Adeus Kuznetsov. A Rússia vai finalmente desistir do seu único porta-aviões

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O porta-aviões Admiral Kuznetsov, navio-almirante da frota da Rússia no Atlântico norte

Os planos da Marinha da Rússia de recuperar o seu único porta-aviões parecem finalmente ter naufragado. O “amaldiçoado” Admiral Kuznetsov deverá ser desmantelado.

A Rússia parece estar pronta a abandonar os esforços para devolver o seu único porta-aviões, o Admiral Kuznetsov, ao serviço operacional, após quase oito anos de problemáticos trabalhos de modernização.

O porta-aviões da era soviética, que é atualmente o navio de bandeira da Marinha russa, foi retirado de serviço em 2018, para ser reequipado. Tem estado a sofrer alterações na 35ª Instalação de Reparação Naval em Murmansk, e o seu regresso ao serviço estava inicialmente previsto para 2020.

Os trabalhos de recuperação do Admiral Kuznetsov enfrentaram no entanto sucessivos problemas — e há mesmo quem acredite, na Rússia, que o navio de guerra está amaldiçoado.

Numa altura em que a Rússia está há mais de 3 anos envolvida numa guerra, o único porta-aviões russo continua em reparações, e não está em condições de atacar a Ucrânia — ou sequer de navegar.

Segundo o The War Zone, que cita informações recolhidas pelo jornal russo Isvestia  junto de “fontes informadas”, a Marinha Russa prepara-se para tomar uma decisão final sobre o destino do navio da era da Guerra Fria, havendo evidências crescentes que sugerem que o seu programa de modernização será terminado.

A decisão marcaria o fim das ambições da Rússia de ter um porta-aviões na sua marinha, numa altura em que o país tem prioridades militares mais prementes na guerra com a Ucrânia.

O abandono do Kuznetsov parece recolher o apoio dos oficiais superiores da Marinha. O Almirante Sergei Avakyants, antigo comandante da Frota do Pacífico da Rússia, disse ao Izvestia que a Marinha Russa “não necessita de porta-aviões na sua forma clássica a longo prazo”.

Avakyants caracteriza os porta-aviões como “uma coisa do passado” que “podem ser destruídos em poucos minutos por armas modernas“.

“É uma arma naval muito cara e ineficaz. O futuro pertence aos porta-aviões de sistemas robóticos e aeronaves não tripuladas“, afirma Avakyants, que sugere que o Kuznetsov deve ser “cortado para sucata e eliminado“.

O navio de bandeira russo desloca 58.000 toneladas. Ao contrário dos porta-aviões da Marinha dos EUA, não utiliza uma catapulta para lançar aviões e, em vez disso, está equipado com uma rampa de saltos. É um navio convencional, com 200.000 cavalos de potência, e pode atingir uma velocidade de até 30 nós.

Para além da sua asa aérea, o Admiral Kuznetsov está também armado com sistemas de mísseis anti-nave e de defesa aérea. Opera com uma tripulação de 1.300 pessoas, e o grupo aéreo conta com 660 homens.

A modernização do navio tem sido atormentada por problemas desde o início dos trabalhos de reparação, em 2017. A embarcação sofreu múltiplos incêndios e, em novembro de 2018, foi danificada por uma grua de 70 toneladas que caiu no convés de voo, matando um trabalhador e ferindo mais quatro.

The War Zone / Google Earth

Vista de satélite do Admiral Kuznetsov em 2023, na doca da 35ª Instalação de Reparação Naval da Rússia, em Murmansk

Mesmo antes de ter entrado em reparações, o Admiral Kuznetsov tinha passado por numerosos acidentes. Em 2009 um incêndio a bordo, ao largo da Turquia, matou vários membros da tripulação, e em 2016 perdeu dois caças em poucos dias durante a campanha da Rússia na Síria.

Apesar dos apelos crescentes para abandonar a recuperação do navio, documentos oficiais de política naval da Rússia afirmam que tanto a Frota do Norte quanto a do Pacífico devem ter porta-aviões até 2030.

Contudo, os especialistas consideram estas ambições irrealistas, particularmente dados os constrangimentos de financiamento e a ausência de planos para a construção de novos porta-aviões.

A Rússia continua a desenvolver navios de assalto anfíbio, que poderiam fornecer maior flexibilidade operacional do que porta-aviões, apoiando operações anfíbias, alívio de desastres e missões humanitárias — e que requerem menos infraestruturas especializadas e treino de tripulação.

Enquanto a Rússia considera a possibilidade de deixar de ter porta-aviões na sua marinha, os EUA, a China e a Índia continuam a apostar em reforçar a sua presença naval com estas imponentes fortalezas flutuantes — cujas frotas são capazes de assegurar projeção de poder em qualquer região para onde se desloquem.

O ano passado, a Marinha da China lançou ao mar o Fujian, o primeiro de uma nova geração de porta-aviões avançados com que pretende rivalizar com a frota dos Estados Unidos — que tem ainda uma indisputada supremacia no mar.

A nova “estrela da morte” da Armada chinesa é o primeiro porta-aviões totalmente projetado por engenheiros chineses — ao contrário dos seus dois antecessores, que se baseavam precisamente no design da classe Kuznetsov, que está também na origem de um dos dois porta-aviões da Índia.

A marinha dos EUA tem atualmente comissionados 11 porta-aviões nucleares: o USS Gerald R. Ford, o mais avançado do mundo, e dez porta-aviões classe Nimitz.

Depois de em 2023 a Marinha do Brasil ter afundado o seu único porta-aviões, há neste momento apenas 23 porta-aviões em todo o mundo, comissionados pelas marinhas de 8 países: Estados Unidos (11), China (3), Reino Unido, Itália e Índia (2), Rússia, França e Espanha (1).

A Rússia está prestes a deixar o grupo.

Armando Batista, ZAP //

1 Comment

  1. A Rússia percebeu que não precisa de porta aviões. Para além de não serem úteis são excessivamente caros e são alvos fáceis de afundar. Como os EUA vão perceber quando, na próxima guerra, os seus porta aviões forem todos afundados em poucos dias.

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