Moscovo está a avançar na linha da frente e quer conquistar o último reduto de Donetsk até 9 de maio, Dia da Vitória. Kiev teme o pior: em causa estão golpes muito difíceis de inverter.
Pelo menos oito pessoas morreram e 18 ficaram feridas num ataque russo contra em Cherniguiv, cidade no norte da Ucrânia, de acordo com um balanço do presidente da câmara, que relatou “três explosões na cidade”. Tratou-se de um “ataque direto a um edifício de infraestruturas sociais”, acrescentou.
O governador da região disse anteriormente que o ataque tinha atingido o centro da cidade, referindo que tinham “morrido civis” e que “muitos tinham ficaram feridos”.
Uma das cidades mais antigas da Ucrânia, fundada há mais de mil anos, Cherniguiv, que tinha uma população de quase 300 mil habitantes antes da invasão russa há dois anos, fica a cerca de 60 quilómetros da fronteira com a Bielorrússia, país aliado da Rússia.
Mas os olhos de Moscovo estão postos noutra cidade estratégica: Chasiv Iar.
Ravina Silenciosa, porta para a “espinha dorsal”
Os russos querem ter a cidade nortenha de Chasiv Iar (Ravina Silenciosa) controlada até 9 de maio, data em que se assinala a vitória soviética sobre a Alemanha nazi — a cidade é o último reduto de Donetsk e, assim, um ponto estratégico para tomar toda a região.
As brigadas de Kiev na cidade, que fica a 12 quilómetros da zona de Bakhmut, tomada em maio pelos russos, estão a aguentar os ataques… por enquanto.
A Rússia prepara-se para fazer de tudo para alcançar a cidade. Se o conseguirem fazer, conseguirão lançar ofensivas diretas contra várias “cidades-fortaleza” ucranianas, segundo a agência Reuters.
As “cidades-fortaleza” do leste da Ucrânia — Sloviansk, Kramatorsk, Druzhkivka e Kostiantynivka — são todas acessíveis a partir de Chasiv Iar, acreditam os analistas militares russos.
“Chasiv Iar está localizada num terreno elevado; se a Rússia conseguir tomar a cidade, poderá conseguir aumentar o seu ritmo de progressão no terreno”, afirmou o analista militar Rob Lee, citado pelo Kyiv Independent.
Estas cidades são consideradas “a espinha dorsal” da defesa do exército ucraniano a leste, diz o grupo de reflexão do Instituto de Estudos de Guerra (IWS), com sede em Washington, que avisa: perder Druzhkivka e Kostiantynivka seria um golpe muito difícil de inverter.
Neste momento, os paraquedistas russos já chegaram ao extremo-oriental da cidade, que já estará a ser bombardeada. Soldados russos estão a exigir a rendição dos seus homólogos ucranianos em Chasiv Iar, de acordo com a agência estatal russa Rossiyskaya Gazeta: caso contrário, que se preparem para serem eliminados por bombas aéreas teleguiadas.
A cidade serve atualmente de ponto de reagrupamento e de base de artilharia avançada para o exército ucraniano, mas tem sido ferozmente atacada pelos russos. Lá, restam poucos cidadãos residentes. A maioria são idosos, alguns dos quais estarão a ser evacuados.
“O período de ‘luta por Chasov Yar’ [o nome que os russos lhe dão] já começou. Será longo. Os combates serão praticamente os mesmos que os de Bakhmut”, escreveu Sergei Markov, um antigo conselheiro do Kremlin, no seu blogue oficial.
O objetivo de Moscovo passa por comprimir as forças ucranianas a leste, sul e norte, forçando-as a fugir para oeste.
Situação piorou
A situação no campo de batalha tem vindo a “deteriorar-se significativamente” do lado ucraniano, admitiu este fim-de-semana o comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Sirskii.
“Apesar de perdas significativas, o inimigo tem intensificado os seus esforços, usando novas unidades em veículos blindados, graças aos quais consegue periodicamente obter ganhos táticos”, disse. O inverno foi duro para o exército ucraniano e deu vantagem à Rússia, que repôs as suas forças mais rapidamente.
O próprio presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, admitiu esta semana que a situação na linha da frente, em Donetsk, “está a piorar”.
“A situação na frente numa guerra quente é sempre difícil”, disse, citado pelo Ukrainska Pravda: “Mas nestes dias, especialmente na zona de Donetsk, está a piorar.”
Kiev continua a pressionar os EUA para enviar um novo pacote de ajuda, com receio da grande ofensiva russa na linha da frente. Faltam homens, faltam munições, insiste Zelenskyy. Sem defesa aérea, Ucrânia vê-se obrigada a “recuar passo a passo” perante as forças russas, avisou o presidente ucraniano.
A falta de armamento, bloqueado no Congresso dos EUA, “significa que iremos retroceder, recuar, passo a passo, em pequenos passos”, disse Volodymyr Zelenskyy ao jornal The Washington Post. Perante a falta de munições, é preciso “fazer com menos” e isso significa “recuar, tornar a linha da frente mais pequena”.
De qualquer forma, Kiev prepara-se para perder território nos próximos meses de calor, mesmo com nova ajuda ocidental.
Guerra na Ucrânia
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