Os manuscritos “roubados” não acabam no mercado negro, nem perdidos na dark web. Quando as cópias são enviadas, simplesmente desaparecem, um pormenor que adensa o mistério dos e-mails fraudulentos.
Escritores de todo o mundo têm recebido e-mails a pedir o envio dos manuscritos dos seus projetos literários inacabados. As mensagens de correio eletrónico parecem ser dos seus editores e, por isso, os autores anexam os rascunhos e enviam sem desconfiar.
No entanto, segundo o The New York Times, o remetente não são os editores, mas alguém que se fez passar por eles.
Tal como numa narrativa de suspense, há um plot twist neste esquema fraudulento: nada acontece aos manuscritos que os escritores enviam a alguém que desconhecem. De acordo com o diário norte-americano, não são vendidos no mercado negro, não vão parar à dark web, nem há um pedido de resgate em troca da sua devolução.
Ninguém sabe o que acontece aos manuscritos que desaparecem misteriosamente, nem quem está por detrás do esquema de phishing que tem prejudicado (e confundido) escritores de todo o mundo, como Margaret Atwood ou Ian McEwan.
“Parece que ninguém sabe nada além do facto em si e isso é o que é inquietante“, disse ao The New York Times o editor David Halpern, também vítima do golpe.
Para Catherine Eccles, dona de uma editora de livros britânica, o esquema está muito bem montado e deverá ter sido realizado por alguém com conhecimento no mundo literário. “Eles sabem quem são os nossos clientes e sabem como é que nós interagimos com eles”, argumentou.
Uma prova de que quem está por detrás dos ataques conhece bem o meio editorial é o recurso a e-mails personalizados para transmitirem a imagem de que se trata de um agente específico.
Há pequenas alterações nos nomes de domínio – como penguinrandornhouse.com em vez de penguinrandomhouse.com, com um “rn” no lugar de um “m” – que passam despercebidas num primeiro olhar.
Os e-mails começaram a circular há pelo menos três anos, são enviados tanto a autores famosos como a pouco conhecidos e atinge escritores de vários países. Recentemente, o foco tem estado sobre os escritores norte-americanos.
Apesar de, aparentemente, não acontecer nada aos manuscritos, os autores revelam-se desconfortáveis com a situação. Uma das teorias aponta que o esquema tem como objetivo roubar o manuscrito para vendê-lo a leitores ávidos, mas não houve qualquer confirmação do sucedido até agora. Outra dá conta de que os manuscritos vão parar à dark web, mas nenhum foi encontrado lá.
Talvez estejam a guardá-los durante uns anos, para os venderem?…