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Listas aprovadas. Rio sobreviveu a um Conselho Nacional “pacífico” e Hugo Soares saiu com a medalha do veto ao peito

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Hugo Delgado / Lusa

Houve quem ficasse em casa e quem viajasse até Guimarães para dizer na cara de Rui Rio o que pensam do líder e da sua estratégia para o PSD. Hugo Soares, o único excluído pela direção do partido das listas de candidatos às legislativas de outubro, foi um deles: entrou, falou e foi embora.

Se António Costa precisou de três horas para aprovar as listas de candidatos a deputados do PS, Rui Rio precisou de 14. O Conselho Nacional do PSD aprovou as controversas listas de deputados às legislativas de 6 de outubro, na madrugada desta terça-feira, com 80 votos a favor, 18 contra e dez abstenções. Conheça aqui os candidatos do PSD às próximas eleições.

A primeira reunião, a da Comissão Permanente, teve início às 13h desta terça-feira, num Hotel de Guimarães, e só acabou perto das 17h. Depois, seguiu-se a reunião da Comissão Política Nacional, que começou já com um atraso, onde se votaram as listas de candidatos a deputados que seriam, horas depois, apresentadas ao Conselho Nacional.

Na terceira reunião, onde decorreu a derradeira votação, as listas acabaram por ser aprovadas por 74% dos 108 conselheiros com direito a voto – com 18 votos contra e dez abstenções. Em relação aos 60% que Rui Rio conseguiu no episódio do impeachment de Luís Montenegro, em janeiro, a vitória desta terça-feira foi conseguida com uma percentagem confortável.

O líder do partido fez cedências, deixou alguns dos seus ficar por terra e acabou por ver alguns dos seus mais próximos ficar fora das listas ou até em lugares considerados difíceis de eleger. Ainda assim, Rio conseguiu sobreviver a mais uma noite longa do PSD.

Até foi razoavelmente pacífico“, reagiu o presidente do partido às 3h da manhã, afirmando que estes processos são sempre muito turbulentos quando o PSD “está na oposição”. “Não há aqui saneamentos selvagens, não são privilegiados os amigos, há o equilíbrio possível dentro do partido”, rematou, citado pelo Observador.

Na prática, dos 89 deputados eleitos em 2015 pelo PSD, 49 estão fora das listas para as legislativas e 39 voltam a repetir-se. Do núcleo duro do partido, apenas três elementos são candidatos a deputados: Rui Rio, número dois pelo Porto, o secretário-geral José Silvano, número dois por Lisboa, e Isabel Meirelles, número quatro pela capital. Fernando Negrão, atualmente líder parlamentar, também aparece em Setúbal como número dois.

Já as linhas gerais do programa político às legislativas tiveram luz verde com 17 abstenções. Fonte afeta à Distrital do PSD/Porto disse ao Expresso que os conselheiros nacionais votaram o programa “quase às cegas”, pois só em Guimarães tiveram acesso ao documento “de cento e tal” páginas.

“O que se votou foram os índices resumidos em três páginas, já que era impossível analisar o programa na globalidade. Não me lembro de uma coisa assim no partido”, referiu a mesma fonte.

Hugo Soares entrou, falou e saiu

Hugo Soares, apoiante de Luís Montenegro, chegou a Guimarães, destemido, com duas mensagens na manga. A primeira é a de que o PSD não pode continuar a contar com ele, até porque considera que tem “algumas qualidades no combate ao PS” e que esse combate vai continuar a ser feito, “nunca combatendo” o PSD.

A segunda mensagem era em tom de aviso ao presidente do partido. “Venho dizer cara a cara o que eu penso sobre a situação interna do partido e sobre a análise da situação política nacional”, afirmou.

Dentro de quatro paredes, Hugo Soares atirou sem medo diretamente a Rui Rio: “Vim cá dizer que o senhor não gosta do partido“, começou por dizer, explicando logo de seguida o porquê. Para Soares, Rio não “respeita a militância, as estruturas e a pluralidade” do PSD e “desrespeita o grupo parlamentar e os deputados.”

Além disso, segundo a TSF, o ex-líder parlamentar sublinhou que o líder do partido não gosta do PSD “porque preferia um partido pequeno, sem representatividade, ao seu estilo”, e acrescentou: é alguém que  “escolhe os seus amigos em vez de respeitar a militância.”

Mas se todo o tom da oratória de Hugo Soares foi de crítica, a lista estava ainda a meio. O antigo líder parlamentar lembrou que Rui Rio não é o único a gostar do confronto: “mas eu sou bom a combater o PS, você é bom a fustigar o PSD”.

