Em público, o governo de Boris Johnson afirma que ainda não é tempo de apertar as medidas de combate à pandemia, mas em privado já está a ponderar como pode avançar com o Plano B.
Depois de ter inicialmente conseguido controlar a pandemia após o desconfinamento total em Julho, a pandemia tem voltado em força no Reino Unido. Na última segunda-feira, o país registou quase 50 mil novos casos — mais do triplo do número de novas infecções de França, Itália, Alemanha e Espanha combinados.
Os números mais recentes mostram também mais quase 40 mil casos no domingo. Perante esta grande subida nas infecções, tem crescido também o coro de vozes que apela a que o governo avance com o Plano B no combate à pandemia.
Actualmente está em vigor o Plano A, que se baseia nas doses de reforço da vacina para cerca de 30 milhões de pessoas e na administração de uma única dose a jovens entre 12 e 15 anos e encoraja também a ventilação em reuniões em espaços fechados, a lavagem frequente das mãos e o uso de máscara em locais com muita gente. Os testes também continuam gratuitos.
No entanto, muitos especialistas querem um aperto nas medidas perante a escalada dos casos. A Associação Médica Britânica (BMA) já acusou o executivo de Boris Johnson de ser “deliberadamente negligente” por não impor regras mais duras.
Segundo o médico Chaand Nagpaul, os clínicos podem dizer “categoricamente” que “agora é o momento” para se avançar com o Plano B já que os números são comparáveis com os de Março, quando o país estava confinado e que são muito mais severos do que noutros países europeus.
“É por isso incrivelmente preocupante que o Sajid Javid (Secretário de Estado da Saúde) não esteja disposto a adoptar medidas imediatas para salvar vidas e proteger o Serviço Nacional de Saúde”, afirmou, citado pela BBC.
O presidente da Confederação do Serviço Nacional de Saúde britânico, Matthew Taylor, também pediu ao governo que avançasse com o Plano B para evitar o caos nos hospitais. “O serviço de saúde está no limite“, revelou à rádio 4 da BBC, dizendo que o país tem de decidir se “vai cair numa crise outra vez” mesmo com as “provas” científicas.
O Plano B implica o uso obrigatório de máscara em certos cenários, o uso de certificados de vacinação, a recomendação do regresso ao teletrabalho e uma mensagem mais cautelosa por partes das autoridades.
O Partido Trabalhista juntou-se aos especialistas na exigência de medidas mais duras. A Ministra Sombra das Finanças, Rachel Reeves, afirmou à BBC que o plano de vacinação tem de ser melhorado.
“Acho que a primeira coisa que o governo tem de fazer é garantir que o Plano A funciona. Se os cientistas estão a recomendar o teletrabalho e as máscaras, devemos fazer isso. Por isso façam o A funcionar melhor porque o programa de vacinação tem-se alongado e introduzam partes do Plano B“, recomendou, sublinhando que outras medidas que não integram nenhum dos planos, como o pagamento das baixas médicas e a melhor ventilação em espaços públicos também devem ser implementadas.
No entanto, os Conservadores responderam que os Trabalhistas mudaram de posição sobre o Plano B três vezes em apenas quatro dias. Rishi Sunak, o Ministro das Finanças respondeu que os dados não sugerem que se deve “avançar imediatamente para o Plano B” e o executivo não tem dados específicos definidos que obriguem à sua implementação, apesar de ter prometido que iria monitorizar as hospitalizações e as subidas nos números.
O Secretário da Saúde, Sajid Javid, também disse na quarta-feira que nesta fase, o executivo não vai avançar com o Plano B, mas avisou que um aperto nas restrições é provável se os níveis de vacinação não forem suficientes.
Mais de quatro milhões de pessoas já levaram a dose de reforço em Inglaterra, mas 14% das pessoas com mais de 12 anos em todo o Reino Unido continuam sem vacinação. O governo também negou notícias de que estaria a considerar um Plano C que proibiria as visitas entre famílias diferentes.
Um porta-voz do executivo alertou que as autoridades estão a “acompanhar as métricas normais” usadas sobre o coronavírus e “não hesitarão em agir caso seja preciso“. O gabinete de Boris Johnson afirmou também que o governo tem ouvido os especialistas mas que “nem sempre concordam”.
Em declarações na sexta-feira, o primeiro-ministro recusou a necessidade de mais medidas e preferiu encorajar a população a vacinar-se. “As vacinas são a maneira de sair desta pandemia”, aconselhou Johnson.
O Ministro da Saúde Edward Argar também já negou que os serviços de saúde estejam sob “pressão insustentável” que justificasse mais restrições, dizendo à BBC que há cerca de 95 mil camas nos hospitais, com 7000 ocupadas por doentes covid e 6000 livres.
Contudo, apesar de em público garantir que ainda não é preciso avançar com medidas mais duras, segundo o semanário The Observer, o governo está a contacar autoridades locais para avaliar o seu nível de apoio a uma aplicação imediata do Plano B.
A revelação partiu de um documento da Agência de Segurança da Saúde a que o jornal teve acesso, mas a autoridade recusou comentar. Um dos conselheiros científicos do Governo, Peter Openshaw, também afirmou teme um novo “Natal em confinamento” e pede medidas imediatas para “baixar a transmissão” — o que pode sinalizar uma mudança na postura do governo.
Resta continuar a acompanhar a situação pandémica no país e esperar para ver a reacção do governo à escalada de novos casos de covid-19.