Quando Lukashenko telefonou a Prigozhin, espiões alemães estavam à escuta

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ZAP // Kremlin; Metzel Mikhail / TASS / ZUMA

Uma nova investigação sugere que os serviços secretos da Alemanha tiveram conhecimento da rebelião do Grupo Wagner antes de os mercenários de Yevgeny Prigozhin terem iniciado a sua “Marcha pela Justiça” 

Segundo a emissora pública alemã ARD1, os serviços de inteligência germânicos escutaram a conversa de Yevgeny Prigozhin com o líder bielorrusso Alexander Lukashenko, que negociava em nome do presidente russo Vladimir Putin o fim da marcha do Grupo Wagner em direção a Moscovo.

Uma investigação conjunta dos canais públicos de radiodifusão alemães NDR e WDR afirma que o BND, serviço de inteligência do país, tinha mais conhecimento sobre as negociações do Grupo Wagner do que inicialmente divulgado, incluindo o papel desempenhado por Lukashenko, que intermediou o fim da tentativa de levantamento.

Numa entrevista televisiva na semana passada, o chanceler alemão Olaf Scholz afirmou que o BND “não sabia antecipadamente” sobre o levantamento. A reportagem desta sexta-feira coloca em causa as afirmações de Scholz.

De acordo com os relatórios agora divulgados pela imprensa alemã, o BND recebeu informações sobre um possível levantamento na Rússia, liderado por Yevgeny Prigozhin, uma semana antes de ocorrer, mas não informaram o gabinete do chanceler porque não puderam verificar a informação.

A marcha do grupo paramilitar iniciou-se na noite de sexta-feira, 23 de junho. No sábado de manhã, a cidade de Rostov estava controlada e bases militares em Voronezh tinham caído nas mãos do mercenários.

No entanto, a marcha não durou mais do que 24 horas.

Ao fim da tarde de sábado, quando estavam a apenas 200km de Moscovo, os mercenários pararam e deram meia volta, para “evitar derramamento de sangue”.

Quem surgiu como protagonista essencial neste “travão” foi Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia, que conversou com Prigozhin e o convenceu a parar a marcha.

Antes, ainda na sexta-feira, o Kremlin iniciou negociações com Prigozhin, logo a seguir ao início da sua “marcha pela justiça”.

Mas foram conversas complicadas. As exigências de Prigozhin eram vagas e estranhas, descreve o portal Meduza: queria mais autonomia nas decisões dentro do Grupo Wagner, mais financiamento e exigia a saída do ministro da Defesa, Sergei Shoigu.

O Governo de Moscovo ainda tentou resolver a questão pacificamente mas, a partir do momento em que não houve acordo com o líder do Grupo Wagner, um irritado Vladimir Putin disse na televisão que aquele movimento era uma “traição”.

Ao fim da manhã de sábado, Yevgeny Prigozhin tentou falar com Vladimir Putin, ao telefone; mas Putin não quis falar com o “traidor”.

Na Alemanha, escreve a revista Der Spiegel, reforça-se: ministérios do Governo alemão acreditam que o líder do Wagner não recebeu das forças estatais russas o apoio que pensava que iria receber. Por isso, interrompeu a marcha sobretudo por falta de apoio.

Aí, o Kremlin terá visto que Prigozhin estava a mudar de planos e decidiu evitar um “confronto sangrento” com o Grupo Wagner.

É então que surge o “salvador” Lukashenko, que entrou é o intermediário ideal por dois motivos: Prigozhin conhece o presidente da Bielorrússia há muitos anos, e Lukashenko “gosta de publicidade”.

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