A Ordem dos Engenheiros (OE) alertou hoje, em Lisboa, para o aumento do risco sísmico do parque edificado em Portugal devido à atual reabilitação urbana, defendendo que é necessário criar um quadro regulamentar e um mecanismo de fiscalização.
“Hoje em dia, há uma transferência da atividade da construção nova para a reabilitação”, afirmou Eduardo Cansado Carvalho, coordenador da especialização Estruturas da OE.
“Mas essa atividade de reabilitação, se não tiver em conta a vulnerabilidade da estrutura do edifício e a sua diminuição, em termos práticos, está a aumentar o risco sísmico no país”, afirmou, frisando que a situação “parece paradoxal, mas é real”.
O responsável da OE falava numa conferência de imprensa de antecipação do seminário “A realidade da reabilitação sísmica do parque edificado”, que vai decorrer a 08 de junho, em Lisboa.
Para Eduardo Cansado Carvalho, o problema da reabilitação sísmica “é um assunto que não é nada fácil”, pelo que “não é para resolver em cinco anos, é para resolver numa geração”.
“Não podemos é aceitar que o risco sísmico esteja a aumentar”, reforçou o responsável da OE, criticando as obras de reabilitação urbana que ampliam a estrutura do edifício e as que intervêm isoladamente numa fração de um prédio.
Eduardo Cansado Carvalho defendeu que, em obras de reabilitação com expressão, devia ser “obrigatório haver uma avaliação da segurança sísmica do edifício”, propondo ”um texto regulamentar para enquadrar este problema”, uma vez que o Regime Excecional de Reabilitação Urbana (RERU), em vigor desde 2014, “incentiva a reabilitação, mas sem acautelar a questão da reabilitação sísmica”.
“Uma certificação sísmica seria ideal”, sugeriu o responsável da OE, lembrando que “os sismos são inevitáveis, mas as consequências não”.
Para o chefe do Núcleo de Engenharia Sísmica e Dinâmica de Estruturas do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Alfredo Campos Costa, a realidade da reabilitação sísmica do parque edificado “é um pouco virtual, ou seja, não existe”.
“Na reabilitação que hoje ocorre está-se a criar muita vulnerabilidade sísmica”, indicou o responsável, referindo que, “atualmente, a resistência sísmica é entendida pelas populações como um dado adquirido que não está em questão quando se vai comprar uma habitação”.
Lisboa e Vale do Tejo e a região do Algarve são os territórios com maior risco sísmico em Portugal, por terem “uma concentração de edifícios mal construídos, mal projetos”, avançou Alfredo Campos CostA.
Segundo o especialista, o sismo de Áquila, que provocou mais de 300 mortos e figura como um dos mais mortíferos dos últimos anos em Itália, “não é nada” em comparação com o que pode acontecer em Portugal.
“Em termos de risco, estamos numa situação que poderá ser muito mais grave do que estes pequenos sismos em Itália”, sustentou o responsável do LNEC, estimando que se acontecesse um sismo em Lisboa, o impacto seria “cerca de 30 a 40% de perda do Produto Interno Bruto (PIB)”.
Este alerta surge depois de, em janeiro deste ano, um especialista do IST ter dito que Lisboa está “em cima de um barril de pólvora” sísmico. Segundo Mário Lopes, se houver um sismo semelhante ao de 1755, um terço da cidade fica completamente destruída.
Também Cristina Oliveira, professora no Instituto Politécnico de Setúbal, alertou em novembro do ano passado que um sismo como o de Itália arrasaria Lisboa – e um tal sismo pode mesmo acontecer.
ZAP // Lusa
Porque é que esta notícia vem com a tag “Arquitetura”? Não deveria ser “Engenharia” ou “Construção”? Tudo bem que, etimologicamente, a palavra arquiteto vem do grego arkhitektôn que significa “o construtor principal” ou “mestre de obras”. Mas em Portugal significa “artista” ou “designer”. Parece-me desadequado…
Quanto ao conteúdo: um sismo não é uma questão de “se”, mas sim de “quando”. Não há dúvida nenhuma que vamos ter outro sismo pelo menos semelhante ao de 1755, e a questão é apenas se vem já amanhã ou daqui a uns anos. A reabilitação, na minha opinião, obriga à reintrodução de um sistema que já tivemos no passado: a revisão e de certo modo “certificação” do projeto estrutural ao nível dos municípios. As câmaras deveriam possuir técnicos especializados para essa análise, ou delegar a entidades idóneas e acreditadas essa competência. Hoje em dia é preciso certificar o projeto de gás, de térmica, de eletricidade, de telecomunicações, e até o projeto de arquitetura é revisto a nível camarário. O projeto estrutural, inquestionavelmente o mais importante a nível da segurança das pessoas, entra como um pró-forma obrigatório e ninguém olha para ver se cumpre os requisitos essenciais.
E porque não com a TAG: Pedreiro ou Trolha