O Grupo de Análise Económica do instituto da Universidade de Lisboa revelou o intervalo indicativo de variação do PIB usando duas evoluções diferenciadas da crise, com duração mínima de dois meses.
A economia portuguesa deverá ter uma quebra entre os 4% e os 8% do Produto Interno Bruto (PIB) devido à covid-19, segundo a Síntese Económica de Conjuntura do Grupo de Análise Económica do ISEG, da Universidade de Lisboa.
Segundo o grupo do ISEG, esta perspetiva tem em conta as “expectativas do impacto económico da fase atual da política de combate à epidemia, duração temporal incerta e possíveis modos de saída desta fase de emergência”.
“Numa altura em que ainda há muito pouca quantificação sobre os impactos do encerramento total ou parcial de muitos ramos da atividade económica, cada um dos participantes [do Grupo de Análise Económica] usou os cenários de impacto e evolutivos que individualmente considerou mais prováveis”, lê-se na Síntese Económica de Conjuntura.
O intervalo nas quebras previstas, de 4% a 8%, “assume, implicitamente, duas evoluções diferenciadas para a crise e emergência sanitário-económica”.
Uma é a “evolução menos penalizadora para a atividade económica em que as maiores restrições durarão cerca de dois meses com gradual relaxamento das restrições e regresso ao funcionamento das atividades encerradas nos meses posteriores”, e outra “uma evolução mais duradoura da fase mais restritiva, ou uma abertura mais lenta das atividades económicas agora encerradas”.
“Para já, em termos de evolução trimestral, o trimestre em que se espera maior contração do produto é o segundo trimestre, após o que se projeta uma progressiva recuperação do produto, trimestre a trimestre, mas não se consideram muito prováveis crescimentos homólogos positivos até ao final do ano”, denota o documento elaborado pelo ISEG.
A instituição de ensino considera que, “em termos económicos, a atual crise começa por restrições de oferta que se irão transformar, muito rapidamente, devido ao desemprego e queda de rendimentos, numa crise de procura, que poderá ser mais ou menos profunda e duradoura consoante a política económica que venha a ser implementada para essa fase”, bem como consoante a recuperação da confiança.
“A saída mais ou menos rápida da presente emergência também irá depender da forma como os outros países da UE e nossos principais parceiros económicos o fizerem, quer pela interdependência das cadeias produtivas quer pela dependência de muita da nossa atividade da procura externa, e inclusive da procura externa presencial (turismo)”, segundo o ISEG.
A instituição da Universidade de Lisboa considera ainda que “os desenvolvimentos nos mercados financeiros e a política europeia e da área do euro de apoio ao financiamento dos défices voltará a ter um papel determinante e poderá condicionar mais ou menos fortemente o ritmo da retoma”.
Numa síntese elaborada com a informação disponível até 3 de abril, o ISEG prevê que no primeiro trimestre a economia tenha estagnado, apontando-se para a existência de “algum equilíbrio entre o crescimento registado nos dois primeiros meses e o decréscimo de março”.
“A pouca informação quantitativa disponível para março não permite uma fundamentação muito rigorosa da evolução da atividade neste mês, sendo contudo esperado um impacto negativo já significativo, uma vez que as medidas de confinamento e encerramento de estabelecimentos comerciais se iniciaram a meio do mês”, releva o ISEG.
A escola económica refere ainda que “o impacto, nestas duas últimas semanas do mês, em termos de construção e atividade industrial deverá ter sido mais contido, mas mais negativo na indústria do que na construção”.
No mesmo documento, o ISEG denota que, de acordo com os indicadores de Sentimento Económico e de Confiança do Eurostat e do Instituto Nacional de Estatística (INE), “a atividade da Construção poderá ter sido pouco afetada em março, enquanto os sectores da Indústria e do Comércio a Retalho foram moderadamente afetados e o sector dos Serviços foi fortemente afetado”.
// Lusa