Depois de uma semana turbulenta, o secretário-geral José Silvano afirmou que veto só há um: o de Hugo Soares. Segundo o secretário-geral do PSD, a aprovação das listas teve “cedências mútuas”, mas “foi largamente consensual e só num caso entrou ou saiu alguém sem a aprovação da comissão política distrital”.

No entender da direção do partido, “houve apenas um veto por parte da Comissão Política Nacional, caso de Hugo Soares em Braga, e por indisponibilidade para colaborar com a atual direção”. Maria Luís Albuquerque e Miguel Pinto Luz, por exemplo, nunca foram vetados, disse Silvano, adiantando que foi apenas sugerida a alteração de lugar, o que as respetivas distritais decidiram não aceitar.

Sobre o veto, Hugo Soares garantiu que “carrega essa medalha ao peito porque é um veto cheio de futuro”. A intervenção terminou com um pedido a Rui Rio: “que a raiva que tem ao PSD a coloque contra o PS para fazer jus às suas palavras de que perde sondagens, mas ganha eleições.”

Rio deixou alguns pelo caminho, mas houve uma vitória

Apesar de ter largado a mão a alguns dos seus, Rui Rio conseguiu manter outros que estiveram ao seu lado no impeachment de Luís Montenegro. É o caso de Carlos Eduardo Reis ou Rui Cristina, que representam uma lista própria no Conselho Nacional que detém 13 importantes votos.

Já João Montenegro a direção não conseguiu impor na lista de Viseu, uma vez que a distrital e o cabeça de lista se opuseram. O máximo que Rio conseguiu foi um quinto lugar para ele, não-elegível, que acabou por ser rejeitado pelo próprio.

No entanto, a vitória final da noite, e a maior alegria do líder, foi o número: 74% de votos a favor ou, para Rui Rio, 82% – isto porque, para efeitos de maioria, os estatutos do PSD não contabilizam os resultados da abstenção.

Se Rio conseguiu vencer o duelo de titãs contra Montenegro, sai agora do Conselho Nacional com uma taxa de aprovação interna de 74% dos votos.

Vozes críticas que foram (quase) um sussurro

Nas últimas semanas, vieram à tona inúmeras vozes críticas contra a direção nacional do partido. No entanto, no Conselho Nacional desta terça-feira, onde se poderiam efetivamente fazer ouvir, foram poucos os que se levantaram para fazer frente ao líder.

De acordo com a TSF, um conselheiro de Leiria considerou que esta é “a pior lista de sempre no distrito” e, mais a sul, houve quem questionasse a exclusão de Miguel Pinto Luz em Lisboa, “um dos mais bem preparados”.

Bruno Vitorino, líder por Setúbal, confirmou logo à entrada ao mesmo diário que aquela estrutura ia votar contra as listas. “Não compreendemos o porquê destes vetos, o porquê de vetarem um conjunto de outros militantes, entre os quais eu também me incluía, não compreendemos o porquê de uma imposição de um primeiro nome e depois de um segundo nome, contrariando tudo o que são as regras do PSD”, explicou.

Olhos nos olhos, Vitorino apontou o dedo a Rio por vários motivos: a não inclusão de Maria Luís Albuquerque no caso de Setúbal; o caso igualmente peculiar de Hugo Soares e Miguel Pinto Luz; e ainda o facto de ter sido votado “um índice do programa eleitoral”, uma vez que o programa foi distribuído aos conselheiros nesta reunião em Guimarães.

António Leitão Amaro também se fez ouvir. “Vamos ou não dar a mão aos socialistas?“, questionou o deputado que se autoexcluiu das listas logo à partida. O mau resultado nas eleições europeias também não passou ao lado: segundo um conselheiro, Rui Rio “não devia ter culpado Paulo Rangel, foi indigno”.

Perante as críticas, Rui Rio não se pronunciou e, sem rebater, leva para análise tudo o que lhe disseram nesta terça-feira à noite, em mais uma noite longa para o PSD.

LM, ZAP //

1 Comment

  1. O unico comentario que se me oferece dar é que o Huguinho levou para tabaco, como se diz na giria, Na opiniao dele, ele é que é o supra sumo do PSD, ele é que é o melhor, e afinal nao digeriu bem a derrota do seu amiguinho montenegro, passados tantos meses ainda continua com azia, coitado, ele saferá que pode tomar alguns alka seltzers??? Tome homem pode ser que lhe passe a azia. NOTA: nunca votei, nem votarei PSD, portanto estou à vontade para comentar, só nao quero que o PSD ganhe eleiçoes nem para um clube de bairro, só que não gosto de ver ressabiados a deitar postas de pescada cá para fora, quando são alguem sem qualquer credibilidade.

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