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Regime bielorrusso continua “purga” de ativistas e jornalistas

STRINGER / EPA

Forças governamentais têm apertado o cerco aos dissidentes do regime de Lukashenko. Depois de um ativista bielorrusso ter sido encontrado morto num parque de Kiev, teme-se também pela vida dos jornalistas que resistem em continuar a fazer o seu trabalho.

As grandes manifestações contra o regime de Alexander Lukashenko na sequência das eleições de setembro de 2020 despoletaram uma escalada de perseguição que o governo de tendências ditatoriais iniciara anteriormente, ainda que de forma mais esporádica e discreta.

Recentemente, na mira das forças policiais têm estado jornalistas e ativistas, com 60 buscas levadas a cabo entre 14 e 16 de Julho em casas e escritórios de defensores dos direitos humanos e respetivas organizações. Foram apreendidos documentos, equipamentos tecnológicos como computadores ou telemóveis.

No início de Julho, também as casas de jornalistas e instalações de órgãos de comunicação social foram alvos de buscas, com a detenção de dezenas de jornalistas e bloggers — dos quais 30 permanecem na prisão. A Amnistia Internacional avançou publicamente que 46 associações de direitos humanos e da sociedade civil foram encerradas, um número que pode ter subido para 100, segundo ativistas bielorrussos.

“Isto é muito mais que repressão“, disse Tanya Lokshina, da Human Rights Watch. “Numa reunião do Governo, realizada a 22 de Julho, o presidente Lukashenko descreveu, sem rodeios, a intenção de acabar com dezenas de grupos da sociedade civil como ‘uma purga‘ — e é isso que isto é, uma operação viciosa de limpeza em grande escala destinada a eliminar as vozes críticas.”

Ao longo do último ano, de acordo com a Federação internacional para os Direitos Humanos e a Viasna, organização que documenta casos de tortura, cerca de 35 mil manifestantes pacíficos foram detidos, dos quais 4691 deram origem a projetos criminais com seguimento em tribunal, 608 são considerados presos políticos e 1800 indivíduos terão sido vítimas de tortura. Um número não quantificado de ativistas, estima-se que centenas, abandonaram o país.

Ilya Nuzov, responsável pela delegação da Europa de Leste e Ásia Central da Federação internacional para os Direitos Humanos, afirmou ao The Guradian que o crescendo de repressão visível atualmente tem estado a ser preparado há meses. “Isto não apareceu do nada. [As autoridades] têm vindo a preparar isto diligentemente. É a progressão natural da deterioração do estado dos direitos humano no país.”

Perante esta repressão, algumas organizações de direitos humanos, cujos trabalhadores abandonaram o país, continuaram o seu trabalho a partir do exterior, em alguns países vizinhos como a Lituânia, a Polónia ou a Ucrânia.

Victoria Fedorova, uma advogada de direitos humanos e diretora da Legal Initiative, saiu de Bielorrússia em Março depois de um dos seus colegas ter sido detido no âmbito de uma busca policial em sua casa. Victoria sabia que seria o próximo alvo, pelo que partiu para Kiev, na Ucrânia — tendo-se apercebido recentemente que nem ali está a salvo.

Vitaky Shishov, que dirigiu a Belarusian House, uma organização que ajudou bielorrussos a sair do país, foi encontrado morto na semana passada num parque de Kiev, enforcado numa árvore — um episódio que a polícia ucraniana está a tratar como homicídio.

“Mesmo quando viajamos em Março percebemos que a Ucrânia não era segura“, afirmou Fedorova. “Sabemos que as forças de segurança podem raptar as pessoas. O desvio do avião foi um acontecimento muito assustador porque o regime mostrou total desrespeito pelas leis internacionais. Eles são capazes de qualquer coisa para deter os seus dissidentes.”

Natallia Satsunkevich, associada da Viasna, teve a sua casa invadida quando estava de férias no Egito, em Fevereiro, tendo optado por não regressar ao seu país. Paralelamente, sete dos seus colegas foram detidos com condições que se assemelham a tortura. “Não há chuveiros, não podes andar. Dormes numa cama de metal sem almofada”.

Apesar de muitos ativistas terem optado por abandonar o país, há quem resista, mesmo com o cerco a apertar. “Eles passam o dia num estado de nervos, mas ao mesmo são muito corajosos e não vão parar“, defendeu Fedorova que reafirmou o compromisso com todas as pessoas que precisam de ajuda e com os colegas detidos.

ARM, ZAP //

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