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Portugal é dos países onde mais se confia nas notícias, mas um dos onde menos se paga por notícias online

Portugal, a par da Finlândia, é dos países onde mais se confia em notícias, entre 40 países, revela o Digital News Report 2020, numa altura em que a confiança média em notícias caiu de 2019 para 2020.

“Portugal continua a destacar-se em termos de confiança em notícias, sendo, a par da Finlândia, o país onde mais se confia em notícias entre os 40 analisados no âmbito do Reuters Digital News Report 2020“, refere o relatório.

Em 40 países Portugal ocupa o primeiro lugar, a par da Finlândia, com 56% dos portugueses a afirmarem que confiam em notícias.

“A confiança média em notícias caiu, entre 2019 e 2020, cinco pontos percentuais, dos 42% para os 37%, sendo que no caso do nosso país se registou também uma quebra, ainda que francamente menor, na ordem dos 1,4 pontos percentuais”, adiantam.

Ou seja, “a confiança geral nos media continua a cair nos 40 mercados, menos de quatro em cada dez (38%) disseram que confiam ‘na maioria das notícias na maioria das vezes’ – uma queda de quatro pontos percentuais em relação a 2019. Um pouco menos que metade (46%) disse que confia nas notícias que usa, enquanto a confiança nas pesquisas (32%) e nas redes sociais (22%) é ainda menor”, aponta o estudo.

“Os portugueses são unânimes no reconhecimento da centralidade do jornalismo na sociedade, com sete em cada 10 portugueses a considerarem que este desempenha um papel importante no bom funcionamento das estruturas sociais contemporâneas”.

Os inquiridos “que se posicionam politicamente à esquerda e ao centro tendem a atribuir aos jornalistas um papel de maior responsabilidade na filtragem dos factos e sua veracidade”, enquanto que os que se situam no quadrante direito do espectro político “tendem a achar que não cabe aos media o papel de fazer este tipo de triagem”.

Hábitos informativos

Relativamente aos hábitos informativos, um quarto dos inquiridos acede a notícias pelo menos seis vezes por dia, independentemente do formato. “São, também, unânimes na preferência de notícias com posicionamento neutro, isto é, que não defendem nenhum ponto de vista específico (57,4%). Não obstante, cerca de um quarto dos inquiridos dizem preferir conteúdos noticiosos que corroboram as suas opiniões pessoais (27,6%)”, refere o relatório.

A televisão continua a ser a principal fonte de notícias para pouco mais de metade (55,8%) dos portugueses, sendo que o aumento do peso da Internet e das redes sociais é feito, “sobretudo, através da perda de importância da rádio e da imprensa”.

Por marcas, no quadro em que todas se posicionam na confiança acima dos 60%, “apenas o Correio da Manhã se situa abaixo desta linha, com 50,3% dos portugueses a dizer confiar na marca do grupo Cofina”.

A marca que “reúne maior confiança por parte dos portugueses é a RTP 1 (80,4%) seguida pela SIC (79,7%), pelo Expresso (76,5%) e pelo Jornal de Notícias (75,9%)”, lê-se no documento.

“As marcas nativas digitais Observador, Notícias ao Minuto e Sapo, apesar de serem projetos informativos muito diferentes entre si, reúnem a confiança dos consumidores em proporções semelhantes, mais no fim da tabela”, prossegue o relatório.

Pela primeira vez, “em 2020, o Reuters DNR abordou de forma aprofundada a questão dos media locais e regionais”, concluindo que “cerca de metade dos portugueses (47,9%) dizem-se interessados por conteúdos informativos deste tipo, face a 65,3% que dizem interessar-se por notícias em geral”.

Por faixas etárias, “o interesse por notícias em geral tende a aumentar com a idade, entre os 18 e 35 anos de idade, estabilizando na casa dos 60% para os portugueses em idade ativa e mais velhos (35 e mais anos)”.

Os conteúdos noticiosos locais e regionais “seguem um perfil semelhante, mas observa-se um pico entre os que têm idades compreendidas entre os 35 e 44 anos”, sendo que “os mais jovens (18-24) e os mais velhos (65 e mais) são, em proporção, os que menos interesse têm por conteúdos noticiosos desta escala geográfica, em percentagens respetivas de 32,6% e 41%”.

Os jornais locais, em formato impresso ou digital, “foram utilizados por 43,3% dos portugueses na semana anterior, seguidos pelas páginas de grupos locais nas redes sociais ou em fóruns/grupos de discussão – 33,5% dos portugueses”, acrescenta.

“O contacto pessoal com outros moradores, vizinhos, amigos e/ou família tem também um papel preponderante na obtenção de informação sobre o que se passa a nível local (30,1%)”, salienta.

Por sua vez, as rádios e televisões locais “atingem proporções menores, mas ainda assim relevantes para esta análise (19,7% e 16,2%, respetivamente), sendo as instituições oficiais relegadas para um plano inferior, tendo sido utilizadas por 13,9% dos inquiridos”.

