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“Mais grave do que no Estado Novo”. Protestos e detenções em Faculdades (com Chega ao barulho)

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Greve Climática Estudantil Lisboa / Facebook

PSP foi chamada à Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa devido a um protesto pelo clima.

PSP foi chamada à Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa devido a um protesto pelo clima.

A PSP entrou em duas Faculdades, nesta semana, para deter activistas que protestavam pelo clima. A situação está a motivar muitas críticas e há quem compare a situação com os tempos da ditadura de Salazar, considerando que é ainda “mais grave do que durante o Estado Novo”.

As detenções ocorreram na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa e na Faculdade de Psicologia de Lisboa. Em ambos os casos, estão em causa protestos de activistas pelo clima.

“Chamar a polícia a uma universidade porque não se concorda com uma ideia que está a ser exposta” é “ilegal e profundamente anti-democrático”, entende o advogado Garcia Pereira em declarações ao Diário de Notícias (DN).

“Isto é mais grave do que durante o Estado Novo, porque estamos num Estado que se diz de direito democrático baseado na defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”, acrescenta o advogado que foi um dos protagonistas das lutas estudantis durante o regime de Salazar.

“No caso da Faculdade de Psicologia, as activistas detidas estavam a dar uma palestra sobre acção climática e desobediência em movimentos históricos”, explica ao DN Catarina Bio, a porta-voz da Greve Climática de Lisboa, o movimento a que pertencem os elementos detidos.

O director da instituição tinha alertado, antes da palestra, que “não queria qualquer tipo de manifestação ou conversa política“, refere ainda Catarina Bio.

Uma fonte da PSP explica ao DN que as detenções na Faculdade de Psicologia aconteceram “após os indivíduos terem sido advertidos para abandonarem o local por estarem a incorrer no crime de introdução em lugar vedado ao público“.

Essa mesma fonte esclarece que a polícia só pode intervir nas universidades “após solicitação por escrito” dos directores ou reitores.

Na página da Greve Climática de Lisboa no Facebook nota-se que “dezenas de polícias entraram na Faculdade de Psicologia” enquanto “quase 80 estudantes estavam a assistir” à palestra.

“Ao longo desta semana tem se vindo a normalizar uma repressão da luta estudantil que já não se via há décadas”, lamenta ainda o colectivo que fala de “um precedente assustador no que toca à repressão da liberdade de expressão e direito à manifestação”.

PSP entrou na FCSH a pedido do Chega

Nesta quinta-feira, a PSP também interviu na FCSH depois da confusão gerada pela presença na instituição de uma comitiva do Chega, liderada pela deputada Rita Matias.

Elementos do partido de extrema-direita estavam “a distribuir panfletos com uma imagem que satiriza o movimento climático“, relata ao Público o estudante da FCSH Lux Souto Maior. Este aluno diz que “usaram o rosto de uma activista do Climáximo sem a sua permissão, modificaram o que dizia o cartaz dela e usaram-no contra o movimento climático em geral”.

Um dos panfletos da autoria da Juventude Chega dizia “Desmontar a crise climática para totós”, como refere o Público.

Há vários vídeos que mostram a indignação dos estudantes com a presença dos elementos do Chega, com gritos de “Fora”, “Rua” e “Fascismo nunca mais” à mistura.

Rita Matias explica ao Público que não acedeu à insistência dos estudantes para sair da Faculdade, onde ficou durante cerca de duas horas, porque não sabia se tinha “segurança para sair”.

Contudo, nas redes sociais é possível ver Rita Matias sorridente enquanto os estudantes da Faculdade protestam contra a sua presença. E não parece estar numa posição em que se sinta ameaçada e a temer pela sua segurança.

O que é certo é que a PSP entrou na Faculdade “a pedido da deputada Rita Matias“, segundo um comunicado enviado pela direcção da FCSH ao Público.

A deputada do Chega admite, agora, apresentar queixa-crime contra os estudantes que foram identificados.

Também elementos do partido Nova Direita estiveram envolvidos na confusão. E a líder do partido, Ossanda Liber, refere, numa publicação na rede social X, que dois elementos da Nova Direita foram “vítimas” de “violências” quando “se solidarizavam com a deputada Rita Matias na FCSH”. Actos que considera “intoleráveis”, referindo ainda que o “fascismo da extrema esquerda tem que ser expulso das universidades”.

Faculdade de Psicologia fala em “regras”

A Faculdade de Psicologia já veio justificar a chamada da PSP, notando que “existem regras” e que se esgotaram as “soluções internas”.

“Alega-se que estaria a decorrer no momento uma palestra, que a intervenção policial interrompeu, querendo sugerir que a intervenção era uma forma de coartar a liberdade de expressão”, começa por apontar um comunicado da Faculdade assinado pelo director Telmo Mourinho Baptista, e por Luís Miguel Carvalho, director do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

Mas “não estava prevista ou agendada qualquer palestra para aquele espaço ou qualquer outro” e “o que aconteceu foi um improviso por partes dos activistas, destinado a criar uma situação propícia à narrativa de que se tentava limitar a sua liberdade de expressão”, acusa ainda o comunicado.

O documento também nota que, desde segunda-feira, há uma “nova vaga” de manifestações sobre o clima, com acções que incluem formas de bloqueio da actividade, com a instalação de cartazes e tendas no anfiteatro principal, e pessoas sentadas a impedir o acesso ao espaço onde decorrem aulas.

Foi isso o que se verificou na quarta-feira, segundo a Faculdade. E perante a recusa de facilitar o acesso, foi solicitada a intervenção das autoridades que acabaram por fazer a detenção das activistas, explica ainda.

