O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, acusou hoje a TAP de “impor um confinamento ao Porto e Norte” e de “abandonar o país” neste momento de pandemia em que Portugal “mais precisa” da transportadora aérea.
“A realidade é simples: a TAP está a tentar impor um confinamento ao Porto e Norte e fá-lo na senda daquilo que tem sido a sua história. A TAP nunca perdeu o vínculo de ser uma empresa de caráter colonial e a sua estrutura nunca pensou de outra maneira”, afirmou Rui Moreira, em conferência de imprensa, na Maia, no distrito do Porto, na qual vários autarcas da região e o presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal anunciaram, numa posição pública conjunta, que vão pedir a intervenção do Governo na TAP, cujo plano de retoma prevê para junho apenas três voos entre Porto e Lisboa.
Segundo Rui Moreira, a TAP “não voltou por estratégia”, mas sim “por oportunismo”.
“Agora, num momento em que se encontra numa situação de debilidade” e “na altura em que o país mais precisa, a TAP abandona o país, porque estar só em Lisboa representa abandonar o país”, criticou o autarca.
A TAP publicou na segunda-feira o seu plano de voo para os próximos dois meses que implica 27 ligações semanais em junho e 247 em julho, sendo a maioria de Lisboa.
A TAP tem a sua operação praticamente parada desde o início da pandemia, à imagem do que aconteceu com as restantes companhias aéreas, prejudicadas pelo confinamento e pelo encerramento de fronteiras apara conter a covid-19.
Também o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes da Área Metropolitana do Porto (STTAMP) considerou “irrisória” a percentagem de voos da TAP com origem do Porto. O sindicato acusa a TAP de continuar a “olhar para o país com os mesmos tiques de centralismo” de outras instituições.
“É incompreensível que um país que nos últimos anos tem tido no turismo uma das mais importantes componentes da sua balança comercial concentre de uma forma inqualificável a operação aeroportuária na região de Lisboa, fustigando uma vez mais a economia da região Norte, mantendo a linha do centralismo bafiento que a história de Portugal desde há muito regista”, escreve o STTAMP, citado pelo Público.
BE fala em “desvalorização completa do Porto”
O Bloco de Esquerda (BE) criticou esta terça-feira a estratégia da TAP para o Aeroporto do Porto, acusando a companhia aérea nacional de transformar aquela estrutura numa “espécie de apeadeiro ao serviço do Aeroporto de Lisboa“.
Em declarações aos jornalistas, no Porto, o deputado do BE José Soeiro defendeu que a estratégia da TAP de “desvalorização completa do Porto” e de concentração da operação na capital “não corresponde ao que devia ser uma política equilibrada de uma empresa” que tem um papel importante para todo o país.
“E por isso é que nós fomos sempre contra a privatização da TAP, mas também da privatização de uma estrutura aeroportuária, aqui no Porto concretamente, onde, nos últimos anos, houve um investimento de dinheiro público na ordem dos 500 milhões e que está a ser cada vez mais colocada basicamente ao serviço das empresas ‘low cost'”, afirmou o bloquista à margem de uma conferência de imprensa de apresentação de um programa de resposta à crise sanitária, económica e social para o distrito do Porto.
O Bloco, que no final de abril apresentou um projeto de lei com vista à nacionalização da TAP, considera que “a política da TAP é inaceitável” e que “o modo como tem vindo a ser gerido o aeroporto” do Porto é “errado”.
Por estas razões, o partido defende que a nacionalização da TAP deve vir “naturalmente” acompanhada de uma intervenção direta na gestão da empresa, e “não como tem acontecido”.
A companhia aérea já tem a informação da retoma da atividade disponível no seu ‘site’, avisando que as rotas podem vir a ser alteradas caso as circunstâncias o exijam.
ZAP // Lusa