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Protesto contra a destituição do Presidente faz dois mortos no Peru

Aldair Mejia / EPA

Dois manifestantes morreram em confrontos com a polícia, este sábado, em Lima, no Peru, agravando a contestação ao Presidente Manuel Merino, que assumiu o cargo depois da destituição de Martín Vizcarra.

Segundo a agência espanhola EFE, a violência policial nas manifestações deste sábado fez dois mortos, um jovem, de 25 anos, com ferimentos de arma de fogo na cabeça e um outro, de 24 anos, alvejado quatro vezes.

Na segunda-feira, o Parlamento do Peru destituiu o Presidente, Martín Vizcarra, por “incapacidade moral”, no seguimento da segunda moção de censura apresentada noutros tantos meses contra o líder deste país sul-americano.

A moção para destituir o chefe de Estado, popular pela sua intransigência contra a corrupção, teve como motivo alegados subornos recebidos, entre 2011 e 2014, quando era governador do departamento de Moquegua.

O presidente do Parlamento, Manuel Merino, assumiu um dia depois o comando do Governo até ao final do mandato de Vizcarra, a 28 de julho de 2021. Mas o novo chefe de Estado, um engenheiro agrícola de centro-direita, de 59 anos, enfrenta uma enorme contestação no país.

No sábado, milhares de manifestantes, na sua maioria jovens, saíram novamente às ruas em várias cidades do país para exigir a demissão de Merino e rejeitar o que consideram ser um golpe de estado parlamentar. Os jovens empunhavam cartazes dizendo “Merino, tu não és o meu Presidente” ou “Merino impostor”.

Segundo a agência France-Presse, um grupo aproximou-se da casa do governante para protestar, ao som de panelas e tambores. A polícia voltou a utilizar gás lacrimogéneo, lançado também a partir de helicópteros, além de balas de borracha e projéteis não identificados, para dispersar manifestantes.

O presidente do Parlamento peruano, Luis Valdez, que substituiu Merino à frente da assembleia legislativa, pediu a sua “renúncia imediata” do cargo, antes de uma reunião de urgência, convocada para este domingo, para discutir a sua destituição.

“Não se pode ignorar a vontade da população”, disse Valdez, que também anunciou que deixará o cargo de presidente do Parlamento, segundo a EFE.

As críticas de Valdez, que votou a favor da destituição de Vizcarra na origem da crise política, somam-se às de vários políticos peruanos, face à contestação nas ruas de milhares de pessoas desde terça-feira e à violenta repressão policial, já denunciada pela Amnistia Internacional (AI).

“Os vídeos verificados digitalmente pela Amnistia Internacional são provas contundentes da violência perpetrada pela polícia contra a população que devia proteger”, disse a organização não-governamental em comunicado, na tarde de sábado, apontando pelo menos 15 feridos por armas de fogo, incluindo três em estado grave.

Nessa altura, a AI denunciou igualmente que “vários agentes da polícia dispararam diretamente contra pessoas durante uma manifestação”, na noite de 12 de novembro, perto do Tribunal Superior de Justiça de Lima.

No Twitter, o presidente deposto já condenou as mortes de cidadãos que protestam contra o regime, classificando o Governo presidido por Merino de “ilegal e ilegítimo”.

Apesar dos apelos à renúncia de Merino, o primeiro-ministro Ántero Flores Araoz, um conservador de 78 anos, defendeu que este conta com o apoio de “milhões de peruanos”. “Ele não considerou afastar-se porque milhões de peruanos o apoiam. Infelizmente, eles ficam em casa. Eu não os convidaria a sair”, disse Araoz, citado pela AFP.

O presidente da Conferência Episcopal exortou o Governo a dialogar e a respeitar o direito de manifestação. “É essencial ouvir e ter em conta os gritos e clamores da população para recuperar a confiança, a tranquilidade e a paz social”, apelou o arcebispo Miguel Cabrejos de Trujillo, em comunicado.

Vizcarra, que estava no cargo desde 2018, é o segundo Presidente do Peru em apenas dois anos. Antes, era vice de Pedro Pablo Kuczynski, que renunciou ao cargo após denúncias de compra de votos de legisladores para evitar a destituição (também motivada por alegados subornos recebidos da empreiteira brasileira Odebrecht).

Esta crise política ocorre numa altura em que o país enfrenta instabilidade económica e social, para além de ter sido gravemente afetado pela pandemia de covid-19.

ZAP // Lusa

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