Os médicos que trataram os 12 rapazes e o seu treinador que ficaram presos durante duas semanas, no ano passado, numa gruta na Tailândia, vieram agora a público dizer que a ketamina teve um papel fundamental no sucesso da complexa missão de resgate.
Numa carta publicada na quinta-feira no New England Journal of Medicine, três médicos tailandeses e um anestesista australiano envolvidos no resgate contam que os jovens foram sedados com a droga para auxiliar o processo de retirada da gruta de difícil acesso de Tham Luang, na Tailândia, onde ficaram presos, avançou na quinta-feira a Visão.
Na altura, especulou-se que os menores teriam sido sedados durante a operação, mas esta é a primeira vez que o recurso à substância é confirmado. Os clínicos não revelaram, no entanto, as doses administradas pelos mergulhadores.
“Tivemos de usar o que podíamos para impedir que as crianças entrassem em pânico enquanto as trazíamos para fora”, explicou, na altura do resgate, o comandante dos SEAL tailandeses Arpakorn Yookongkaew. “O mais importante é que estão vivos e seguros”, acrescentou, sem adiantar mais nada.
Agora, os médicos dão pormenores sobre a operação e defendem o uso da ketamina, lembrando o risco de hipotermia (o segundo rapaz a sair da gruta tinha uma temperatura corporal de apenas 35 graus). Sabe-se que um dos efeitos da substância é a diminuição dos arrepios e da diminuição da temperatura.
Sintetizada pela primeira vez em 1962, e usada pelos médicos do exército americano em soldados a combater no Vietname, como analgésico e sedativo, a ketamina, graças ao seu possível efeito alucinogénico, ganhou (má) fama e ficou associada ao consumo recreativo e ao uso como “droga de violação”. Atualmente, o seu uso mais frequente é como anestésico veterinário.
Segundo o Gizmodo, recentemente, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou um sedativo semelhante à ketamina para o tratamento da depressão. Na carta, os médicos explicam que a ketamina reduz os vasos sanguíneos, o que dificulta a queda da temperatura corporal e os arrepios.
Os rapazes, com idades entre os 11 e 16 anos, e o seu treinador de 25 anos, pertenciam a uma equipa de futebol e desapareceram a 23 de junho, depois de saírem para um passeio de bicicleta após o treino. Na altura, as inundações resultantes das monções bloquearam-lhes a saída da gruta e impediram que as equipas de resgate os encontrassem durante nove dias.
Cada um dos rapazes, acompanhado por um mergulhador, teve de passar submerso grande parte do percurso até à saída. Nas partes secas, eram transportados em macas e foi assim que saíram da gruta, com máscaras de oxigénio. A operação ficou marcada pela morte de um antigo elemento da marinha tailandesa, por falta de oxigénio, depois de fazer chegar, precisamente, uma reserva de oxigénio às crianças.
Como relata o Gizmodo, um dos autores da carta é Richard Harris, anestesista e mergulhador que participou na missão de resgate. No início deste ano, contou à National Geographic que duvidava do plano de resgate. “Estava a contar que os dois primeiros rapazes se afogassem e então teríamos que fazer algo diferente. Coloquei as suas hipóteses de sobrevivência em zero”, disse.