Os responsáveis da Faculdade salientam que o direito à manifestação e à expressão de opinião nunca foi posto em causa. Mas, numa sociedade democrática e aberta, “existem regras de vida comum, incluindo regras sobra a manifestação pública, e direitos e deveres aplicáveis a todos”, constatam.

Bloco e Livre querem explicações do Governo

As detenções nas duas Faculdades levaram o Bloco de Esquerda e o Livre a pedirem esclarecimentos ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e ao Ministério da Administração Interna.

O deputado e porta-voz do Livre, Rui Tavares, questionou o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, sobre a “manifesta desproporção nos meios utilizados e no tipo de força empregada, face ao que estava em causa: exercício pacífico do direito de opinião e de manifestação”.

Já o Bloco quer saber se o Ministério vai “pedir esclarecimentos à Direcção da FCSH da Universidade Nova de Lisboa e à Direcção da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa sobre o facto de terem chamado a PSP para remover estudantes do seu espaço”.

“Os recintos das universidades e politécnicos são historicamente considerados lugares de liberdade, onde as forças de segurança só em última instância devem intervir”, aponta a deputada Joana Mortágua, eleita pelo Bloco, salientando que está em causa o “legado da luta estudantil pela democracia”.

Susana Valente, ZAP // Lusa

11 Comments

  1. Curioso. A democracia não reconhece a autonomia universitária. Iremos ter saudades de Marcelo Caetano como Reitor da Universidade de Lisboa?…

  2. Tiraram de lá o PS? Agora preparem-se.
    Greves ? É sinónimo de porrada para cima.
    Agora votem Chega e depois perdem o direito ao voto, à liberdade, às reivindicações, etc
    Povo esquecido… pais que não souberam transmitir aos filhos e netos os horrores do fascismo, estúpidos

  3. @Vítor Silva com o seu grande poder de profecia podia-me dizer os números do euromilhões ?? O povo não é esquecido o povo é mais culto do que pensa e sabe comparar um país como Itália governada pelo bicho papão da direita com a Venezuela governada pelo anjos da esquerda.

  4. Que p… de confusão vai neste país!!!
    O Governo mete o bedelho em tudo!!!
    Um gosta de malhar na direita, outro gosta da ala esquerda, o principal… come com todos, quer é poder!!!
    Vigiando os passos da PJ, esqueceram-se da PSP… kkkkk
    Já não voltarei a votar Chega, gosto (mas não posso) mandar umas passas num bom charro!!!
    Sou cristão mas, não sou cego… tanto condeno o hamas como isrrael… sou centrista mas com inclinação esquerda, vou voltar ao CDS, agora com o Nuno Melo talvez me volte a sentir tão bem como com o Manuel Monteiro!!!

  5. Não se protege o clima com manifestações nem com palestras.
    Esses estudantes tão preocupados com o clima deviam mudar de curso e ir para engenharia química ou mecânica ou electrotécnica para ajudar a resolver os problemas técnicos da produção, armazenamento e transformação de energia.
    Isto parece uma brincadeira…. os políticos ao mais alto nível sufocam e atrofiam o desenvolvimento tecnológico do país, é a máfia do lítio, é a máfia do hidrogénio verde, é só máfia…
    Os tótós do clima esquecem-se que o planeta é só um, e enquanto pressionam os políticos aqui na Europa para reduzir a poluição, vão depois comprar produtos da China, onde queimam carvão e estão-se nas tintas para o clima.
    Assim vamos arruinar a industria na Europa e as emissões de CO2 só aumentam porque a China continua a queimar carvão para satisfazer o consumo europeu.
    A atmosfera é só uma, o CO2 produzido na China espalha-se pelo mundo todo, o efeito de estufa é global.
    A indústria europeia necessita inovação tecnológica para aumentar a sua eficiência e reduzir a sua poluição.
    Mas com tantas leis ambientalistas idiotas e mais o esquema de especulação dos direitos de emissões de CO2, só vamos matar a nossa indústria.

  6. Inda tenho memoria do Estado Novo de Salazar . Espero que nunca o torne a viver , Saudosistas , não faltam , veria-mos de novo instaurada a Mocidade Portuguesa com o seu Hino e Saudação Fascista . Os Partidos extremistas anseiam por esse momento , e não será para o bem do Povo , podem crer !……Privilégios e Corrupção serão reservados aos seus militantes !…Dize-se por vezes , que o Passado Repete-se ! . Espero que nunca aconteça !

  7. Criar o caos, impedindo o acesso às aulas e realizando comícios políticos num espaço que deveria ser de ensino. Ainda para mais, recorrer a técnicas de vitimização e desrespeito para com as autoridades, nunca poderá ser considerado “democracia”. Estes grupinhos de inúteis, prestam-se a servicinhos políticos a favor de quem não está preocupado, nem com o clima, nem com a liberdade.

  8. atento, excelente retrato do extremismo esquerdista, climático, globalista. Basta olhar para a realidade atual do mundo. Já agora o “fascismo” nasce em Itália, de um dissidente comunista, Benito Mussolini criando grupo Fasci d’Azione Rivoluzionaria, dando lugar mais tarde, em 1922, ao Partido Nacional Fascista. Assim, pode dizer-se que o “fascismo” é uma variante do comunismo, o que aliás facilmente se comprova pelas bases ideológicas comuns. Mas claro, isto não interessa ensinar nas escolas. É mais fácil e “interessante” mentir e dizer que o fascismo é de direita.

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