Uma “excelente notícia” que “só peca por tardia”. As reacções à demissão de Eduardo Cabrita

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Manuel de Almeida / Lusa

O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita

Entre os partidos ou os sindicatos que representam as forças policiais, já houve várias reacções à saída de Cabrita, com uma ideia geral a prevalecer: a saída era inevitável e já devia ter acontecido há muito.

Era uma saída já há muito anunciada depois do coro de críticas ter subido constantemente nos anos em que Eduardo Cabrita teve a tutela da Administração Interna.

António Costa foi dos primeiros a reagir, tendo agradecido os “seis anos de colaboração” a Cabrita e dizendo que a “justiça seguirá o seu caminho” na investigação ao acidente na A6.

Depois de já ter defendido várias vezes publicamente o então Ministro, Costa voltou a dizer que Cabrita foi alvo de ataques políticos e lembra que a acusação conhecida ontem não faz referência ao governante.

“Aquilo que determinou a demissão de Eduardo Cabrita foi ele ter aguardado ao longo destes meses o tempo da justiça e, tendo havido hoje a conclusão de uma fase importante que é a fase em que se conclui o inquérito e é deduzida a acusação, entendeu que devia cessar as funções. Agora, a justiça seguirá o seu caminho”, declarou o primeiro-ministro.

Sobre a saída de Cabrita ser tão perto das legislativas, o primeiro-ministro referiu que a demissão só foi agora porque o Ministro não queria perturbar “o normal funcionamento das investigações” ao atropelamento.

PCP: “Desfecho inevitável”

Do lado dos partidos, o PCP já se pronunciou pela voz do deputado António Filipe, falando de um “desfecho inevitável” depois da “acumulação de casos” polémicos em torno do governante que tornou a sua continuidade “insustentável”.

“A avaliação que fazemos da política do Governo não se prende a um caso ou outro, ou mesma à atuação avulsa de qualquer ministro. Há uma avaliação global que fazemos que tem a ver com a resposta que é dada aos problemas”, criticou o deputado comunista, em declarações à Lusa.

PSD: Discurso “grave demais” e “lamentável”

Já o maior partido da oposição comenta o timing da demissão de Cabrita, com as legislativas à porta. O deputado do PSD André Coelho Lima refere que o discurso do ex-Ministro foi “lamentável” por admitir que só sai para não prejudicar o PS.

“Quem o disse foi o ex-ministro. Devo dizer que fiquei boquiaberto com essas declarações”, revela à Renascença, acrescentando que é “estranho” que Cabrita saia quando o executivo está em gestão.

Coelho Lima descreve também o discurso como “grave demais” por estar a usar um caso que implicou uma morte para defender os interesses partidários.

“É muito estranho que a mesma pessoa que, de manhã, considera a sua posição aleatória e, de tarde, pede a demissão. Dificilmente, podíamos ver maior demonstração de desnorte do ministro da Administração Interna”, remata o deputado, referindo-se a quando Cabrita disse ser apenas um passageiro no carro.

IL: Demissão ao nível do “péssimo ministro”

João Cotrim de Figueiredo considerou que a demissão “está ao nível daquilo que foi um péssimo ministro” da Administração Interna e criticou o “auto-elogio” de Cabrita.

“Eduardo Cabrita consegue esticar até aos limites do admissível e até do bizarro em política”, condenou o líder liberal, em declarações à SIC Notícias. A IL “anda há meses a pedir a demissão” de Cabrita, sublinha, especialmente depois do caso do atropelamento.

O deputado questiona ainda se a demissão tem como objetivo proteger António Costa. “Porque é que agora é que a demissão é aceite? Só para proteger o primeiro-ministro, a dois meses de eleições?”, perguntou.

PAN: Saída de Cabrita “peca por tardia”

A líder do PAN considera que a demissão do Ministro da Administração Interna “peca por tardia” e lamenta também o eleitoralismo por detrás do afastamento.

