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Portugal admite reconhecer Palestina. Londres seguirá Paris se Israel não cumprir condições

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José Sena Goulão / Lusa

Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros

60 mil mortos depois, Rangel reconheceu, com outros 14 países europeus,  “passo essencial” para a solução de dois Estados. Mas “o único caminho para a paz está mais distante que nunca”, diz Guterres.

Portugal admite reconhecer o Estado da Palestina e declara-se empenhado em trabalhar no “dia seguinte” em Gaza, numa declaração conjunta assinada no final da conferência sobre a solução dos dois Estados, nas Nações Unidas.

“Antes da reunião dos chefes de Estado e de Governo que terá lugar durante a semana de alto nível da 80.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU 80) em setembro de 2025, (…) [os chefes da diplomacia de 12 países europeus, Canadá, Austrália e Nova Zelândia] já reconhecemos, expressámos ou expressamos a vontade ou a consideração positiva dos nossos países em reconhecer o Estado da Palestina, como um passo essencial para a solução de dois Estados”, lê-se na declaração, subscrita pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português.

Pela Europa, assinam a declaração Andorra, Finlândia, França, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Noruega, Portugal, San Marino, Eslovénia e Espanha. Entre estes países, Espanha, Irlanda, Noruega e Eslovénia reconheceram o Estado palestiniano no ano passado.

“Convidamos todos os países que ainda não o fizeram a aderir a este apelo” sobre o reconhecimento do Estado da Palestina, exortam os ministros na declaração conjunta, que apelam ainda aos países que ainda não o fizeram “a estabelecer relações normais com Israel e a expressar a sua vontade de iniciar discussões sobre a integração regional do Estado de Israel”.

Londres também reconhecerá Palestina em setembro, se…

França anunciou na semana passada que dará esse passo na Assembleia Geral da ONU, em setembro, e o Reino Unido poderá fazer o mesmo, anunciou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, esta terça-feira.

O Reino Unido vai reconhecer o Estado da Palestina se Israel não cumprir uma série de condições, nomeadamente acabar com a “situação catastrófica em Gaza”, anunciou o líder britânico.

Decretar um cessar-fogo no enclave palestiniano e garantir que não vai anexar a Cisjordânia são outras das condições mencionadas por Keir Starmer, que convocou uma reunião de emergência do Conselho de Ministros para abordar a situação em Gaza.

O primeiro-ministro britânico exigiu também que Israel se comprometa com um processo de paz de longo prazo que alcance uma solução de dois Estados, Israel e Palestina, de acordo com um comunicado divulgado por Downing Street.

“Arquitetura para o dia seguinte”

Os 15 países afirmam-se ainda determinados em “trabalhar numa arquitetura para o ‘dia seguinte’ em Gaza que garanta a reconstrução de Gaza, o desarmamento do Hamas e a sua exclusão da governação palestiniana”. Os ministros condenam o “hediondo ataque terrorista antissemita de 7 de outubro de 2023”, perpetrado pelo movimento islamita palestiniano em território israelita.

“Exigimos um cessar-fogo imediato, a libertação imediata e incondicional de todos os reféns do Hamas, incluindo os restos mortais, bem como a garantia de acesso humanitário sem obstáculos”, reclamam, na declaração.

A declaração expressa “profunda preocupação com o elevado número de vítimas civis e a situação humanitária em Gaza” e sublinham o “papel essencial” das Nações Unidas e das suas agências na “facilitação da assistência humanitária”.

Israel interrompeu durante meses a entrada de ajuda humanitária no enclave, enquanto a entrega de alimentos, por uma organização privada, apoiada pelos israelitas e pelos norte-americanos, está a ser marcada pela morte de mais de 1.000 palestinianos pelas forças israelitas.

A ONU e outras organizações têm denunciado a fome em Gaza, que tem gerado uma crescente indignação global devido às políticas e práticas israelitas – o que Israel nega.

Os 15 países reiteram o “compromisso inabalável com a visão da solução de dois Estados, em que dois Estados democráticos, Israel e a Palestina, coexistam em paz dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, em conformidade com o direito internacional e as resoluções pertinentes da ONU”.

Salientam ainda a “importância de unificar a Faixa de Gaza com a Cisjordânia sob a Autoridade Palestiniana“.

Na declaração, os países aplaudem os compromissos assumidos pela Autoridade Palestiniana em 10 de junho, nomeadamente a condenação dos ataques terroristas de 07 de outubro, o apelo à libertação dos reféns e ao desarmamento do Hamas, o compromisso de pôr termo ao sistema de pagamento aos prisioneiros, de realizar uma reforma escolar e de convocar eleições dentro de um ano, além de aceitar o princípio de um Estado palestiniano desmilitarizado.

“Ponto de viragem”, diz Rangel

Na terça-feira, na intervenção na conferência de dois dias, convocada por França e Arábia Saudita, o ministro Paulo Rangel já tinha destacado alguns destes compromissos assumidos pela Autoridade Palestiniana, que considerou “um novo passo para a concretização da solução dos dois Estados”.

Para o chefe da diplomacia portuguesa, a declaração da Autoridade Palestiniana, aliada a “uma nova posição de tantos Estados da região relativamente a Israel e ao seu direito à existência”, marcam “um ponto de viragem“.

A Conferência Internacional para a Solução de Dois Estados no Médio Oriente terminou na terça-feira com uma declaração que apoia “inabalavelmente” uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano e para a guerra em curso em Gaza.

