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Portugal “não está livre de uma quarta vaga” de contágios quando desconfinar

Manuel Fernando Araújo / Lusa

Vista geral da Rua de Santa Catarina durante o recolher obrigatório

Na quarta-feira, Graça Freitas admitiu que Portugal pode voltar a enfrentar uma nova vaga da pandemia de covid-19 nos próximos meses. O epidemiologista Manuel Carmo Gomes repete o alerta da diretora-geral da Saúde.

Portugal pode enfrentar uma nova vaga de contágios quando entrar na fase de desconfinamento, alertou esta quinta-feira o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, considerando preocupante a maior transmissibilidade das novas variantes do SARS-CoV-2.

Portugal não está livre de uma quarta vaga“, afirmou à Lusa o cientista, segundo o qual, apesar de as novas infeções estarem todos os dias a diminuir no país, o ritmo é agora “mais lento” e o próprio Rt [índice de transmissibilidade], que está abaixo de 1, “tem estado a subir devagar, o que significa que estamos a reativar o número de contágios”.

“Já não estamos a ir na direção do 0 e estamos a tender para um planalto”, frisou.

Para o especialista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a experiência deste ano de pandemia já demonstrou que, “quando começarmos a desconfinar, é inevitável que o número de contágios vá aumentar”.

Manuel Carmo Gomes advertiu que, nesta fase, a preocupação é de que os contágios “possam aumentar mais depressa” devido à presença das três novas variantes, tendo em conta que “as mutações fazem com que o vírus se transmita mais”.

Para o especialista, a presença da variante detetada no Reino Unido “é uma das razões” que explicam o aumento exponencial de casos em janeiro. O investigador sustentou que, no caso desta variante, a ciência já demonstrou que há uma “maior transmissibilidade”, uma vez que as pessoas por ela infetadas “têm maior carga viral no trato respiratório superior”.

Quanto à variante detetada no Brasil, há indícios, ainda por validar pela comunidade científica, de que “há reinfeções na região de Manaus por essa variante, o que é motivo de preocupação” e que “a proteção conferida pela variante mais antiga do vírus é apenas parcial”.

Em relação à variante detetada pela primeira vez na África do Sul, advertiu, além da maior transmissibilidade, também pode reinfetar quem já foi atingido.

Além disso, no caso da variante inglesa, já há “evidências (provas) suficientes para dizer que nas pessoas que estão hospitalizadas o risco de morte é mais elevado se estiverem infetadas pela variante do que o vírus mais antigo”.

Por estas razões, Manuel Carmo Gomes defendeu que o desconfinamento deve ser feito por fases, com base na avaliação do impacto de cada uma dessas fases e sem calendários pré-estabelecidos.

Sobre o processo de vacinação, Manuel Carmo Gomes explicou que deve abranger “mais pessoas no mais curto espaço de tempo” para evitar uma subida das hospitalizações, se tiver de enfrentar uma nova vaga de contágios.

Uma das hipóteses para acelerar o processo passa por alargar “para seis semanas” o período entre a primeira e a segunda toma da vacina. “Se o fizermos, temos a possibilidade de vacinar dezenas de milhares de pessoas fragilizadas, que podem ser hospitalizadas se forem infetadas, num mais curto espaço de tempo”, sustentou.

Manuel Carmo Gomes defendeu ainda o alargamento da toma da vacina da AstraZeneca “a todas as idades, nomeadamente a partir dos 65 anos”.

“A meu ver vamos tarde nessa direção, porque a evidência (informação científica) diz-nos que a AstraZeneca confere proteção muito elevada para maiores de 80 anos, nomeadamente contra hospitalizações”, afirmou.

// Lusa

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