e as instituições que formavam a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) – está em discussões sobre reformas a serem adotadas pela Grécia que permitam ultrapassar o impasse e transferir para os cofres gregos a última tranche do atual programa de resgate, cuja parcela ascende a 7,2 mil milhões de euros.
No entanto, para isso acontecer ainda são precisos muitos avanços, sobretudo nas pensões, no mercado laboral e nas privatizações, matérias em que as partes ainda têm profundas divergências.
Questionado também à chegada ao Eurogrupo sobre até onde poderá ceder, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, disse que as chamadas ‘linhas vermelhas’ que o governo helénico se recusa a passar continuam a manter-se, mas garantiu que há pontos em que as posições da Grécia e dos credores oficiais coincidem.
Sobre o Banco Central Europeu (BCE), afirmou que espera que a instituição “faça o seu trabalho”. “Como nós estamos a fazer o nosso”, acrescentou.
Além do acesso à última tranche do resgate, para Atenas também é importante alguma flexibilização por parte do BCE, nomeadamente o aumento do valor da linha de emergência em que os bancos gregos se podem financiar e a não colocação de mais exigências aos colaterais apresentados pelos bancos gregos para irem buscar dinheiro ao banco central.
A Grécia gostaria ainda que o BCE permitisse que o tesouro helénico pudesse emitir mais dívida pública de curto prazo.
Sobre este assunto, o presidente do Eurogrupo, Dijsselboem, reiterou a frase de que o “BCE é independente” e que não será o Eurogrupo a “indicar o que o BCE deve fazer”.
/Lusa