A equipa da Dinamarca entrou em campo, na estreia no Mundial 2022, no Qatar, diante da Tunísia, com uma camisola de protesto. Mas apenas os mais atentos terão percebido que o equipamento tinha os logotipos da selecção e da marca que a patrocina, a Hummel, esbatidos.
“Não queremos ser visíveis durante um torneio que custou a vida de milhares de pessoas”, escreve a Hummel que patrocina a selecção da Dinamarca, numa publicação no Twitter.
“Apoiamos a selecção dinamarquesa totalmente, mas isso não é o mesmo que apoiar o Qatar como país anfitrião” do Campeonato do Mundo, acrescenta a marca de equipamentos desportivos, mostrando um exemplar das camisolas usadas pela equipa, com o logotipo esbatido, quase sem se ver.
This shirt carries with it a message.
We don’t wish to be visible during a tournament that has cost thousands of people their lives.
We support the Danish national team all the way, but that isn’t the same as supporting Qatar as a host nation. pic.twitter.com/7bgMgK7WzS
— hummel (@hummel1923) September 28, 2022
A referência da Hummel às mortes reporta para as condições de trabalho dos imigrantes que ajudaram a construir os estádios. Em 2021, foram anunciadas mais de de 6.500 mortes. Já neste ano, a Amnistia Internacional denunciou condições semelhantes a “trabalho escravo”.
O terceiro equipamento da Dinamarca é todo preto e, segundo a Hummel, representa “a cor do luto”.
A marca refere que os equipamentos também foram inspirados na selecção da Dinamarca de 1992 que foi campeã europeia.
Já a Federação Dinamarquesa de Futebol não faz qualquer referência ao protesto, salientando apenas que os equipamentos celebram “o 30º aniversário do maior triunfo do futebol dinamarquês“, isto é, o Europeu de 1992.
A Hummel justifica este protesto nas camisolas com as questões dos direitos humanos que subsistem para lá das condições dos trabalhadores imigrantes. No Qatar, a homossexualidade é crime, os direitos das mulheres são limitados e não há liberdade de expressão.
Contudo, a marca que tem sede na Dinamarca também está a ser criticada porque os equipamentos serão fabricados na China, outro país com “culpas” no capítulo dos direitos humanos. Assim, há acusações de que é apenas uma jogada de marketing para vender camisolas.
O Comité organizador do Mundial do Qatar já contestou a ideia da Hummel de que o torneio tenha vitimado milhares de pessoas.
“Rejeitamos de todo o coração a banalização do nosso compromisso genuíno de proteger a saúde e a segurança dos 30.000 trabalhadores que construíram os estádios do Campeonato do Mundo da FIFA e outros projectos”, refere o Comité em comunicado.
Hipocrisia. Quem está no Qatar é colaborante do que se passa. Protestos nas camisolas mas jogam na mesma? Hipocrisia.