Um marco na história dos organismos geneticamente modificados: o arroz dourado vai começar a ser cultivado no Bangladesh.
Apesar de já haver variedades transgénicas de diversas culturas, nenhuma existe por razões humanitárias. Milho, soja e algodão transgénicos, por exemplo, foram criados tendo em mente o aumento de produtividade.
O arroz dourado, por seu lado, tem por objetivo ajudar a resolver problemas graves de nutrição em países em desenvolvimento – a introdução de um gene novo faz com que o arroz consiga biossintetizar betaroteno, um precursor da vitamina A.
Calcula-se que, nas regiões subdesenvolvidas, 670 mil crianças com menos de 5 anos morram anualmente, por não ingerirem vitamina A suficiente. Entre 250 mil e meio milhão ficam cegas, segundo a Organização Mundial de Saúde.
O anúncio foi dado pelo ministro da Agricultura do Bangladesh. “Um comité do ministro do Ambiente vai dar autorização para se produzir arroz dourado. Vamos poder iniciar o cultivo do arroz dois a três meses depois da autorização“, disse Abdur Razza. “O arroz dourado é mais importante do que as outras variedades de arroz, porque nos vai ajudar a combater as deficiências de vitamina A”, justificou, citado pela Visão.
Este arroz transgénico já foi autorizado nos EUA, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia, mas ainda não começou a ser produzido. No caso do Bangladesh, o seu cultivo é muito mais importante, dados os graves problemas de nutrição infantil no país.
“A maioria das pessoas do nosso país vive do arroz. Também não comem vegetais suficientes, pelo que a ingestão de vitamina A fica aquém do necessário. Quando o arroz dourado for produzido, a procura de vitamina A será satisfeita”, disse o ministro, citado pelo jornal Dhaka Tribune.
A investigação e desenvolvimento do arroz dourado arrancou há quase 40 anos. Porém, além das dificuldades inerentes à tecnologia, uma vez que os cientistas ainda não conseguiram atingir o mesmo nível de produtividade do arroz tradicional, ativistas têm feito os possíveis por sabotar o projeto, incluindo destruir campos de teste.
A Greenpeace tem sido o principal adversário da tecnologia, alegando possíveis efeitos no ambiente e na saúde e o suposto controlo das sementes por multinacionais, por motivos financeiros. O arroz dourado, no entanto, é um projeto humanitário sem patente.
Um estudo da Universidade de Cambridge, publicado em 2014, calculou que os atrasos na implementação da tecnologia haviam sido responsáveis, só na Índia, pela perda, nos dez anos anteriores, de 1,4 milhões de anos de vida devido às deficiências de vitamina A que poderiam ter sido resolvidas com o arroz dourado.