Do “carniceiro de Mariupol” ao “super-espião”. Quem pode vir depois de Vladimir Putin?

Robert Ghement / EPA

Arte urbana de protesto de artistas da Ucrânia e Roménia, em Bucareste, na Roménia.

O fim de Vladimir Putin pode não significar o fim da ruína da Rússia. Há 12 possíveis sucessores em cima de mesa — e alguns deles podem até ser mais temíveis.

A Rússia tem visto a sua invasão à Ucrânia tornar-se um irremediável fracasso, principalmente se tivermos em conta as aspirações iniciais do Presidente russo. Vladimir Putin calculava que a sua “ofensiva militar” durasse apenas alguns dias ou semanas. A realidade é que a guerra já leva mais de meio ano e não dá sinais de tréguas.

O recente anúncio da mobilização militar de soldados reservistas apenas veio provar que a Rússia está em maus lençóis. Vários analistas veem a decisão de Putin como um ato de fraqueza, apesar de o líder russo ter ameaçado usar armas nucleares.

A população russa está, cada vez menos, a apoiar o seu Presidente. Muitos dos seus soldados no terreno não querem continuar a lutar. Nem os próprios reservistas o querem fazer. Os protestos de civis na Rússia também têm crescido em número, com a repressão de Moscovo a aumentar em concordância.

Poderá ser este o início do fim de Vladimir Putin? A verdade é que, mesmo que seja este o caso, há outros sucessores à espera que podem dar continuidade ao seu legado de terror. O POLITICO elaborou uma lista com 12 dos possíveis nomes que podem suceder a Putin.

Os escolhidos de Putin

Nikolai Patrushev surge como um dos nomes mais prováveis a ocupar o lugar à cabeça da mesa no Kremlin. O secretário do Conselho de Segurança Nacional é um dos principais conselheiros de Vladimir Putin e, em julho, já era avançado pelo The Washington Post como um potencial sucessor.

De 1999 a 2008, Patrushev atuou como diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB), o principal sucessor da KGB da URSS. Pertence à fação siloviki — ex-agentes dos serviços secretos da União Soviética do círculo íntimo de Vladimir Putin.

Em maio, um antigo chefe da FSB dizia que Putin ia ser submetido a uma operação na sua luta contra o cancro. Na altura, o New York Post escrevia que Nikolai Patrushev passaria temporariamente a liderar a Rússia e todo o processo da guerra na Ucrânia.

Nikolai Patrushev é descrito como a “pior opção” possível para ocupar o cargo de Putin: “É um vilão absoluto e não é melhor do que Putin. Além disso, é mais astuto e mais traiçoeiro. Se chegar ao poder, os problemas dos russos só se vão multiplicar”.

O próprio POLITICO até admite que Patrushev tem uma visão “ainda mais extremista” que Vladimir Putin, pelo que até pode ser mais temível. No entanto, aos 71 anos, caso se torne Presidente, “provavelmente será apenas uma figura de transição”.

Dmitry Medvedev é alguém em quem Vladimir Putin pode confiar, tendo já dado provas disso no passado. O líder russo presenteou a Presidência ao seu ex-braço direito de São Petersburgo em 2008.

O ex-Presidente russo e vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia tem sido um dos principais porta-vozes russo durante a guerra. Não só não negou que o Kremlin tenha tentado assassinar Zelenskyy, como até ameaçou Kiev com o “dia do juízo final” em caso de ataque à Crimeia.

Medvedev, descrito pelo POLITICO como “o lacaio” do Presidente russo, abriu caminho para que Vladimir Putin tivesse um poder praticamente absoluto. Agora, na eventualidade de sair do poder, Medvedev pode estar preparado para regressar.

Aos 57 anos, Medvedev ainda é jovem o suficiente para governar a Rússia mais uma vez. No entanto, o seu próprio destino poderá estar inseparavelmente ligado ao de Putin. A queda do atual Presidente russo pode, invariavelmente, significar também a sua queda.

