O consultor político que “tornou as negative campaigns numa forma de arte” foi um dos maiores spin doctors de todos os tempos. Correu o mundo, dos EUA até à Europa e até mesmo ao Médio Oriente, onde obrigou Netanyahu a pintar o cabelo de grisalho para parecer mais respeitável.
“Nunca se sentiu confortável com a ribalta”. “Dizia que não o incomodava, mas incomodava. Preferia ser um consultor que era bem amado, bem considerado por tantas pessoas na política.”
É assim que o também consultor Larry Weitzner descreveu ao Politico Arthur Finkelstein (1945-2017), o homem que foi “responsável pela eleição de mais pessoas para o Senado dos Estados Unidos do que qualquer outro consultor político”, como o descreveu um dos seus clientes, Alfonse M. D’Amato.
Al D’Amato, como era conhecido, foi, na verdade, um dos maiores casos de sucesso de toda a carreira de Finkelstein.
Quando se candidatava para o cargo de senador em Nova Iorque, Al D’Damato era “um homem sem carisma”, completamente ignorado pelo eleitorado. Assim o descreve o ensaísta Giuliano da Empoli, no seu livro Os Engenheiros do Caos.
Finkelstein tratou, portanto, de ocultá-lo. Como confessou numa entrevista, “não tinha muito material com que trabalhar” com este candidato insípido. “Por isso, decidi mostrá-lo o menos possível. Nunca o enviei para os cenário televisivos, nem uma vez”, explicou o consultor. “Ele era completamente irrelevante para as campanhas.”
E o facto de os nova iorquinos não terem contacto quase nenhum com Al D’Amato não os impediu de o conduzirem à vitória, sob a premissa de que o senado era “demasiado liberal há demasiado tempo”.
Como foi isto possível?
Através das chamadas negative campaigns, de que Finkelstein era mestre. Esta “forma de arte”, como a designa o autor do livro, consiste em jogar ao ataque, expondo os defeitos do opositor. Por vezes, por meios menos ortodoxos.
Rapidamente, tornou-se num dos spin doctors mais influentes de todos os tempos, muito respeitado pelos republicanos. Trabalhou, então, com grande sucesso nas campanhas de Richard Nixon e Ronald Reagan, em 1976.
Hoje em dia, com o fact-checking realizado pelos media nos países com liberdade de imprensa, é mais difícil ser um spin doctor. Mas, nos anos 70, Finkelstein era um génio na arte de distorcer factos, jogando-os a favor dos seus clientes.
O consultor americano, que aos vinte anos já militava no partido republicano e sempre foi um “menino-prodígio”, teve por principal mérito a transformação da palavra “liberal” nua coisa má.
O seu sucesso rapidamente correu o mundo, e chegou até à Europa, mais propriamente à Hungria, país onde orquestrou uma das maiores campanhas de sempre contra a imigração, antes desse ser sequer um tema de agenda (e num país onde apenas 1,4% dos habitantes eram migrantes e 3% dos eleitores tinham interesse no tema).
Com a ajuda de uma conjuntura de crise económica, em 2009, o bode expiatório passa a ser o imigrante, “Queremos que a Hungria volte a ser dos húngaros”. E assim, com estas palavras, Viktor Orban torna-se um dos primeiros líderes de extrema-direita europeus a trazer para cima da mesa da campanha um dos tópicos que atualmente são mais priorizados pela sua família política.
Como é que o ódio aos migrantes surge do nada? Bem, tem sempre de existir um foco, uma minoria ou “problema” atacável. Num momento em que aumentava o número de atentados islâmicos, o alvo foi fácil de obter.
“Na política, é aquilo que se percebe como verdadeiro que o é“, resumiu o próprio consultor numa entrevista.
Finkelstein tinha ainda como método o microtargeting, isto é, a realização de análises demográficas detalhadas que identificam os interesses de cada segmento do eleitorado e lhe permitiam enviar mensagens personalizadas a cada grupo demográfico, com diferentes interesses políticos.
Em 2010, Orban vence as eleições com uns sólidos 57,2% dos votos, que se somam a mais 17% no partido de extrema-direita Jobbik numa maioria nunca antes (três quartos do parlamento) vista de ultra-conservadores no poder.
O consultor fixou-se então na Europa, onde ajudou à ascensão de líderes de extrema-direita um pouco por todo o continente: foi por todos os países do leste, ainda no final dos anos 90 e inícios da década de 2000, tentar provar (com sucesso) às recém-formadas democracia da antiga União Soviética de que aquilo que precisavam era mesmo aquilo.
Mas anos antes, em 1996, fez ainda uma breve visita ao Médio Oriente. Foi em Israel que consagrou vitorioso uma das mais importantes figuras políticas da atualidade: Benjamin Netanyahu, mias conhecido por “Bibi”. Nesse país, conseguiu um dos maiores feitos possíveis para um consultor político: fazer vencer um extremista inexperiente e pouco fiável (segundo a opinião pública) face a um Nobel da Paz, Shimon Peres (que assinou um acordo de paz inédito com a Palestina), a quem todos adivinhavam a vitória.
A sua primeira medida foi pintar o cabelo de grisalho a Netanyahu. “O aspeto físico é importante”, garantiu o consultor mais tarde. “O candidato mais encorpado ganha as eleições em 75% dos casos“, acrescentou ainda.
O slogan foi simples e eficaz: Netanyahu é bom para os judeus”. A ideia era, portanto, a seguinte: quem não apoia Netanyahu, não é um verdadeiro judeu. Resultado? Uma muito renhida, mas duradoura vitória. Ainda hoje lidera o país.
Por estes e muitos outros episódios políticos, Finkelstein é hoje aclamado como um dos principais masterminds da política populista em todo o mundo.
Como disse a uma audiência universitária em Praga em 2011, as suas campanhas foram “cruéis e más”. “Negativas, negativas, negativas — porque não é possível ganhar de outra forma.”