“É uma demissão que peca por tardia. E mais, lamentamos profundamente que só seja assumida para não prejudicar o Governo no ato eleitoral”, defendeu Inês Sousa Real, numa mensagem em vídeo enviada à imprensa.

A deputada espera também que Costa, “assuma outro tipo de responsabilidades políticas”, deixando “claro que todos os membros do Governo devem pugnar pela responsabilidade no exercício das suas funções, nomeadamente neste tipo de circunstâncias”.

“Teremos em breve eleições e é importante que este escrutínio, que a escolha dos membros do Governo para o futuro, se paute por outro tipo de responsabilização que até aqui não vimos por parte de alguns governantes de António Costa”, rematou.

CDS: Percurso de Cabrita é um “acidente”

“O percurso deste ministro é também ele um acidente”, criticou Paulo Duarte, vice-presidente do CDS, em declarações à SIC Notícias.

O representante centrista acusa o primeiro-ministro de ser “o principal responsável” ao se “limitar a aceitar a demissão” de forma “displicente” e de ser um “mero espectador” ao “deixar um ministro em funções que não tinha condições para o ser”.

“O CDS não esquece que há uma família que está em sofrimento e que tem de ser indemnizada o quanto antes, uma família que está a sofrer. Para o CDS, a questão essencial é a família”, declarou.

Chega: Costa percebeu o “grau nocivo” de Cabrita

André Ventura comentou a demissão na mesma linha dos outros partidos, considerando que a exoneração “já devia ter acontecido há muito tempo“, lamentando que a sua proposta de comissão de inquérito parlamentar ao acidente não tenha avançado.

“O Chega saúda a demissão de Eduardo Cabrita do cargo de ministro da Administração Interna. Suspeitamos que esta foi uma exigência de António Costa, que percebeu bem o desastre e o grau nocivo que Eduardo Cabrita poderia representar para as eleições legislativas de 30 de janeiro”, disse o líder do Chega.

Há muito tempo que os portugueses queriam uma “mudança na Administração Interna” a acusação expôs as “mentiras” e o “tipo de Ministro” que Cabrita era. Se for reeleito primeiro-ministro, espero que António Costa não cometa os mesmos erros”, concluiu o deputado.

Sindicatos falam em “notícia excelente”

Paulo Santos, da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia da PSP (ASPP/PSP), considera que Cabrita “não deixa uma imagem muito satisfatória“, sendo a sua saída “expectável”.

“Saliento que o ministro apresentou a demissão por uma questão particular e não por razões políticas. Desse ponto de vista, o que Eduardo Cabrita fez à frente da Administração Interna não foi algo que nos agradasse“, acrescenta o responsável da ASPP/PSP à Renascença.

O líder sindical espera agora que o governo use esta saída para melhorar a resposta aos problemas do setor, nomeadamente com as tabelas remuneratórias, com o suplemento de risco ou o respeito pelo estatuto profissional.

Já César Nogueira, da Associação dos Profissionais da Guarda (APG), fala numa saída que “peca por tardia” e que “não é novidade“.

“Como cidadão, vejo que esta demissão é apenas uma estratégia política, para não melindrar e prejudicar a ação do Governo e do Partido Socialista nas eleições legislativas”, critica.

O sindicato que representa os inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) considera também “uma excelente notícia para o sistema de segurança interna”, lembrando que já tinha pedido várias vezes a demissão de Cabrita.

“Espero que nunca mais volte a tutelar a Administração Interna, pois enfraqueceu todas as instituições que lhe competia reorganizar e reforçar”, disse à agência Lusa o presidente do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SCIF-SEF), Acácio Pereira.

Acácio Pereira disse ainda que Eduardo Cabrita fica para a história como o ministro que quis acabar com o SEF, cuja extinção ficou adiada para maio devido à pandemia de covid-19.

Adriana Peixoto, Lusa //

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