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Em plena pandemia, há um venezuelano que assegura os funerais no Peru

Alex Pazuello / Semcom

-Pandemia do Covid-19 : sepultamentos no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, Brasil

Ronald Marín é a última esperança para os habitantes de Comas, em Lima. O venezuelano é o único que realiza funerais católicos num cemitério longe do centro da capital, em plena pandemia.

Vestido com uma túnica branca e calçado com uns sapatos já gastos pelo pó, o homem de 30 anos de idade caminha todos os dias por uma estrada de terra que está coberta de túmulos.

Quando as autoridades peruanas calculam que mais de um quarto da população do país esteja infetada com o novo coronavírus, Marín é um dos poucos representantes da igreja católica que permanece perto deste local.

“O que faço é tentar que as pessoas encontrem a esperança“, conta Ronald, que abandonou o seu país em 2018. Na Venezuela foi professor, administrou a sala de jantar de uma paróquia local e visitou doentes. Agora fez os votos de castidade, pobreza e obediência e sente que o dever, no país que o acolheu, o chama.

Segundo o “The Washington Post“, devido ao fecho das igrejas católicas no Peru, por receio de contágio, já não há a possibilidade de visitar locais de culto. Marín acredita que o seu dever é visitar os doentes, dar apoio aos cemitérios e rezar com os membros da família das vítimas.

Quando chegou a Lima, vendeu café nas ruas e dormia numa garagem de automóveis. Passado pouco tempo conheceu um padre que viria a encarrega-lo desta missão.

O seu telemóvel, quase uma antiguidade, toca todas as manhãs: são chamadas e mensagens de habitantes locais que procuram saber se estará presente no cemitério para realizar funerais a pessoas que partiram.

A simplicidade das palavras que outrora usava nas aulas que lecionava, aproximam-no agora dos moradores da cidade. No percurso não dispensa a companhia de um livro, uma cruz de prata e um aspersor de cobre que transporta água benta, instrumentos que usa durante o culto ao falecido.

Ronald Marín chega antes do meio dia e só sai do cemitério de Comas depois da meia noite. Este local, que se localiza entre duas colinas desertas, tem mais de um século de existência. Não tem luz elétrica, mas nem isso detém o jovem, que só abandona o local quando já não há mais corpos para enterrar.

No tempo em que não está a tratar dos mortos, Ronald dedica-se a ensinar catecismo a filhos de habitantes locais, para que estes possam ser batizados e fazer a comunhão.

O venezuelano deixou o seu país depois de mais de uma década a contestar o regime socialista. Em 2018, foi infetado com tuberculose e viu-se obrigado a emigrar com o objetivo de se alimentar melhor.

O destino de Ronald reflete-se também em mais de 800 mil migrantes que rumaram até ao Peru, em busca de melhores condições de vida.

O Peru tem a maior taxa de mortes por milhão de habitantes na América Latina, sendo superior à de países como o Brasil, Chile e EUA. Até ao momento, há 395 mil pessoas infetadas com coronavírus, e 18 mil pessoas morreram com a doença que este provoca.

AMM, ZAP //

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