A “Declaração de Nova Iorque” estabelece um plano por fases para pôr fim ao conflito de quase oito décadas e a guerra em Gaza, culminando com uma Palestina independente e desmilitarizada, ao lado de Israel, e a eventual integração deste país na região do Médio Oriente.

Apesar de tudo, o secretário-geral da ONU António Guterres mantém o pessimismo: “o único caminho para a paz está mais distante que nunca”, disse esta semana, referindo-se à solução de dois Estados.

Mais de 60 mil palestinianos morreram na guerra entre Israel e o Hamas, que começou há 21 meses, declarou esta terça-feira o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo grupo islamita palestiniano. Outras 145.870 pessoas ficaram feridas desde o início da guerra.

ZAP // Lusa

11 Comments

  1. Starmer é um racista, odioso, belicista, traidor, imperialista, capitalista, corrupto, criminoso, pervertido e conspirador, nascido de um demónio. A história irá lembrá-lo como cúmplice de genocídio!

    isto não passa de Kabuki !!

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  2. Todos nós lamentamos profundamente o que se está a passar em Gaza. Mas o ataque que Israel sofreu em 2023 trouxe ao de cima o que este povo sofreu no tempo da 2ª guerra mundial. É natural que se defendam de atos terroristas que vieram precisamente de Gaza pelo Hamas. Fiquem cientes que enquanto o Hamas não for destruído Israel não vai dar paz.
    Porque não pode o seu povo traz na pele no sangue os horrores que sofreram.
    Se os outros países tem tanta pena do povo de Gaza que os aceitem nos seus países, mas tenham em linha de conta que o povo de Gaza nada fez para travar o que Hamas construiu debaixo da terra para ferir Israel.
    Estavam á espera de quê ??
    Mas esses países que estão a ponderar apoiar Gaza também estão a apoiar o Hamas.
    Nesse caso deviam também ter apoiado o Nazismo???
    Governantes pensem antes de atoar sem aproveção dos povos.

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    • Amigo. Escreva mais sucintamente!

      Depois de cometer um genocídio é um bocadinho cretino vir com a carta do Holocausto não? Essa carta expirou! è como a carta de sair da prisão do monopólio!

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      • Diz lá o que os Camaradas fizeram em 70 anos? 120 milhões… é muito esqueleto. Diz lá uma guerra iniciada por Israel desde a formação do Estado de Israel 1948. Tens casos como 1967 que foram 9 países em coligação declaram o genocídio de todos os que residiam no Israel….. Dezenas de guerras foram declaradas contra Israel e todas foram ganhas por Israel. Ao contrario da Rússia que só sabe perder.

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    • O dr. Luz não tem noção daquilo que escreve, leiam bem esta palermice que ele escreveu «…Se os outros países tem tanta pena do povo de Gaza que os aceitem nos seus países…», a estupidez aqui não tem limite, porquê que os Países devem aceitar/receber os Palestinos se eles já têm o seu próprio País e Estado, a Palestina?
      Cristãos, Muçulmanos, e Judeus sempre viveram em paz na Palestina, a invasão, ocupação, guerra, violência, caos, saque, morte, intolerância religiosa, divisões, genocídio, e perseguição de Cristãos e Muçulmanos, só começou quando o regime da Inglaterra e os Sionistas (Anglo-Sionistas) invadiram e ocuparam a Palestina e inventaram o “Estado” de “Israel” pela Declaração de Balfour; quem tem de sair e ser expulso da Palestina são os Anglo-Sionistas.

    • O ataque que Israel sofreu foi por vontade própria, foi propositado.
      Como é possível que os melhores serviços secretos do mundo não faziam a mínima ideia do que poderia acontecer?
      Como é possível a aproximação de tantos homens armados e viaturas junto de uma fronteira totalmente vigiada sem que as autoridades israelitas nunca se apercebessem? Todos aqueles homens e viaturas não chegaram lá de um dia para o outro, a concentração nunca foi detetada?
      Como é possível a realização de um festival musical daquela dimensão junto à fronteira sem qualquer reforço da segurança das autoridades israelitas? Em eventos muito mais pequenos ocorridos em Israel não falta segurança.
      Nada daquilo aconteceu por acaso. O ataque do Hamas foi a desculpa para Israel invadir e destruir totalmente a Palestina, foi o bode expiatório para o genocídio que estão a cometer. Israel nunca esteve, nem está, interessado nos prisioneiros israelitas que o Hamas detém, pelo contrário, usa-os como justificação para a continuação do genocídio.
      Este ataque é uma cópia do que aconteceu nos EUA no 11 de setembro, como foi possível terroristas armados enganarem a segurança e desviarem três aviões, não foi um, isso até era aceitável, foram três, e o que aconteceu a seguir, os EUA invadiram o Iraque e posteriormente atacaram outros países com a desculpa de combaterem os terroristas e os países que os apoiavam, embora o principal interesse fosse o petróleo.
      Como se costuma dizer a cara de um é o focinho do outro…

  3. Agora reconhecemos títulos colonialistas? Estranho, digam lá vai ser reconhecida à Palestina Romana ou Britânica e vai desaparecer Israel e Jordânia para satisfazer um grupo organizado de terroristas. Que tal fazermos o mesmo acabamos com o Portugal e Espanha, e passamos a ser apenas Península Ibérica e a minoria islâmica volta a nos governar.

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  4. Esta obsessão com o reconhecimento da Palestina teria mais credibilidade se fosse acompanhada de uma igual exigência do reconhecimento do Curdistão, sobretudo quando os curdos são provavelmento os muçulmanos mais civilizados e mais tolerantes do nosso planeta.

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