Alexei Dyumin é um nome menos conhecido apontado à sucessão. O atual governador da oblast de Tula já serviu como chefe de segurança e assistente do presidente Vladimir Putin antes de ser promovido para liderar as Forças de Operações Especiais dos militares russos, onde supervisionou a anexação da Crimeia, em 2014.

No ano seguinte, tornou-se vice-ministro da Defesa e detém ainda o posto de tenente-general, além do título de Herói da Federação Russa.

Dyumin terá caído nas boas graças de Putin quando ainda era um dos seus guarda-costas. Um dia, Dyumin salvou Putin de um ataque de um urso pardo, disparando a sua pistola de serviço múltiplas vezes para assustar a fera.

Aliás, Dyumin é, segundo alguns relatos, um favorito de Putin, mas o governante estaria vulnerável caso uma luta pelo poder surgisse no Kremlin.

Dmitry Nikolayevich Patrushev é outra possibilidade. O banqueiro e político russo atua como Ministro da Agricultura da Rússia desde 2018. Dmitry Patrushev é precisamente filho de Nikolai Patrushev, já referido como possível sucessor de Putin.

Ao contrário do seu pai, Dmitry pode ser uma alternativa mais jovem ao poder na Rússia, mantendo em paralelo a mesma doutrina putinista.

As probabilidades de Patrushev Jr. chegar ao poder são remotas, mas seriam encorajadoras para o resto do mundo e para os russos anti-Putin. Apesar de tudo, Dmitry Patrushev teria “um instinto de sobrevivência mais forte do que um ditador enlouquecido escondido num bunker subterrâneo”, escreve o POLITICO.

E se Putin não tiver escolha?

Os nomes elencados até agora seriam opções escolhidas por Vladimir Putin para subir ao poder na sua ausência. Na atual conjuntura, porém, há uma séria chance de o líder russo não ter voto na matéria. Nesse caso, há outras figuras que surgem como potenciais candidatos à presidência.

Se Putin fosse deposto, incapacitado ou assassinado e substituído por uma liderança coletiva, a sua morte poderia levar a uma diminuição da guerra por procuração da Rússia com o Ocidente.

Especular sobre quem pode conspirar para derrubar Putin não é pera doce, mas, se a história se repetir, os representantes dos “ministérios do poder” no Conselho de Segurança viriam à baila

Assim, o já referido Nikolai Patrushev; o chefe do FSB, Alexander Bortnikov; o ministro do Interior, Vladimir Kolokoltsev; e o ministro da Defesa Sergei Shoigu podem unir-se para subir ao poder.

Segundo a Constituição russa, em todos os casos em que o Presidente seja incapaz de cumprir as suas funções, “elas serão temporariamente cumpridas” pelo primeiro-ministro. Neste caso, Mikhail Mishustin seria chamado a servir funções — pelo menos até ser encontrado um substituto permanente.

O autarca de Moscovo, Sergei Sobyanin, também está na lista de possíveis sucessores. Este seria o caso se os protestos anti-guerra na capital ganhassem uma dimensão bem maior que a atual, pelo que as suas chances são mínimas.

Alexei Navalny é talvez a principal figura da oposição russa dentro do próprio país, impondo-se contra a corrupção e quase pagando com a sua vida por isso. Contudo, dificilmente isto acontecerá, com Navalny ainda atrás das grades. O exilado ex-magnata petrolífero Mikhail Khodorkovsky é outro crítico do regime que enfrentou Putin e que hipoteticamente poderia subir ao poder.

Os cenários mais temerosos surgiriam caso Putin fosse derrubado militarmente.

Mikhail Mizintsev, o “carniceiro de Mariupol”, poderia suceder a Putin. Mizintsev liderou o cerco no qual mais de 20.000 civis morreram antes da queda da cidade portuária em maio.

Além disso, acabou de ser promovido a vice-ministro da Defesa responsável pela logística, enquanto a Rússia procura inverter o sentido das coisas na Ucrânia. O ‘carniceiro’ “pode não ser um candidato direto ao poder, mas será um rosto a ser observado nos próximos dias e semanas”, sublinha o POLITICO.

Também o líder checheno, Ramzan Kadyrov, e o fundador do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, são apontados como temíveis sucessores.

Daniel Costa, ZAP //

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