Vladimir Putin poderá nomear o seu herdeiro já este ano, evitando correr o risco de perder ainda mais popularidade e de ser afastado do Kremlin após a série de derrotas militares na Ucrânia, afirma um antigo aliado do presidente.
O presidente russo, Vladimir Putin, pode optar por retirar-se e apontar um sucessor escolhido a dedo, em vez de concorrer às próximas eleições no país, garante o analista político Abbas Gallyamov.
Em entrevista ao canal Khodorkovsky Live no YouTube, Gallyamov considera que a crescente impopularidade da guerra pode colocar Putin em dificuldades nas urnas durante as eleições de 2024.
Uma opção para o líder poderia ser “manipular as eleições”, mas isso representaria um “risco muito grande” devido à crescente sentimento de revolta popular na Rússia, diz Gallyamov, antigo redator de discursos de Putin.
De acordo com o analista, os favoritos à sucessão de Putin são o presidente da Câmara de Moscovo, Sergei Sobyanin, o primeiro-ministro Mikhail Mishustin e o seu vice-chefe de gabinete, Dmitry Kozak.
Gallyamov considera que o afastamento voluntário de Putin lhe evitaria ficar associado a uma eventual derrota militar na Ucrânia, e permitir-lhe-ia passar os anos que lhe restam no seu palácio na cidade balneária de Gelendzhik, no Mar Negro, com o título de senador vitalício que a legislação russa prevê.
A contestação à liderança de Putin, após a decisão de invadir a Ucrânia, tem ganhado força nos últimos meses, apesar de os meios repressivos usados para a silenciar, e causado mesmo divisões dentro do Governo russo.
Esta contestação já se fazia notar em maio, altura em que uma fonte próxima do Kremlin comentou ao portal Meduza que quase ninguém dentro do Kremlin está satisfeito com Vladimir Putin — nem membros do Governo, nem empresas.
Segundo o analista político, há um sentimento crescente entre as autoridades russas de que Putin já não é considerado o “garante da estabilidade” que foi, e o seu círculo mais próximo não está propriamente feliz com o poder do Grupo Wagner e do seu líder, Yevgeny Prigozhin e dos seus mercenários.
Recentemente, o Grupo Wagner esteve em destaque pelas piores razões, ao divulgar um vídeo onde é possível ver Yevgeny Nuzhin, mercenário russo que acabou por se entregar às tropas ucranianas, a ser assassinado com uma marreta.
O episódio é referido por Gallyamov, que considera que os aliados de Vladimir Putin têm medo de Prigozhin e da sua marreta.
Mas nem todos acreditam que Putin possa ponderar reformar-se. Mark Katz, professor de ciência política da George Mason University, nos EUA, considera que “não confia em ninguém o suficiente para lhe passar as rédeas” do poder.
Em declarações à Newsweek, Katz duvida que Putin possa mesmo voltar a trocar de cargo, como fez com o ex-presidente russo Dmitry Medvedev entre 2008 e 2012.
“Imagino que haja várias pessoas que esperam poder suceder a Putin — e pode ser mais fácil mantê-los sob controlo enquanto todos tiverem a esperança de ser o escolhido”, diz Katz. Pelo contrário, “apontar já o sucessor pode desencadear uma luta pelo poder”.