“Receber sem trabalhar”. Quando o tacho é bom, “é sempre a mamar”

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Sergio Azevedo / Facebook

O ex-deputado do PSD Sérgio Azevedo

Avenças e tachos para os “boys”. Escutas telefónicas e e-mails levantam suspeitas de favorecimentos e pactos políticos entre PS e PSD.

Em 2018, centenas de escutas telefónicas, realizadas no âmbito da operação “Tutti Frutti”, comprometeram Sérgio Azevedo, na altura, deputado do PSD.

Foi revelado que deputados do PSD e do PS recorriam com regularidade a “esquemas” para cobrar viagens não realizadas e registar falsas presenças no Parlamento.

A operação “Tutti Frutti” apura alegados favorecimentos a militantes partidários, através de avenças e ajustes diretos.

Agora, a TVI/CNN está a divulgar mais detalhes dessa operação.

“Das avenças, aos contratos suspeitos, passando pelo guito, tachos e o zelo que não exisitu. De A a Z, este é o puzzle do Tutti Frutti“, como descreve a investigação da TVI/CNN.

Diz o canal de televisão que “dezenas de ‘boys’ do PSD terão celebrado avenças com a Assembleia Municipal de Lisboa e com juntas de freguesia da capital, sem nunca terem prestado qualquer serviço para o qual foram pagos”.

“No último mandato havia pessoas que só lá iam assinar o recibo, recebendo sem trabalhar“, confessou o antigo deputado do PSD, numa das escutas.

Em contrapartida, Sérgio Azevedo “terá recebido dinheiro que o Ministério Público acredita serem comissões pelos favores aos amigos”.

Sérgio Azevedo foi membro da Assembleia Municipal de Lisboa entre 2013 e 2017.

Conhecido como “O Chefe”, no seio de um esquema que, segundo segundo documentos a que TVI teve acesso, tinha como propósito a “dominação das estruturas autárquicas, que permitem aos suspeitos obter vantagens patrimoniais e não patrimoniais, à custa do erário público”.

Sob a alçada da investigação estão, além da Câmara Municipal de Lisboa, mais 15 municípios, 12 juntas de freguesia – a maior parte na capital – e as Assembleias Municipais de Barcelos, Loures e, novamente, Lisboa.

Em causa estarão crimes de corrupção, tráfico de influências, participação económica em negócio e financiamento proibido.

Além de Sérgio Azevedo, as suspeitas recaem também em Luís Newton – presidente da Junta da Estrela – e Carlos Eduardo Reis – atual deputado do PSD.

Em causa, alegados contratos com empresas, pagamento de quotas a militantes social-democratas, e avenças a amigos – os “boys” – e familiares. A mãe de Sérgio Azevedo, por exemplo, chegou a receber mais de 1500 euros por mês, da Junta de Freguesia da Estrela.

“Aqui em Portugal os próprios partidos políticos controlam o Estado e a Máquina”, disse Carlos Eduardo Reis, numa das chamadas telefónicas. “Se a PJ tivesse mais meios estava tudo f****o”, respondeu-lhe Sérgio Azevedo.

Só que, afinal, os meios vigentes eram suficientes e Sérgio Azevedo talvez até soubesse disso: “a não ser que me apanhem numas escutas ou numas m****s manhosas”, disse o ex-deputado numa chamada.

Andrea Marques, procuradora adjunta do Ministério Público, considera que as atividades seguiam “uma extensão geográfica da orientação partidária“.

Muitas das vezes, revela a procuradora, por via de “intermediários que exercem ou já exerceram funções públicas em nome do PSD, para obtenção da adjudicação ou avença”.

“Não me esqueço dos amigos”, disse Sérgio Azevedo.

Em 2018, foram encontrados alguns e-mails suspeitos no computador de Fernando Medina. O atual Ministro das Finanças terá feito um pacto com Sérgio Azevedo, antes das eleições autárquicas em 2017.

Combinaram colocar uns “gajos merdosos” – expressão ouvida numa das escutas – para garantir vitórias em juntas de freguesia de Lisboa para os dois lados.

Ou seja, numas freguesias o PS apresentava candidatos mais fortes perante candidatos do PSD menos conhecidos, noutras freguesias vice-versa.

A operação Tutti Frutti arrancou em 2018. Cinco anos depois, os visados continuam na esfera política portuguesa.

Há hoje 11 mil páginas de suspeitas e investigações, com anexos que incluem escutas, dados bancários, e-mails e outros documentos.

Durante esta semana a TVI e a CNN Portugal vão revelar mais pormenores do caso.

ZAP //

24 Comments

  1. 11.000 páginas, 5 anos!!
    Que raio de acusação é esta?
    De que está à espera o Ministério Público?
    É para dar tempo a prescrições?
    Ninguém se responsabiliza por todo este atraso em acusar?

    DE QUE É QUE ESTÃO À ESPERA?

  2. Ainda falam do Salazar e etc… Mário Soares foi pioneiro nestas andanças, que contam com militantes acérrimos em TODOS os partidos! Servir a sociedade???? NUNCA! M@mar e chul@r o povo é que importa, quanto menos trabalho e mais tachos, melhor! Camb@da de par@sitas n0jentos! E querem eles que não os metamos todos no mesmo saco? São uns hipócritas! Nem 1 se aproveita!

  3. Quando o PS está apertado saltam logo da gaveta umas historinhas para a malta se entreter e o PS escapar. Ou é o palco do pápa ou é uma história de há 5 anos atrás. E quase sempre antes do primeiro ministro ir ao debate no parlamento. É apenas uma coincidência com certeza

  4. Foi para isto que fizeram o 25 de Abril? No tempo de Salazar havia a cunha, mas era para trabalhar não era para chular o Povo.

  5. Caros Srs. Jornalistas do ZAP, a notícia é importante e deve ser tudo denunciado e esclarecido, pois só vemos esquemas e cambalachos feitos pelos nosso políticos, à sombra do erário público, dos nosso impostos.
    Contudo, reparo que na imagem de apresentação da notícia aparecem três pessoas bem identificáveis, sendo que uma delas é o visado.
    Os outros dois também fazem parte da notícia?

  6. Em democracia, quando o poder está nas mãos de bandidos e quando não há alternativa para escolher, o que se faz?
    E quantos destes são advogado?

  7. Car@s Filh@s:

    Como é meu desejo que não se filiem em nenhum partido político, desejo-vos muita sorte para o vosso futuro em qualquer outro país, bem longe deste… Os vossos pais cá continuarão, a trabalhar para sobreviver, porque já são velhos demais para emigrarem. Claro que farão os mínimos (porque se estão a “cagar”, só querem ordenado) e, sempre que puderem, chularão o Estado, pois não são idiotas nem estúpidos!

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