Um estudo publicado esta sexta-feira revela que a chamada “imunidade de grupo” está longe de ser alcançada em França.
O risco de uma segunda vaga de covid-19 em França é “extremamente elevado“, de acordo com um estudo publicado esta sexta-feira, que aponta que o número de pessoas suscetíveis de contágio permanece alto, com baixa percentagem de imunizados.
Os autores do estudo, elaborado por investigadores do Instituto Nacional de Investigação Agrícola e Ambiental (INRAE) e publicado na Frontiers in medicine, aconselham prudência no desconfinamento e sublinham a importância de manter a distância social e as medidas de higiene.
Através da aplicação de modelos matemáticos complexos e de projeções estatísticas, os investigadores concluíram que no início de maio, quando terminou o confinamento da população, ainda existiam cerca de 100 mil casos infecciosos no país.
O investigador Lionel Roques, que liderou o estudo, disse à EFE que, antes do confinamento, os casos de infeção aumentavam 25% por dia, mas que mesmo após as medidas instauradas pelo Governo para limitar a interação social, a redução do número de casos positivos foi muito lenta, rondando apenas 5% por dia.
De acordo com o modelo estatístico, quando a pandemia atingiu o pico em França, no início de abril, havia um milhão de contágios. Destes, mais de um mês depois, ainda permaneciam 100 mil.
As medidas de confinamento decretadas pelo Governo de Emmanuel Macron levaram a que a taxa de infeções por doente fosse dividida por sete (o chamado factor R), para atingir 0,5, mas o investigador advertiu que é suficiente que esse indicador atinja 1,4 para que uma segunda vaga ocorra.
Este aumento já se verificou no início da pandemia, quando a propagação da doença surpreendeu as autoridades, limitando o seu tempo de reação.
Por outro lado, o estudo aponta que a chamada “imunidade de grupo” está longe de ser alcançada em França, onde, segundo projeções, apenas três milhões de pessoas desenvolveram anticorpos, o que representa 4% da população, longe dos 70% necessários.
O responsável do estudo precisou que este valor é uma estimativa baseada em infeções confirmadas, mas não reflete o valor real, já que não foram realizados testes em massa.
O cientista considerou “incompreensível” que França não tenha realizado um estudo de seroprevalência maciço, como fizeram países como Espanha, o que teria permitido uma melhor compreensão da penetração da doença na população, da sua distribuição territorial e da taxa de letalidade do vírus, defendeu em declarações à Efe.
Uma vez levantadas as medidas de contenção, só medidas sociais e de higiene podem impedir que uma segunda vaga atinja uma intensidade que colocaria de novo em risco o sistema de saúde do país, afirmou Roques.
O investigador acredita, no entanto, que o confinamento introduziu novos hábitos nos costumes franceses, como a higiene das mãos ou a generalização do uso das máscaras, que podem reduzir para metade a taxa de infeção por doente. “É o único elemento que pode impedir que o número de infeções volte a pôr em risco o sistema de saúde”, afirmou.
A segunda fase do fim do confinamento em França começou no dia 2 de junho, com a possibilidade de regressar às esplanadas e de viajar para distâncias superiores a 100 quilómetros. Desde o início da pandemia, aquele país registou 29.065 mortos e mais de 189 mil casos de covid-19.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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