/

“Risco mais alto do que nunca”. WWF alerta para risco de novas pandemias

3

Mahmoud Khaled / EPA

A associação ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF) alerta para a possibilidade de novas pandemias como a de covid-19, porque há condições para tal, a menos que se tomem medidas urgentes.

O alerta é deixado num relatório esta quarta-feira divulgado, no qual a rede mundial de conservação da natureza identifica os fatores ambientais que impulsionam o aparecimento de doenças transmitidas aos humanos pelos animais (zoonoses), referindo a que só com uma grande mudança se pode preservar a saúde das pessoas.

Com o titulo “Covid-19: Apelo urgente para proteger pessoas e animais”, no relatório da WWF lembra-se que todos os anos surgem três a quatro novas zoonoses, algumas muito graves (como o VIH/Sida ou Síndrome Respiratória Aguda — SARS e a covid-19), e diz -se que as más normas de segurança alimentar estão a aumentar, como o comércio e consumo de animais selvagens, potenciando a exposição a doenças.

Segundo a WWF “o risco de surgir uma nova doença zoonótica no futuro é mais alto do que nunca, com o potencial de causar caos na saúde, nas economias e na segurança global”.

A covid-19, exemplifica, teve para já um impacto económico no mundo que representa quase o triplo do PIB do Reino Unido.

O comércio e consumo de animais selvagens, a desflorestação, a expansão da agricultura extensiva e a “intensificação insustentável da produção animal” são fatores que propiciam o aparecimento de zoonoses, segundo o documento.

Num comunicado divulgado pela Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha em associação com a WWF, lembra-se que o novo coronavírus, que provoca a doença covid-19 (que já matou quase 500 mil pessoas e infetou mais de oito milhões em todo o mundo), deverá ser uma zoonose, segundo “todas as evidências disponíveis”.

E a doença não surgiu, diz-se no comunicado, por falta de avisos de cientistas e líderes de opinião. “Temos de reconhecer urgentemente a ligação entre destruição da natureza e saúde humana, ou assistiremos a uma nova pandemia em breve. Não há dúvida, e a ciência é clara, temos de trabalhar em conjunto com a natureza, e não contra ela”, disse a propósito do relatório a diretora executiva da ANP/WWF, Ângela Morgado.

Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da associação, defendeu a urgência de “restringir o comércio e o consumo de vida selvagem de alto risco, pôr fim à desflorestação e conversão de terra, assim como gerir a produção alimentar de forma sustentável”.

São medidas que, no entender da especialista, prevenirão a transmissão de agentes patogénicos para humanos.

WWF pede resposta coletiva

No relatório a WWF preconiza uma resposta coletiva que interrompa o atual ciclo, recuperando a natureza, acabando com o comércio ilegal de animais selvagens, parando com a desflorestação e a reconversão de terras. E deixa apelos nesse sentido a governos, empresas e indústrias e cidadãos.

Devido à covid-19, lembra a WWF, o Governo chinês proibiu o consumo de animais selvagens a 24 de fevereiro, e pode mesmo aprovar uma Lei de Proteção de Vida Selvagem, que será das mais “robustas e rigorosas”.

Mas é preciso mais, defendem os ambientalistas no documento, salientando que o atual sistema alimentar é insustentável e está a fazer com que muitos espaços naturais sejam convertidos para agricultura intensiva, “fragmentando ecossistemas naturais e aumentando as interações entre a vida selvagem, animais domésticos e humanos”.

E dão um exemplo: desde 1990 desapareceram 178 milhões de hectares de floresta, um número equivalente ao tamanho da Líbia, o 18.º maior país do mundo. A cada ano, acrescentam, cerca de 10 milhões de hectares de floresta estão a desaparecer, para dar lugar a terras para agricultura e outros usos.

“A crise da covid-19 demonstra que mudanças sistémicas devem ser feitas de forma a abordar os fatores ambientais das pandemias. A ANP|WWF advoga uma abordagem conjunta, que ligue a saúde das pessoas, dos animais e do ambiente e apela a que esta ligação seja incluída nas tomadas de decisão referentes à vida selvagem e ao uso de terras”, pode ler-se no mesmo comunicado.

A ANP/WWF considera a cimeira da ONU sobre diversidade biológica, agendada para setembro, um momento importante para “os líderes mundiais acelerarem a ação em relação à natureza”.

// Lusa

3 Comments

  1. Interessante ser colocado agora tudo no mesmo saco e um alarmismo geral; não entendo é como não é difundido a sério o papel de encobrimento da divulgação de informação por parte da China, e a mesma ser sancionada, tal como a WHO e o conluio da mesma com a China.

    Ninguém acorda para esta realidade? Deixem-se de alarmismos e responsabilizem quem provocou a pandemia e a encobriu – Dúvidas? Existem várias provas factuais, basta uma simples busca nos motores de pesquisa.

    Este tipo de alarmismo além de prejudicar a economia mundial e cada um de nós, já cansa pela falta da inércia da responsabilização dos maus ‘atores’ das diversas organizações e países.

    Por exemplo: em Portugual continuamos com a HUAWEI felizes e contentes – no mínimo triste!
    (Não vê a relação? Pesquise! Informe-se!)

    • O Sr. está um pouco confuso. Os motores de busca também nos dão “provas factuais” de que a Terra é plana, se for essa a sua crença. Com mais ou menos conspiração chinesa, a verdade é que tanto o COVID-19 como muitas das epidemias recentes estão diretamente ligadas ao facto de não haver respeito pela natureza, nem um desenvolvimento humano em equilíbrio com a mesma. O resto é conversa politiqueira barata. E este artigo nem sequer menciona o problema da utilização massiva de antibióticos na produção animal, por vezes de forma totalmente irresponsável (caso da Índia) – que mais tarde ou mais cedo vai levar a um gravíssimo problema de saúde pública mundial devido a bactérias multiresistentes. O atual modelo de desenvolvimento é completamente insustentável, e se acha que este tipo de “alarmismo (…) prejudica a economia mundial”, imagine como ficará a economia mundial com uma pandemia ainda pior que esta ou quando não existirem mais recursos no planeta para explorar. Informe-se e pesquise, mas de preferência mais em sites com informação científica fidedigna, e menos em sites de politiquismo barato e de teorias da conspiração. E olhe que mudar ou evoluir a nossa opinião é sinal de inteligência, não de fraqueza.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.