Redução do período de isolamento não é consensual entre especialistas e má comunicação gera confusão

Parecer decreto que autoriza redução do tempo de isolamento profilático já foi publicado, mas regra só entra em vigor na próxima semana, o que está a gerar confusão nos centros de saúde.

A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública levantou questões relativamente à redução do período de isolamento profilático para pessoas com covid-19 de dez para sete dias por entender que a informação científica que sustentou a decisão “não é muito robusta“, pelo que as vantagens da medida devem ser discutidas.

A opinião foi divulgada por Ricardo Mexia, presidente da associação, em entrevista à Lusa, na qual afirmou compreender o porquê de a discussão ter surgido.

“Nós sabemos que há uma maior carga viral num momento próximo do início dos sintomas e, portanto, essa possibilidade de reduzir o período de isolamento contribui para um maior cumprimento da medida, no sentido em que é metade do tempo de isolamento anteriormente preconizado, mas do ponto de vista da evidência [informação] científica que a suporta ela não é assim tão robusta e, portanto, acho que temos que discutir as vantagens da medida”, defendeu.

Para Ricardo Mexia, o que está em causa é uma questão “mais operacional” do que se saúde, com impactos diretos na economia.

“Eu percebo que é uma questão mais operacional e que fruto da enorme transmissibilidade [da variante Ómicron] isto compromete muito o posicionamento da economia, porque estamos efectivamente a pôr muita gente em casa em isolamento e, portanto, reduzir esse tempo para metade, naturalmente, reduz o impacto de forma muito significativa”, justificou.

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública também teceu alguns comentários relativamente à estratégia de imunidade natural que ao longo dos últimos dias muitos especialistas têm vindo a defender, tendo em consideração alguns sinais de que a variante Ómicron pode ser menos severa.

Ricardo Mexia não partilha destas opiniões, explicando que a imunidade natural “talvez não seja o caminho“.

“A questão que se coloca a meu ver é se estamos dispostos a assumir o que isso implica, que é respectivamente passarmos a lidar mais com a doença do que com a infecção”, explicou.

Por outras palavras, o médico de saúde pública explica que a atenção das autoridades de saúde, num cenário de imunidade de grupo assumida, estaria em lidar com os casos positivos e não em procurá-los.

“A questão que se coloca a meu ver é se estamos dispostos a assumir o que isso implica, que é respectivamente passarmos a lidar mais com a doença do que com a infecção”, salientou.

Ainda no que respeita à redução do tempo de isolamento para pessoas infetadas, também António Luz Pereira, vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), veio mostrar o seu descontentamento perante a má estratégia de comunicação Direção-Geral da Saúde, já que após o anúncio por parte de Graça Freitas muita tem sido a confusão nos centros de saúde, onde os médicos de família são responsáveis por um acompanhamento mais próximo e permanente dos doentes infetados mas com sintomas ligeiros.

“As pessoas ouvem a diretora-geral da Saúde dizer na televisão que o isolamento foi reduzido para sete dias, querem ter alta, e os médicos explicam que ainda são 10 dias. Isto está a gerar ruído, confusão”, lamentou o responsável, que admite a possibilidade de alguns médicos já estarem a aplicar as novas regras indevidamente, até porque tal é permitido pelo sistema — abrindo espaço para duas medidas em Portugal para casos semelhantes.

“O ideal seria cumprir a norma ainda em vigor, mas não posso garantir que toda a gente o faça”, apontou António Luz Pereira, que destacou, ao jornal Público, o facto de a “justificação técnica” para a mudança já existir.

ZAP //

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