O smartphone “tornou-se, definitivamente, o dispositivo mais utilizado pelos portugueses, em termos de uso geral e para consumo de notícias, quando comparado com computador e tablet”, com 70,4% a utilizar este dispositivo.

Um dos países onde “menos se paga por notícias online”

“Não obstante o aumento de três pontos percentuais entre 2019 e 2020, em termos de pagamento de notícias online, Portugal continua a destacar-se como um dos países do mundo onde menos se paga” por essas notícias, o que representa “uma forte ameaça à sobrevivência ao ecossistema noticioso em que os portugueses tanto dizem confiar e que tanto utilizam de forma tão frequente ao longo do dia”, lê-se no relatório.

“Os dados de 2020 surgem no seguimento de uma tendência perdulária observada entre 2017 e 2019, onde a proporção de portugueses que afirma pagar por notícias em formato digital caiu dos 9,5% para os 7,1%“, adianta, apontando que “2020 foi o ano em que se ultrapassou a barreira simbólica de haver mais de um português por cada 10 a pagar por conteúdos noticiosos ‘online'”.

Trata-se de uma “tendência que esperamos ser de crescimento, face ao forte investimento feito pelas marcas em termos de digitalização dos seus modelos de negócio”, adianta o relatório.

Entre as diferentes formas de pagamento, refere o DNR PT 2020, “continuam a destacar-se a subscrição de um serviço noticioso ongoing, independentemente da periodicidade do pagamento (36,5%), e o pagamento por notícias por intermédio da subscrição de um outro serviço (34,5%)”.

Destaca-se ainda que “72,9% dos que pagam por notícias em formato digital o fazerem de forma continuada, ou seja, estão financeiramente comprometidos no tempo com os conteúdos que estão a consumir”.

Um outro dado relevante “para compreender melhor a pequena amostra de portugueses que paga por notícias online, é de que são, potencialmente, consumidores muito mais ativos de notícias do que os portugueses em geral, em termos de frequência de consulta das diversas marcas”.

No que respeita às áreas de desporto e economia/finanças, “a audiência entre os inquiridos que pagam por notícias online (independentemente da marca a que pagam) é praticamente o dobro da observada entre os portugueses em geral”.

Preferências de redes sociais

Relativamente às redes sociais, o Facebook é a plataforma preferida dos portugueses, com três quartos dos inquiridos a afirmar que a usam para fins gerais e metade para consumo de notícias.

“A plataforma de streaming YouTube surge num destacado segundo lugar, a menos de 10 pontos percentuais de distância, tendo sido utilizada por 68% dos portugueses”, salienta.

“É de destacar também o papel preponderante que as apps de mensagens instantâneas têm no quotidiano digital dos portugueses. Ambas propriedade do universo Facebook, WhatsApp e Facebook Messenger consolidam o seu papel na paisagem social portuguesa online, surgindo a rede Instagram num quinto plano”, acrescenta.

Este ano, “a proporção de portugueses que utiliza WhatsApp aumentou em 11,8 pontos percentuais, dos 47,4% para os 59,2%”, enquanto no caso do Instagram, esta subida foi de sete pontos percentuais, dos 39,6% em 2019 para os 46,6% em 2020.

No caso da rede social Twitter, “observou-se um aumento de 3,7 pontos percentuais no mesmo período, dos 11,7% para os 15,4%”.

Estas três redes registam “ganhos em termos de utilizadores para fins de consumo de notícias, de 2,8 pontos percentuais no caso do WhatsApp, de 2,3 pontos percentuais no caso do Instagram e de 3,1 pontos percentuais no do Twitter”.

Preocupação com as alterações climáticas

No que respeita ao ambiente, “os portugueses são unânimes na consideração de que as alterações climáticas são um assunto sério, com 85% a considerar os graus de seriedade mais elevados na escala disponibilizada pela YouGov”.

Com valores “semelhantes aos das Filipinas, Portugal é ultrapassado em termos de preocupação com alterações climáticas apenas pelo Chile, Quénia, África do Sul e Turquia. Num quadro comparativo em que a média de inquiridos muito preocupados com as alterações climáticas se situa nos 70%, surge no extremo oposto um conjunto de países situados no Norte e Centro-Norte da Europa: Holanda (41%), Noruega (42%), Suécia (50%) e Dinamarca (53%)”.

A fonte privilegiada pelos portugueses para obter informação sobre alterações climáticas é a televisão.

“Enquanto a crise da covid-19 reforçou a necessidade de notícias confiáveis, o relatório argumenta que os próximos 12 meses provavelmente trarão mudanças significativas no ambiente dos media à medida que pressões económicas se combinam com a incerteza política e mudanças dos consumidores para o digital, redes sociais e dispositivos móveis”.

O Reuters Digital News Report 2020 (Reuters DNR 2020) é o nono relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ) e o sexto relatório a contar com informação sobre Portugal.

A pesquisa foi levada a cabo em 40 países, o tamanho total da amostra foi de mais de 80 mil adultos, cerca de dois mil por país, tendo o trabalho de campo sido realizado entre janeiro e fevereiro deste ano.

ZAP // Lusa

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