Estão internadas, até ao momento, 28 pessoas infetadas com o novo coronavírus no São João, e o hospital já se debate com a falta de camas e de meios. Em Portugal, há mais de 100 médicos em quarentena.
O hospital do país com mais casos positivos de Covid-19 é o Hospital de São João, no Porto. Até ao momento, estão internadas 28 pessoas infetadas neste hospital, que já começou a fazer algumas mudanças para lidar com estes casos.
Há doentes colocados noutras unidades, nomeadamente na ginecologia, e pacientes a dividir quarto, mesmo estando em isolamento. Segundo o Observador, há também ordem para poupar material.
Pedro Silva Costa, enfermeiro no serviço de urgência deste hospital, disse ao matutino que a rutura de material “pode acontecer a qualquer momento” e que “do racionamento à restrição é um passo”.
Para já, não há rutura de stock, mas um condicionamento: “o hospital informou internamente que estava a ter dificuldades em repor o stock máscaras P2, as conhecidas como bico de pato, e pediu para estas serem do uso exclusivo de profissionais que tenham contacto com pacientes positivos”.
As máscaras cirúrgicas estão asseguradas, mas encontram-se em falta as proteções para pés até ao joelho. “Estão a tentar pedir mais fatos completos para substituir essa proteção. Todos os materiais são de uso único, à exceção de uns óculos laváveis numa máquina a altas temperaturas.”
As refeições são distribuídas por um enfermeiro ou por um auxiliar. No entanto, se numa situação normal um enfermeiro pode entrar várias vezes no quarto do paciente, em casos de Covid-19 os enfermeiros do Hospital S. João só entram no quarto “quando for realmente necessário”. A razão? Para “poupar o material“.
No caso das camas, o São João tinha 25 preparadas, mas esse número para casos positivos já foi ultrapassado. Desta forma, ao serviço de infecciologia juntou-se também o serviço de ginecologia no combate ao vírus.
“Os enfermeiros de ginecologia estão, neste momento, a receber formação”, garante ao Observador um enfermeiro do Hospital de S. João, que preferiu não ser identificado, acrescentando que vários doentes infetados estão a ser isolados no mesmo quarto, como o caso de familiares que contraíram a doença na mesma data.
Mais de 100 médicos de quarentena
Mais de 100 médicos estão em quarentena por contacto com doentes infetados ou suspeitos de terem contraído a Covid-19, disse à Lusa o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, que também está em isolamento social. “Não poderei dizer em detalhe, mas ultrapassará a centena neste momento“, afirmou Jorge Roque da Cunha.
Roque da Cunha faz parte deste grupo que está em isolamento domiciliário, após ter sido determinado pelas autoridades de saúde a quarentena de todos os profissionais e o encerramento por duas semanas da Unidade de Saúde Familiar onde o médico trabalha, na sequência da confirmação de um caso positivo de Covid-19.
Roque da Cunha lamentou “mais uma vez” os atrasos da Linha de Apoio ao médico e “a incapacidade” da Linha de Saúde 24 que fez com que a médica demorasse “tempo demais” para fazer o teste que acabou por confirmar a doença. “Não é admissível que se esperem dois dias pela validação de um caso que ainda por cima veio dar positivo”, lamentou.
Por isso, os clínicos reforçam o apelo para que “não seja necessário a validação através de médicos que estão numa linha recentemente criada”, mas que diretores de serviços de Medicina e de serviços de infecciologia também possam “ter o poder para decidir a realização desses testes”.
Reforçam também a necessidade de aumentar os locais onde os testes são feitos e os locais onde há a confirmação desses testes. “É essencial nesta resposta”, sustentou.
“Lamentamos também que só ontem [quarta-feira] o Governo tenha avançado para a aquisição de material de proteção dos médicos”, disse, aludindo ao despacho publicado nesse dia a autorizar o reforço de 20% dos stocks de equipamento individual de proteção, de desinfeção e de diagnóstico (reagentes para testes).
“Temos avisado, apelado, implorado para que essa proteção ocorra. Em muitíssimos centros de saúde não há sequer máscaras cirúrgicas quanto mais material adequado para a proteção. Se não se protegerem os profissionais, que são um altíssimo fator de risco nesta matéria, teremos uma dificuldade muito maior no desenvolvimento desta tarefa”, sublinhou.
Para o dirigente sindical, “a ligeireza com que, inicialmente, o Governo encarou esta questão, de não considerar essencial a proteção dos médicos, faz com que um Serviço Nacional de Saúde que já está no limite da sua capacidade, tenha muito mais dificuldade em fazer aquilo que é a sua função com profissionais em quarentena”.
Ao contrário do sindicato dos médicos, a Ordem dos Enfermeiros não tem, neste momento, indicação de que haja algum profissional de enfermagem a cumprir quarentena ou infetado com o novo coronavírus.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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